A crise de refugiados na Europa continua a crescer. Esta quarta-feira, 2 de setembro, os refugiados e migrantes continuavam”presos” no exterior da estação ferroviária de Keleti, em Budapeste (Hungria). Com ou sem bilhete pago, os que não têm visto ou passaporte estão proibidos de viajar desde segunda-feira.

A situação vista por um turista

Walker Darke não faz parte do grupo, mas a situação não o deixa indiferente. O estudante da Universidade de Cantuária, na Inglaterra, decidiu passar as férias com os amigos a viajar pelo leste da Europa e tem ficado chocado com os refugiados que encontra nos países por onde passa. O jovem de 20 anos enviou fotografias ao Observador da situação que encontrou hoje em Keleti, Budapeste .“A primeiro coisa que reparei quando cheguei foi o cheiro. As condições de vida são degradantes. Não há água corrente e as pessoas estão todas umas em cima das outras,” diz Walker Darke.

Em Keleti, dois meninos atraíram a atenção deste turista. “Os rapazes, com cerca de 10 anos, interessam-se pelo pacote de gomas da Haribo que eu tinha na minha mão.” O estudante ofereceu os rebuçados aos rapazes e aproveitou a situação  para tentar conversar com a família com o pouco inglês que sabiam. “Pelo que percebi a mãe chama-se Manal e está a fugir da Síria. Diz que quer encontrar paz e segurança para si e para a família. Está com o marido e com os filhos e parece ter pouco mais de 30 anos.”

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Segundo Walker, a família chegou à Europa de barco. Passaram 20 dias a andar desde a Grécia até à Hungria, através dos territórios da Macedónia e Sérvia. As viagens de autocarro têm sido poucas, embora alguns condutores ajudem motivados pela generosidade. Apesar dos muitos quilómetros percorridos, a viagem está longe de chegar ao fim.

“A história da família de Manal é partilhada por muitas das pessoas com quem falei”, continua Walker. O objetivo é chegar à Alemanha e ao campo de refugiados que acreditam estar à sua espera. “Parecem ignorar as revoltas que estão a ocorrer nesses campos sobrepovoados”.

Walker perguntou porque não querem ir antes para Inglaterra, onde vive. “Riram-se de mim. Disseram que não têm dinheiro para chegar ao meu país e que a Alemanha está mais perto.” Na fotografia que Walker enviou ao Observador, o filho de Manal tem uma cicatriz no nariz.

5 fotos

“A mãe disse que foi atingido pelos estilhaços de um bomba. Foi o motivo pelo qual abandonaram a Síria. Vêm da cidade de Deir ez-Zor que está cercada pela ISIS. Manal diz que está quase tudo destruído”, reconta Walker. Contudo, a situação que a recebe na Hungria não é boa. O jovem cita Manal: “Budapeste é de longe o pior sítio em que estive. Não há água corrente e não há comida para nós. Temos fome. Quando estivemos em Belgrado [Sérvia], notava-se um esforço para nos darem de comer e beber. Aqui não há nada.”

No interior da estação, o estudante inglês diz que apenas viu pessoas brancas, “Alguns seguranças confirmam no teu passaporte se és sírio e comentam a tua aparência. É ridículo. Há uma grande presença policial, mas as autoridades não fazem nada para ajudar”. O Observador perguntou ao Walker a reação dos restantes turistas. O jovem disse que acha que a maioria está em choque, “Eu fiquei. A maioria passa sem olhar muito. Não param. Acho que o grande número de refugiados é intimidante.”

Quando Walker deixou Budapeste, rumo a Bratislava (Eslováquia), as centenas de migrantes continuavam à espera. De acordo com um porta voz do governo, a Hungria apenas está a respeitar a lei da União Europeia que obriga todos os que querem viajar para o interior do espaço Schengen a ter um passaporte e visto válidos. Mais de 150,000 refugiados e migrantes têm chegado da Hungria este ano numa tentativa de escapar à guerra. Segundo o Guardian, o número de pessoas a acampar no exterior da estação de Keleti ronda os 3,000: dormem ao relento, perto da entrada principal, à espera de poder viajar.