Ao longo de uma semana, o Observador publicou os concertos de música e os espetáculos para os quais vale a pena comprar bilhete, o cinema e as séries de televisão que não deve deixar fugir, os discos que vão sair em breve e os livros de leitura imperdível. Este é o apanhado do mercado literário.
Em 2010, a revista Time fez capa com Jonathan Franzen. Na descrição, três palavras: “grande romancista americano”. Não é por isso de estranhar que, quando o autor de Correcções lança um novo livro, o mundo literário toma atenção. Purity teve lançamento internacional a 1 de setembro e já chegou às livrarias portuguesas, cortesia da Dom Quixote. Publicado cinco anos depois do último Liberdade, este é o quinto romance de Franzen. O título não tem tradução para português porque é o nome da personagem principal, uma jovem acabada de sair da universidade, munida de capacidades mas perdida entre os caminhos do futuro e uma dívida de 130 mil dólares em empréstimo escolar que asfixia tantos recém-formados americanos.
Falando em grandes romancistas americanos, mas não propriamente em novidades internacionais, a 22 de setembro será publicada A Lição de Anatomia, de Philip Roth. Apesar de ser a primeira edição em Portugal, o eterno candidato ao Nobel da Literatura lançou-o em 1983, tendo sido o terceiro livro com Nathan Zuckerman como personagem principal.
Afonso Cruz tem um novo romance e, desta vez, deixou de lado os títulos compridos. Flores chega a 23 de setembro às livrarias pela mão da Companhia das Letras e o escritor, ilustrador e músico apresentou-o como “um livro sobre a memória”. O melhor é avisar já o leitor de que corre o risco de dar por si a repensar a forma como encara a rotina e a prestar mais atenção a todas as primeiras vezes por que passa na vida. Deixe-se levar, que não se vai arrepender.
No mesmo dia e pela mesma editora sai O Drible, romance do brasileiro Sérgio Rodrigues que recebeu em dezembro o Grande Prémio Portugal Telecom 2014. Sérgio Rodrigues conta a história de um antigo jornalista desportivo dos anos dourados do futebol brasileiro que, aos 80 anos, já no final da vida, decide reaproximar-se do filho com quem tinha deiado de falar há mais de 20 anos. As histórias dos grandes craques brasileiros daquele tempo ocupam as conversas que tentam recuperar os laços perdidos.
A 25 de setembro, a Tinta-da-China publica Uma História da Curiosidade, do escritor de origem argentina Alberto Manguel. O livro saiu este ano pela Yale University Press, que o descreve como “o livro mais pessoal de Manguel”, no qual “traça o mapa da sua própria vida intelectual e literária”. O que não é dizer pouco.
Com o primeiro romance, lançado em 2011, A.D. Miller foi finalista do Man Booker Prize. A segunda obra, O Casal Fiel, chega agora pela Jacarandá, recheado de elogios – “um exame lúcido à amizade masculina”, escreveu o Guardian. A história passa-se em 1993, na Califórnia, e segue o percurso de Neil Collins e Adam Tayler, dois jovens britânicos prestes a atingir a idade adulta.
No fim de setembro será possível ler as últimas palavras escritas por Stéphane Charbonnier, ou Charb, diretor do semanário satírico Charlie Hebdo, dois dias antes do atentado terrorista que he custou a vida. Em Carta aos Escroques da Islamofobia Que Fazem o Jogo dos Racistas, argumentava que todas as religiões, incluindo o Islão, podem ser alvo de satirização em França. Sai pela Bertrand Editora.
João Afonso, irmão de Zeca Afonso, publicará pela Sextante Editora O Último dos Colonos. Mais do que as memórias de infãncia e adolescência da família, é o retrato da sociedade portuguesa dos tempos da ditadura e da vida em Timor no início dos anos 1940, onde a família conviveu com a chegada da II Guerra Mundial à ilha administrada por Portugal.
Voltando à ficçao estrangeira, a Quetzal faz sair em setembro Talvez Esther, a estreia literária da ucraniana Katja Petrowskaja que segue no encalço da sua família numa Europa que a Guerra e o Holocausto fizeram desaparecer.
Pela Tinta-da-China vai ser publicado, em outubro, Regressos quase perfeitos: Memórias da guerra em Angola, da antropóloga Maria José Lobo Antunes. A filha do escritor António Lobo Antunes recolheu diversos testemunhos de ex-militares do batalhão no qual foi incorporado o seu pai, na década de 1960, em Angola.
Os 70 anos passados sobre o final da Segunda Guerra Mundial e a libertação dos campos de concentração nazis têm motivado várias publicações nos últimos meses. Até porque “a memória humana é um instrumento maravilhoso mas falível”, escreveu Primo Levi. Mas ainda há livros novos sobre o tema que vale a pena manter debaixo de olho até ao final do ano. A primeira é Assim foi Auschwitz, o primeiro relato escrito precisamente por Primo Levi (antes de Se Isto é um Homem) e Leonardo de Benedetti sobre as condições sanitárias e médicas do campo onde (sobre)viveram, a pedido do exército soviético. O relatório foi publicado em língua inglesa em 2006, mas o que vai sair a 9 de setembro em Portugal pela Editora Objectiva é uma edição italiana original que conta com 296 páginas, onde se incluem outros textos de Primo Levi sobre a experiência coletiva do Holocausto, como depoimentos em processos contra criminosos nazis e artigos publicados em jornais.
Outro livro essencial é KL – A História dos Campos de Concentração Nazis, ao qual o The Wall Street Journal chamou “a história definitiva sobre o sistema alemão dos campos de concentração”. Nele, o historiador britânico Nikolaus Wachsmann clarifica muitas das confusões que vêm sendo feitas ao longo dos tempos no que diz respeito aos campos e às suas diferenças, bem como à diversidade das vítimas. KL – A História dos Campos de Concentração Nazis, desde a concepção, em 1933, até ao seu encerramento, na primavera de 1945, chega às livrarias a 8 de setembro, pela Dom Quixote.
A escritora chilena Isabel Allende está de volta ao romance com O Amante Japonês, história sobre um amor nascido durante a Segunda Guerra Mundial, abalado quando o Japão ataca Pearl Harbor e os Estados Unidos enviam os nipo-americanos para os campos de internamento. Mas nunca esquecido. Sai em outubro, pela Porto Editora.
Outubro não termina sem uma novidade de peso: o segundo romance de Harper Lee. Go Set a Watchman foi escrito em meados da década de 50, antes do icónico Mataram a Cotovia, que valeu à escritora norte-americana um Pulitzer. Lee pensava ter perdido o manuscrito há décadas, mas a amiga e advogada encontrou-o e a escritora norte-americana, hoje com 89 anos, decidiu publicá-lo. A Editorial Presença ainda não divulgou o título em português, nem o dia concreto da publicação, uma vez que a tradução ainda não está terminada. Mas quem esperou umas décadas pode esperar mais uns dias.
Em novembro chegarão nove contos inéditos do escritor português Valter Hugo Mãe. Ainda sem título, o livro vai ser ilustrado por artistas como Paula Rego, Graça Morais, Joana Vasconcelos, José Reis e Ana Aragão. Editado pela Porto Editora, terá prefácio de Mia Couto. No mesmo mês sai também um novo livro de ficção de José Luís Peixoto, Em Teu Ventre, pela Quetzal.
Ainda em novembro há que prestar atenção a Uma Rapariga é Uma Coisa Inacabada, romance de estreia da irlandesa Eimear McBride ao qual o Guardian chamou de “clássico instantâneo”. O que não foi instantânea foi a sua publicação: durante nove anos, os editores recusaram-na pela exigente linguagem com que o livro está escrito. Felizmente, uma pequena editora inglesa resolveu arriscar e a aposta deu frutos (e prémios). Chega a Portugal pela mão da chancela Elsinore.
Artigo atualizado com o novo livro de Harper Lee.