60 euros por dia, todos os dias, dariam 1800 euros no final do mês. Não parece assim tão pouco, mas para muitos dos gregos que tentam por estes dias passar numa caixa multibanco e levantar o máximo que o seu Governo lhes permite, a tarefa não é assim tão simples.

Em Atenas, o Observador fez a experiência e acompanhou muitos dos gregos numa simples tarefa que cada vez mais se está a transformar numa tarefa hercúlea. Em quase todas as caixas que visitámos, pelo menos 10 a 15 pessoas esperavam na fila.

A fila ia crescendo e em muitas destas caixas nunca esperámos menos que 25 minutos para conseguir chegar finalmente à altura de levantar dinheiro. Com o tantas pessoas a tentar levantar dinheiro, o sistema dos bancos ia ficando mais lento. Pelo meio, havia quem desesperasse e os bancos pediam calma, explicando que era preciso voltar a meter notas nas caixas devido a tanta afluência.

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Eyodoxia, 27 anos, trabalha numa loja de roupa perto da movimentada Monastiraki, e à porta de um Eurobank, tenta levantar dinheiro para si, para o seu pai e para a sua mãe, passava pouco das 15:00 em Atenas. Há mais de 25 minutos à espera, Eyodoxia desespera: “Deixaram-me sair do trabalho porque sabem que preciso de levantar dinheiro para os meus pais. Mas não posso ficar mais tempo fora. Já esteve pior, mas se chegamos tarde já não conseguimos dinheiro, ou pelo menos o dinheiro todo”.

Eyodoxia fala em “todo o dinheiro” porque muitas das caixas multibanco do centro de Atenas, devido à afluência e ao valor retirado (os 60 euros de limite), já não tinham notas inferiores a 50 euros para dispensar. O resultado? Nem todas as pessoas conseguiam retirar o seu já limitado valor diário de levantamento.

Das sete caixas multibanco que visitámos, apenas uma conseguia dispensar notas que não de 50 euros. Outras duas, ainda ao início da tarde, já não tinham qualquer nota para dispensar. Nas restantes, só notas de 50 euros. Todas estavam cheias.

“Nem 60 euros consigo levantar. Ontem já não consegui levantar dinheiro. E agora faço o quê? Como do caixote do lixo?”, diz Yannis, de 42 anos, visivelmente irritado, depois de esperar chegar a uma das caixas que não tinha mais notas de qualquer espécie para levantar.

O cenário é idêntico em muitas outras. As que têm dinheiro, têm filas grandes e câmaras de jornalistas da televisão, que tentam acompanhar a situação, muitos deles de fora do país.

Desde domingo que o Governo decidiu impor um limite de 60 euros nos levantamentos de dinheiro por dia, por cada titular, para tentar limitar a fuga maciça de depósitos que tem acontecido nas últimas semanas, em especial na última. A medida não se aplica a transferências eletrónicas dentro da Grécia, mas limita as transferências para fora.

Ao Observador, um responsável de uma empresa grega, que pediu para não ser identificado, explica que existem outros problemas com o sistema que os bancos estão a tentar gerir e, que ao abrigo da atual lei, não deviam existir. Um desses exemplos, diz, tem-se verificado com os trabalhadores da sua empresa que estão fora do país: “Tenho muitos empregados que se viram com problemas para pagar com os nossos cartões no estrangeiro, onde estão em trabalho. Não era suposto acontecer. Falámos com o banco, que disse que estava a resolver. Para já, demos-lhes cartões de contas que temos no Reino Unido”.

E o que se passou? “O banco nunca nos disse. Continuamos sem saber o que se está a passar.”

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Tudo seria mais fácil se os pagamentos estivessem a ser feitos normalmente, já que os controlos não se aplicam a transferências de bancos estrangeiros para a Grécia e para pagamentos entre bancos gregos. Ou seja, em teoria, funcionariam os pagamentos normais com cartões nas lojas. No entanto, com receio da falta de pagamento de um banco para o outro e de não poderem levantar o dinheiro, alguns comerciantes só estão a aceitar dinheiro.

“Não aceito, nem vou aceitar. Prefiro ter algum dinheiro do que deixar o dinheiro no banco e não receber nada”, diz um comerciante ao Observador, que não quis dar a cara porque esta decisão é ilegal. “Enquanto assim estiver a situação, só aceito dinheiro.”

E os turistas? “Eles já não estão a gastar muito dinheiro aqui. As lojas estão vazias. Acho que têm medo de não conseguir ter dinheiro para o resto. Somos nós que sofremos mais”, desabafa.