A maioria dos portugueses está “muito preocupada” com as alterações climáticas, segundo os resultados de um inquérito realizado em Lisboa, inserido num debate global sobre o clima, que envolveu, no sábado, cidadãos de dezenas de países.
Os resultados foram hoje divulgados por Luísa Schmidt, do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, que, em conjunto com Ana Delicado, organizou o debate em Portugal.
Estes resultados mostram que 56% dos portugueses estão “muito preocupados” com as alterações climáticas, 43% estão “preocupados” e apenas 1% não se mostraram preocupados.
A iniciativa, iniciada pelo governo francês, tinha como objetivo reunir no sábado, em simultâneo, 100 cidadãos por 100 países para que pessoas comuns pudessem debater e apresentar soluções para as questões climáticas, tendo em vista a realização, em dezembro, da conferência das Nações Unidas sobre o clima, na qual os países tentarão chegar a um novo acordo que substitua o protocolo de Quioto.
Em Portugal, foram 120 os cidadãos participantes escolhidos pelo ICS, de acordo com critérios de representatividade da sociedade portuguesa, “que vieram de todas as regiões, de todas as idades, de quase todas as profissões e também de todos os ‘status’ sociais e graus de educação diferentes”, explicou a investigadora.
No final dos debates organizados por grupos, os cidadãos responderam a um inquérito cujos resultados vão ser agora enviados ao Governo e inseridos nos resultados globais que serão enviados aos decisores políticos presentes na cimeira.
“A questão interessante é que 81% os inquiridos em Portugal, ao contrário dos outros países onde já obtivemos resultados, não sentem as alterações como uma ameaça, mas sim como uma oportunidade para melhorar a qualidade de vida”, explicou Luísa Schmidt.
Para melhorar essa qualidade de vida, a grande medida, escolhida por 57% dos inquiridos, sugere que se devem dar subsídios às fontes de energia com baixa emissão de carbono, como as energias eólica, solar, de ondas do mar e geotérmica.
Por outro lado, 32% sugerem que se deveriam cortar os subsídios aos combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão.
Os inquiridos defenderam também mais apoios para a investigação sobre energias mais eficientes e a adoção de sistemas de transporte público menos poluentes.
Do ponto de vista da responsabilidade, 84% considera que os resultados das negociações do clima levados a cabo pelas Nações Unidas não foram suficientes e que a conferência de Paris deve fazer muito mais para evitar a subida das temperaturas.
“Quando se pergunta o que é que acham relevante para combater este problema desde já, os portugueses dizem que é sobretudo a criação de programas de educação sobre alterações climáticas e a energia”, salientou.
Cerca de 60% reconhecem que as alterações climáticas não são uma prioridade, mas defendem que o deveriam ser, mesmo que outros países não assumam compromissos nesse sentido.
Em relação ao acordo de Paris, 95% concordam que os países deveriam assumir um compromisso forte contra as alterações climáticas e que as Nações Unidas deveriam ter mais autoridade para fazer aplicar esses compromissos.
De acordo com a agência France Presse, que divulgou hoje à tarde os resultados globais de 75 países participantes, quase 80% dos cidadãos dizem estar “muito preocupados” com os impactos do desregulamento do clima e mais de 71% consideram que as negociações climáticas feitas no quadro da ONU, desde 1992, “não fizeram o suficiente” para atacar o problema.