Ler manuais de instruções onde as palavras mais usadas são “dispositivo”, “componente”, “apetrecho”, “interface” ou “aviso” é normalmente tão excitante como ler os termos e condições de uso (que por isso mesmo nunca lemos) antes de carregar um novo programa no computador. A não ser quando essas palavras são aplicadas à atividade mais excitante que pode haver: o sexo.
É isso mesmo que acontece em Sexo, Livro de Instruções, um “guia para maximizar o prazer” que acaba de ser publicado e onde tudo é tratado como maquinaria, mas também com sentido de humor. Exemplos? Os mamilos são dispositivos de preliminares, os dedos são sensores táteis — “os mais habilidosos e versáteis dispensadores de prazer”, juntamente com a língua — e o órgão sexual é uma “componente de ativação do orgasmo”.
Felicia Zopol, a autora, colunista especializada com obra publicada dentro do tema, pergunta desde logo ao leitor se quer ajuda para ter sexo. E é isso mesmo que oferece ao longo de 200 páginas, recorrendo às ilustrações cor de rosa de Paul Kepple e Scotty Reifsnyder, mas não sem antes declarar:
“O sexo é uma das atividades mais excitantes, agradáveis e recompensadoras de que a raça humana dispõe — mas boa sorte para tentar encontrar informação fidedigna sobre o assunto. Para a maior parte das pessoas continua a ser um tabu, e por isso a nossa educação sexual vai aos tropeções, ora tentativa, ora erro, e com os eventuais enganos de um ou outro site.”
Sem tabus, o livro fala sobre tudo, do “interface oral (vulgo beijar)” que faz parte dos preliminares, à interação sexual avançada que pode incluir fantasias ou fetichismos — o capítulo mais kinky, onde a posição à missionário não entra — passando pela operação manual e oral dos genitais femininos e masculinos (longamente descritos), antes de se demorar na relação sexual propriamente dita, secção que tem direito a uma espécie de Kama Sutra com cerca de 50 posições ilustradas, mais ou menos complicadas e com nomes originais como “carrinho de mão” ou “cadeira de praia”.
À semelhança dos outros volumes da coleção de livros de instruções da Arte Plural – sobre grávidas, bebés ou cães e gatos – a linguagem meio mecânica, meio informática, é na verdade só uma forma original de dar informação bastante prática, em capítulos bem identificados e com índice remissivo. É por isso que, no meio do hardware e dos procedimentos, se respondem a perguntas como:
- Porque é que os homens adormecem depois do orgasmo ou ficam cheios de fome?
- O que é, onde fica e como se pode estimular o ponto G?
- Como aplicar lubrificante?
- Como colocar um preservativo e que outros dispositivos de proteção existem?
- Como escolher um vibrador?
- Qual a melhor forma de resolver problemas como, por exemplo, a ejaculação precoce?
A linguagem pode brincar com o facto de o sexo ser uma operação ou uma interface entre dois sistemas, mas longe deste livro de instruções querer tornar mecanizado algo que deve ser experenciado com bastante paixão e que varia de par para par. Por isso mesmo, no meio dos vários “avisos” e “dicas de especialista”, há também vários alertas para o facto de todas as pessoas serem diferentes e ser muito importante perguntar ao parceiro/a aquilo de que gosta.
Nem de propósito, no fim da lição estudada cada leitor tem direito a um diploma onde, em vez do nome da universidade ou a nota final, pode preencher a sua posição preferida e a sua fantasia sexual, assim como as da sua companhia de cama.