O referendo grego tem de ser entendido como uma pergunta sobre se o acordo com os credores internacionais deve, ou não, ser aceite e não como uma questão à permanência da Grécia no Euro. Esta é a mensagem que o PS quer passar e, desta vez, foi Porfírio Silva, responsável pela comunicação dos socialistas, vir a terreiro deixar as coisas bem claras: o referendo não deve ser manipulado.
Na página do Facebook, o dirigente socialista denunciou a existência de aquilo que acredita ser “uma manobra (ou várias) para modificar politicamente o referendo” com um objetivo claro: “transformar o ‘Não’ ao acordo num ‘Não’ à Europa, pretendendo, assim, que para votar ‘Sim’ à Europa seria preciso votar ‘Sim’ ao acordo”.
Esta manobra de manipulação do referendo foi criada por certa direita europeia, envolvendo os mais altos responsáveis das instituições – e o governo grego, criando confusão nos últimos dias acerca da sua própria linha de ação e pensamento, facilitou essa manobra. É mau”, acrescentou, ainda, Porfírio Silva.
Este separar de águas de Porfírio Silva – o que se está a discutir é o acordo e não a permanência da Grécia no Euro – pode ser visto como uma tentativa de proteger o partido e de evitar a colagem ao Governo de Tsipras, ao mesmo tempo que se demarca das exigências dos credores internacionais.
Contudo, uma das pessoas que fez um dos ataques mais duros ao Governo grego e ao referendo foi o presidente do Eurogrupo, Jeoren Dijsselbloem, que pertence à mesma família política que o PS.
Ao Observador, o dirigente socialista preferiu não se alongar em esclarecimentos, mas fez questão de sublinhar que a crise grega e o papel de Portugal nas negociações em Bruxelas não devem analisados como se de “uma questão partidária” se tratasse, mas sim como uma questão do maior interesse nacional. “É importante que as coisas corram bem na Grécia. É importante para o Estado português, para as famílias e para as empresas portuguesas”, começou por dizer Porfírio Silva.
O responsável pela comunicação do PS acrescentou, ainda, que “independentemente de concordarmos com a justeza ou não de algumas medidas, essa não é a questão central”. O mais importante, sublinhou o socialista, é que se chegue rapidamente a uma solução, até porque se as negociações “correrem mal as coisas podem complicar-se” na Europa e também em Portugal.
Esta posição surge depois de Sérgio Sousa Pinto, também ele do Secretariado Nacional do PS, ter dito que “votaria ‘Não’ no referendo”. Em entrevista ao i, o dirigente socialista, mesmo reconhecendo que uma vitória do “Não” talvez representasse a saída da Grécia do Euro, o que seria “uma catástrofe”, diz que a proposta dos credores “não oferece nada” à Grécia, apenas a permanência num “ciclo perverso sem saída”.
“Não podemos aceitar que o euro se converta num instrumento de dominação de uns povos sobre outros. Sem prejuízo das ondas de impacto que resultariam de uma saída da Grécia do euro por toda a Europa, também era importante a Grécia poder demonstrar que a vida existe fora do euro, ao lado do Reino Unido e da Suécia. É importante que saibamos que temos sempre uma alternativa compatível com os nossos interesses de sobrevivência nacional e com a nossa dignidade nacional”, argumentou.
Tal como Porfírio Silva, Sérgio Sousa Pinto fez questão de explicar que a posição do PS não é “pró-Syriza” nem “pró-credores”. “Não nos podemos limitar a escolher um dos lados como se a situação não fosse complexa”.
Ou seja, nem os credores, como parceiros com mais poder nas negociações podem fugir à responsabilidade, nem o Governo grego deve ser encarado como “o parceiro mais fácil na negociação”. “Mas a verdade é que as propostas que tem levado à mesa das negociações podiam ter sido apresentadas por um governo social-democrata ou democrata-cristão”, atentou o socialista.