Num rascunho da encíclica papal sobre o ambiente, divulgado esta segunda-feira, o Papa Francisco defende uma “diminuição drástica” das emissões de carbono e a necessidade de adotar uma política ambiental mais radical de modo a superar os interesses económicos de certos grupos.
A publicação da encíclica, um documento doutrinário dirigido a todos os bispos da Igreja Católica e que é também uma mensagem para todos os católicos e não só, está prevista para quinta-feira, mas uma primeira versão foi divulgada esta segunda-feira pela revista italiana L’Espresso. O Vaticano alertou para o facto de o texto publicado pela revista italiana ainda não ser o definitivo. Contudo, o rascunho oferece uma imagem clara da posição de Francisco em relação à preservação do meio ambiente.
Nesse texto, o Papa critica os acordos firmados no passado, defendendo que estes foram frustrados pela “recusa dos poderosos e pelo desinteresse dos outros”. Para o sumo pontífice, a “recusa”, a “indiferença”, a “resignação confortável” e a “fé cega na tecnologia” têm “bloqueado as soluções”, sendo necessário fazer um esforço para encontrar uma solução para a questão ambiental.
Os que “têm mais recursos e poder económico ou político parecem estar apenas focados em disfarçar os problemas e em esconder os sintomas”, defende o Papa. “Estão apenas a mitigar os impactos negativos da alteração climatérica”.
De acordo com Francisco, “a submissão da política à tecnologia e às finanças é provada pelo fracasso das cimeiras globais do ambiente”. É, por isso, necessário agir. No mesmo texto, o Papa apela a todas as pessoas — cristãos e não cristãos — para que mudem o seu modo de vida. “A humanidade tem de ter consciência da necessidade de mudar a maneira de viver, de produzir e consumir”, escreve o sumo pontífice.
Na encíclica, com o título Laudato Si (latim para Louvado Seja), o Sumo Pontífice refere ainda que o aquecimento global tem sido principalmente provocado pela “atividade humana”. Isto apesar de reconhecer que existem outros fatores que podem influenciar as alterações climáticas, como as erupções vulcânicas.
“Inúmeros estudos científicos indicam que, nas últimas décadas, o acontecimento global se deve a uma maior concentração de gases de efeito de estufa (dióxido de carbono, metano, óxidos de nitrogénio e outros), criados principalmente pela atividade humana”, refere o Papa.
No texto também se defende a substituição dos combustíveis fósseis e o desenvolvimento de fontes de energia renovável.
A publicação do texto pela L’Espresso não deixou de causar debate no Vaticano, refere o Financial Times. Segundo o jornal La Stampa, a divulgação da encíclica deve-se a fações conservadoras, que estão a tentar enfraquecer a imagem do Papa. “Existia um objetivo duplo: enfraquecer a mensagem da encíclica, que critica fortemente as políticas ambientais dos países hegemónicos, e atacar a imagem do pontífice“, escreveu o Stampa.
Durante a missa de domingo no Vaticano, o Papa referiu-se à publicação da encíclica dizendo que esta convida à “renovação da atenção sobre a degradação ambiental e a sua recuperação em cada território”, refere o Globo. “Esta encíclica está dirigida a todos que possam receber sua mensagem e crescer na responsabilidade para a casa comum que Deus nos confiou”, acrescentou Francisco.