Um bactéria resistente a antibióticos infetou nos últimos dois meses 30 pessoas no Hospital de Gaia. Do total de doentes infetados, oito morreram. No entanto, e como refere o Jornal de Notícias na sua edição impressa desta quarta-feira, o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E) explicou que não é possível confirmar se a causa da morte destes oito pacientes foi a bactéria, isto porque todos já apresentavam um quadro clínico de base grave. Por isso, o óbito pode estar relacionada com situações anteriores à infeção.

Margarida Mota, coordenadora do Grupo Coordenador Local do Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos do CHVNG/E esclareceu ainda ao JN que foram ainda confirmados outros 22 casos que não apresentam sintomas de maior gravidade. Sendo que 13 pessoas estão internadas.

Klebsiella pneumoniae é o nome da bactéria em causa. Por ser portadora de KPC, esta é altamente resistente a antibióticos. A fonte a partir da qual a bactéria se espalhou já terá sido identificada, explicou ainda Margarida Mota: “com base na análise dos dados atualmente existentes, o caso índex terá sido um doente do foro cirúrgico, com complicações pós-operatórias e com necessidade de vários esquemas de antibioterapia”, sendo que o fato de esse paciente se encontrar com uma ferida aberta “aumentou as vias de transmissão”.

O primeiro caso notificado em Gaia ocorreu no dia 7 de agosto. Dai para cá mais 29 pessoas foram contagiadas. Do total de 30 contágios, 22 são “portadores assintomáticos”, referiu a coordenadora.

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A bactéria pode ser transmitida de pessoa para pessoa através do contacto com fluídos e secreções. Esta situação obriga a cuidados redobrados principalmente durante a lavagem e desinfeção das mãos antes e depois do encontro com os pacientes e ao uso de máscaras de proteção por parte dos profissionais de saúde.

Por isso mesmo, e depois da confirmação do primeiro caso, o Grupo Coordenador Local do Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência dos Antimicrobianos do CHVNG/E, colocou imediatamente em marcha um plano de ação. Foi reforçada, por exemplo, a capacidade do Laboratório de Microbiologia, os casos confirmados e suspeitos foram colocados em isolamento, foi reforçada a vigilância epidemiológica e a Direção-Geral da Saúde foi informada sobre a estirpe.

Esta rápida ação do CHNVG/E já mereceu elogios. Em declarações ao JN, Merlinde Madureira, presidente da Federação Nacional de Médicos e especialista naquela unidade hospitalar, afirmou que “o comportamento do hospital foi exemplar.”

13 pessoas internadas. Duas merecem preocupação

A Coordenadora do Grupo Coordenador Local do Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobiano do Centro Hospitalar Gaia/Espinho disse ainda à Agência Lusa que estão internadas, em isolamento, 13 pessoas, mas apenas duas merecem maior preocupação.

“Dos 13 internadas em isolamento, dois têm quadros infecciosos, mas são doentes submetidos a cirurgias, que têm drenos e que, por isso, são mais vulneráveis. Têm dispositivos invasivos que favorecem a permanência da bactéria e o desenvolvimento de infeção. Por prevenção, classificamos como estando infetados com a bactéria”, afirmou.

Segundo a especialista, trata-se de uma bactéria presente na flora intestinal, que “desenvolveu ou recebeu um gene que lhe dá a capacidade de produzir uma enzima” resistente aos antibióticos.

“Torna-se preocupante quando passa para pessoas doentes, imunodeprimidas, com múltiplas comorbilidades. Dado que é resistente, tem uma alta taxa de mortalidade porque não temos sistemas de antibióticos adequados e eficazes para conseguir controlar a situação”, explicou.

Em declarações aos jornalistas, Margarida Mota sublinhou que, neste momento, “o risco de contágio baixou muito porque os doentes estão em regime de isolamento e estão a ser feitos rastreios a todos os contactos e aos doentes que tiveram contactos com infetados”.

“Estão sob medidas de vigilância até termos os resultados do rastreio. Todos os doentes que tiveram contacto com estes doentes são rastreados. É natural que para a semana possamos ter um número superior, mas porque os procuramos”, acrescentou.

De acordo com Margarida Mota, até este momento foram rastreados 44 doentes e estão em curso mais quatro rastreios, que vão no segundo dia. O rastreio é feito com colheitas de três dias.

A responsável garantiu que estão criadas todas as condições para prevenir novos casos, quer ao nível de locais de isolamento, equipamento de proteção individual e formação os profissionais