O banco central grego avisou esta quarta-feira, pela primeira vez, que a Grécia pode estar a entrar num “caminho doloroso” rumo ao default e à saída do euro. No seu relatório anual sobre a política monetária, o regulador grego alerta para o facto de a crise se poder tornar “incontrolável”, numa altura em que o Governo grego e os credores internacionais se culpam mutuamente pelo falhanço das negociações, que deviam ficar concluídas até ao final deste mês.
Sem acordo, o banco central admite que a recessão pode acelerar e alerta para as consequências. “O fracasso das negociações para um acordo marca o início de um doloroso caminho que pode levar, primeiro, ao incumprimento de pagamentos e, em última análise, à saída da Grécia do euro ou, mais ainda, à saída da União Europeia”, lê-se no relatório.
#BREAKING Greece will likely exit euro and EU without bailout deal: central bank
— AFP News Agency (@AFP) June 17, 2015
Segundo o Wall Street Journal, o relatório constitui um apelo ao Governo de Alexis Tsipras e aos credores internacionais para superarem as diferenças entre eles, que o regulador considera não serem intransponíveis, apesar de nenhum dos dois lados parecer disposto a ceder. “Chegar a um acordo com os nossos parceiros é um imperativo histórico que não podemos ignorar”, continua o banco central que é presidido por Yannis Stournaras, antigo ministro das Finanças do anterior Governo conservador de Antonis Samaras.
Para o Banco da Grécia, a crise das dívidas seria “gerível” com a “ajuda dos nossos parceiros”, mas pode agora entrar num efeito “bola de neve” e transformar-se rapidamente numa “crise incontrolável com elevados riscos para o sistema bancário e para a estabilidade financeira”.
Um cenário de incumprimento e falta de acordo com o FMI, a Comissão Europeia e o BCE, implicaria, segundo alerta o relatório, uma profunda recessão, um aumento “exponencial” da taxa de desemprego e um colapso daquilo que a economia grega conquistou ao longo dos anos desde que pertence à União Europeia e, em especial, à zona euro.
Falando durante a apresentação do relatório no Parlamento, o governador do Banco da Grécia congratulou-se com a aproximação entre o Governo grego e as instituições sobre a necessidade de rever em baixa os objetivos de excedente primário, e considerou “da mesma importância precisar a intenção dos parceiros para reestruturar a dívida”.
O relatório do Banco da Grécia sublinha ainda que a incerteza dos últimos dois trimestres teve consequências nefastas para a economia grega e confirma que no período desde outubro de 2014 a abril deste ano saíram do sistema bancário grego “quase 30.000 milhões de euros”, que em boa parte ficaram em mãos de particulares.
O relatório conclui com uma série de propostas para a elaboração de uma política de crescimento, que deveria continuar as reformas estruturais, fortalecer a criação de emprego para fazer frente à alta taxa de desemprego, adotar um fiscalidade estável e manter o ritmo do gasto público. E sublinha que o excedente primário deve ser conseguido “através de medidas estruturais e não com medidas que aumentem os impostos”.
Pede também para ter atenção à sustentabilidade do sistema de pensões “com a redução das exceções que há nas regras gerais”, aludindo, por exemplo, às reformas antecipadas.
O governador concluiu ainda que com o apoio dos parceiros se pode acelerar o procedimento para que o país possa regressar a financiar-se nos mercados e sublinhou que o novo programa deve incluir a promessa que os parceiros fizeram em novembro de 2012, incluída no segundo resgate, de reestruturar a dívida.