O português António Simões assume a 1 de setembro a liderança executiva do HSBC Bank, um dos maiores bancos do mundo, com sede em Londres. O banqueiro, que em entrevistas recentes disse que costuma definir-se como um “português gay, baixinho e careca”, já era líder da divisão britânica do banco e vai substituir Alan Keir no cargo de presidente.
António Simões, de 40 anos, tem um currículo de sucesso, comparável a poucos em Portugal. Passou pela McKinsey e pela Goldman Sachs, entrando em 2007 no HSBC. Foi em novembro de 2013 que foi promovido a presidente do banco HSBC no Reino Unido, liderando 50 mil pessoas e gerindo quatro mil milhões de dólares anuais de lucros.
Segundo contava o Público em 2013, é um Jovem Líder Global do Fórum Económico Mundial, organização não-governamental que todos os anos reúne milhares de líderes de todo o mundo em Davos para debater assuntos globais. E foi eleito o gay mais influente da área dos negócios pela rede OUTstanding numa lista publicada pelo Financial Times. António Simões é casado com um espanhol que trabalha na área da finança em Londres.
"If I wasn't #gay, probably I wouldn't be CEO of the bank," says #HSBC UK's Antonio Simoes: http://t.co/fL5RnIpswf pic.twitter.com/u9OQtYgD3p
— The Glass Closet (@GlassClosetOrg) May 14, 2015
É também membro fundador do Conselho da Diáspora Portuguesa, associação que o Presidente da República apoiou, de forma a juntar portugueses que vivem e trabalham no estrangeiro e procuram credibilizar a imagem de Portugal no exterior.
Numa entrevista a Anabela Mota Ribeiro, feita há cerca de um ano, Simões mostrava-se crítico sobre alguns traços do país: “Temos um sistema que é meritocrático ao nível da educação; o problema é que isso não se transmite para o mercado de trabalho. [Em Portugal], um presidente de um banco deve ser uma pessoa de 55 anos, homem, straight, com três filhos. (Temos pessoas fantásticas em Portugal e temos outras que não são muito boas, não é um comentário acerca dos presidentes que temos…) Os CEO das grande empresas portuguesas são todos iguais.”
Foi o melhor aluno do seu curso de Economia na Universidade Nova, com média de 18. Depois, rumou a Nova Iorque para tirar o MBA na Columbia University. Aí, sentiu-se o “small boy in the big town“, mas foi a chegada a Londres que lhe causou mais impacto – “Em Nova Iorque toda a gente está a tentar ser um new yorker“. Na cidade britânica, com maior diversidade de culturas, entrou no banco Goldman Sachs. Depois, podia ter voltado para a McKinsey em Lisboa, mas decidiu ficar quando lhe disseram: “Não que era um nobody, mas que this is a big risk“.
É filho único, de pais divorciados ligados à banca, na área dos seguros. Teve uma infância “normal e feliz” e sabia que era homossexual. Mas até aos 19 anos não tinha tido “abertura para falar com a minha família, com os meus amigos. Havia o sentimento de I’m not good enough” e quis “provar que era good enough, que era suficientemente bom”.
Em Columbia, foi professor assistente “porque a base académica que tinha de Portugal, numa licenciatura em Economia, era superior a todos os meus colegas”. “A muitas pessoas, em Portugal, não lhes falta ambição, mas têm vergonha de a assumir”, disse António Simões na entrevista.
Em relação à sexualidade, não acredita que “o que se passa dentro de portas fica dentro de portas”. “Qualquer pessoa, qualquer CEO de uma empresa em Portugal, tem uma fotografia da mulher e dos filhos no gabinete. As pessoas sabem quem é a mulher e os filhos”, conta António Simões. “Qualquer pessoa quer saber quem somos como indivíduos, o que é que nos motiva, como é que pensamos.”
Reconhece que este é um aspeto como qualquer outro e fala. “Falo do Tomás [marido], dos meus dois labradores, das férias. Falo muito pouco sobre homossexualidade como tema, mas falo muito sobre o Tomás. Falo como qualquer outra pessoa fala. Estou a tentar desdramatizar. Isto é bom para o negócio porque precisamos de líderes autênticos que liderem de forma autêntica, com pessoas que os queiram seguir. Isso é uma grande parte da minha marca de autenticidade. Toda a gente já se sentiu em algum momento um outsider. Não é uma questão de maiorias ou de minorias.”