Mais um banco de investimento internacional a interrogar-se sobre as perspetivas políticas de Portugal. Uma equipa do Royal Bank of Scotland liderada por Alberto Gallo, uma das vozes mais influentes do mercado, conclui numa análise ao programa de governo do PS, apoiado pelos partidos à esquerda, que “ainda que o líder socialista, António Costa, prometa que o seu governo irá respeitar um défice de 2,8% em 2016, essa meta não parece ser realista tendo em conta as medidas de alívio orçamental planeadas”. Assim, o RBS recomenda aos clientes investir em Espanha em vez.

“Acreditamos que a crescente incerteza política poderá penalizar o processo de reformas daqui para a frente, o que levará a mais alargamento dos spreads, escreve o Royal Bank of Scotland em nota a que o Observador teve acesso. O título da nota, em formato interrogativo, à semelhança de outras como a do Commerzbank, é: “Portugal. O fim de uma história de sucesso?”.

Quando o RBS fala em alargamento dos spreads refere-se à diferença entre os juros de Portugal e da Alemanha (referência do mercado), um prémio de risco que subiu de menos de 175 pontos base no dia a seguir às eleições para 210 pontos agora. A estratégia de mercado que o RBS recomenda aos seus clientes é que se mantenham “neutros” em relação à dívida portuguesa, ao passo que em relação a Espanha e Itália os investidores devem aumentar o investimento, para tirar partido da possibilidade de o BCE reforçar as compras de dívida.

O banco de investimento faz uma análise aprofundada da evolução da economia portuguesa, em várias áreas, nos últimos anos. E conclui que, apesar de “Portugal ter sido, até agora, uma das histórias de recuperação mais bem sucedidas da periferia“, a economia “ainda está a sofrer de várias limitações estruturais” que tornam Portugal “vulnerável a alterações do sentimento do mercado”.

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Alberto Gallo é responsável pela estratégia macroeconómica no mercado de dívida.

Dois cenários. Os dois maus

O problema, diz o RBS, é que quando se olha para as opções ao dispor de Aníbal Cavaco Silva, “os dois cenários são maus no que diz respeito à execução de reformas”.

Governo de gestão? “A História sugere que um governo de gestão muitas vezes não tem ao seu dispor o mandato social e económico para tomar decisões estruturais”, diz o RBS. Além disso, “neste caso, o governo de gestão ficará no poder mais tempo do que o normal”.

Governo liderado pelo PS, apoiado pelas “posições conjuntas” à esquerda? Um governo esquerdista irá reverter algumas das reformas já executadas, aumentando o salário mínimo e retirando os cortes dos salários na Função Pública. O RBS nota que o PS irá, inclusivé, reverter algumas das reformas nas quais trabalhou com o PSD/CDS. Ainda que sejam positivas do ponto de vista social, “estas alterações podem ser negativas para as contas públicas”. “Ainda que o líder socialista, António Costa, prometa que o seu governo irá respeitar um défice de 2,8% em 2016, essa meta não parece ser realista tendo em conta as medidas de alívio orçamental planeadas”.