.Um alemão quis provar as discrepâncias dos métodos e critérios de censura do Facebook. Para isso criou uma imagem para testar a rede social, tendo a coragem que, segundo o próprio, nunca ninguém teve: “Juntar mamas ao racismo.”

Desafio feito, desafio aceite. Na imagem, o autor, Olli Waldhauer, aparece em primeiro plano sentado numa poltrona de bigode, com lábios em trejeito, numa expressão ameaçadora e com um cartaz castanho onde se pode ler em alemão “Kaufft nicht bei Kanaken” (Não compres nos [nas lojas] estrangeiros). Atrás está uma mulher, vestindo apenas umas cuecas pretas, com o peito (grande) descoberto e numa posição  provocadora.

Apesar da mensagem absolutamente explícita e clara, as subtilezas da mensagem vão muito mais além. A utilização da palavra “Kanaken” é exemplo disso mesmo. Esta expressão germânica é utilizada para designar (de forma xenófoba) os trabalhadores turcos, italianos, gregos, espanhóis e, agora, árabes. Mas, para além disto, a frase era o lema, utilizado em 1933, pelo regime nazi na sua campanha de boicote aos negócios judaicos na Alemanha. Mas há mais: o verbo “kaufft” está, neste caso, escrito com dois ‘f’, o que está errado, de acordo, com a conjugação do mesmo verbo. Aqui a intenção será a de representar a ignorância de quem profere a expressão.

foto censurada por facebook

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Continuando na análise da imagem, e olhando para o canto superior direito, está outra informação: “Uma destas pessoas atenta contra as regras do Facebook” acompanhada com a hashtag #NippenStattHetze (#mamilosemvezdeódio).

A experiência era tentar provar que o Facebook censura conteúdos considerados pornográficos deixando as frases xenófobas de lado. E assim foi. Como conta o El Confidencial, a fotografia foi censurada exatamente 21 minutos depois da sua publicação. E a razão, dada por um administrador da rede social a Waldhauer, foi de que a publicação continha nudez. O alemão não se ficou por aqui e voltou a divulgar a imagem. Várias vezes. Em todas foi retirada. Através da própria rede social, Olli explicou que “de manhã à noite, o Facebook apagou completamente o meu mural pelo conteúdo pornográfico.”

Ou seja, a informação presente na foto de que alguém atentava contra as regas da rede social ficou esclarecida. Era a mulher com o peito descoberto e não a frase no cartaz.

Em declarações ao diário alemão Süddeutsche Zeitung, o autor explica isso mesmo: “A frase racista, como estava previsto, não incomoda ninguém no Facebook. A minha fotografia não é só pornográfica. Também é racista.” Citado pelo El Confidencial, Olli diz ainda que “vivemos num mundo onde um peito nu é mais perigoso do que as proclamações xenófobas.”

Apesar da rápida censura da rede social a fotografia tornou-se viral. E mais rapidamente do que a atuação do Facebook. A imagem acumulou mais de 40 mil “gostos” e foi partilhada 25 mil vezes. Mas a internet tem destas coisas. Apesar de ter sido retirada, foi possível guardar a imagem por quem quis continuar a espalhá-la pela Internet. Por isso, Waldhauer calcula que um em cada três utilizadores alemães da rede social tenha visto a sua foto. No total, mais de 10 milhões de pessoas.