A Grécia vai a votos no domingo, a segunda vez este ano, e, depois de meses de vantagens avassaladoras do Syriza, o resultado é agora imprevisível. De um lado Alexis Tsipras, que depois de uma intensa luta com os credores, luta agora contra o desmantelamento do seu próprio partido. Do outro, Evangelos Meimarakis, o substituto que não queria ser líder e que se arrisca a ser primeiro-ministro.

Chegou de fininho e nem sequer é o líder oficial. Agora, aos 61 anos e depois de uma vida dedicada à política, Evangelos Meimarakis arrisca-se a ser primeiro-ministro.

A carreira política começou nos anos 80, na juventude da Nova Democracia e foi deputado desde essa altura de forma ininterrupta. Chegou a ser presidente da Nova Democracia durante cinco anos, foi Presidente do Parlamento, um cargo institucional mas que não tem grande relevo em termos de aspirações políticas, e ministro da Defesa antes de a troika chegar à Grécia.

Quando Samaras saiu, Meimarakis herdou um partido no qual os eleitores não confiavam, depois de uma governação considerada por muitos como desastrosa, com a popularidade do seu principal adversário em alta, mesmo depois de Tsipras falhar quase todas as suas promessas eleitorais. Em julho, quando assumiu o posto, a Nova Democracia estava 25 pontos abaixo do Syriza nas sondagens.

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No entanto, as contas mudaram e o advogado encontra-se agora numa disputa intensa com Alexis Tsipras pelo cargo de primeiro-ministro, com a Nova Democracia e o Syriza empatados nas sondagens. Os seus apoiantes creditam-lhe a união das diferentes fações do partido, que depois de sucessivos fracassos, em especial nas legislativas e no referendo ao memorando de entendimento, tiveram derrotas estrondosas.

A subida nas intenções de voto deve-se, em muito, à implosão do próprio Syriza. Os meses de governação de Alexis Tsipras foram, no mínimo intensos, e depois de uma eleição com base em slogans como rasgar o memorando e expulsar a troika, Tsipras acabou por assinar um terceiro regate, bastante mais penalizador que as propostas originais até dos credores, as rejeitadas pelo seu partido.

Muitas promessas falhadas depois, mais um terceiro resgate que sempre disse que não ia acontecer, e depois de implementar o resultado completamente contrário ao voto popular no referendo de julho, Tsipras vê-se agora entre dois problemas: de um lado, as fações mais radicais que estão a abandonar o seu partido e o eleitorado que o escolheu com base em promessas que não conseguiu cumprir, do outro, uma viragem ao centro que não pode ser muito acentuada porque já lá está a Nova Democracia.

Evangelos Meimarakis aproveitou a posição mais delicada de Tsipras e foi atrás dos desiludidos. O resultado está à vista e o homem alto, de bigode característico que até se disponibilizava para se afastar para dar lugar a uma figura proeminente sem grande carreira política, pode chegar a primeiro-ministro… e quer governar.

A campanha é pelo senso comum, com um programa simples: cumprir o programa da troika, procurar consensos e recuperar a estabilidade na Grécia.

Meimarakis ainda tentou formar governo quando Tsipras pediu demissão e eleições antecipadas, mas não conseguiu apoio suficiente no Parlamento.

Desde então, boa parte da sua campanha tem sido feita com base na promoção de acordos. Meimarakis diz que quer estabilidade para cumprir o programa da troika na íntegra e que se ganhar vai tentar consensos com os outros partidos, incluindo o Syriza (que rejeita), para o fazer.

A forma como tem enfrentado Tsipras tem-lhe conseguido muitos pontos junto do eleitorado desiludido, tanto da Nova Democracia, como do Syriza e do PASOK. O mais recente debate entre os dois principais candidatos mostrou isso mesmo: Tsipras na retaguarda, Meimarakis bem-humorado e com respostas rápidas na ponta da língua.

Quando Tsipras o acusou de ser o representante do lobby conservador da corrupção e de valores antiquados, dos interesses instalados e escândalos, o líder da Nova Democracia respondeu de imediato qualificando Tsipras como o “primeiro-ministro dos 60 euros”, numa referência ao limite de dinheiro que os gregos podem levantar nas caixas automáticas devido aos controlos de capitais impostos pelo Governo de Tsipras. A qualificação pegou.

Agora, Meimarakis, que só deveria ser líder durante uns meses, até que a Nova Democracia realizasse um congresso para escolher o sucesso de Antonis Samaras, arrisca-se a ser primeiro-ministro.