Mário Centeno recebeu nesta quinta-feira, no Ministério das Finanças, Jens Weidmann, o presidente do Bundesbank, o banco central alemão. O encontro serviu, além de uma apresentação formal, para discutir os planos do novo governo face às reformas estruturais e aos planos orçamentais de Portugal. Segundo apurou o Observador junto de fonte próxima, Jens Weidmann terá visto com bons olhos o primeiro ponto mas regressou a Frankfurt pouco tranquilo com os planos orçamentais – sobretudo por não haver intenção de cumprir a redução para 0,5% do chamado défice estrutural.

O encontro com Mário Centeno foi um dos pontos da agenda da visita de Jens Weidmann a Lisboa. Uma visita rápida, de menos de 24 horas, organizada pela embaixada alemã, e que começou com um encontro do presidente do Bundesbank com deputados de todo o espectro político e várias figuras da economia, incluindo economistas que ajudaram a elaborar o programa económico do Partido Socialista.

Segundo apurou o Observador, depois dessa receção na residência do Embaixador, Weidmann esteve com o ministro das Finanças Mário Centeno, que já na segunda-feira tinha sido formalmente apresentado aos seus colegas ministros das Finanças do Eurogrupo. Faltava conhecer o influente Jens Weidmann que, não sendo um político, tem grande poder no Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE).

Weidmann terá ficado agradavelmente surpreendido com os planos de reformas estruturais enunciados por Mário Centeno, cuja carreira também passou por um banco central – o Banco de Portugal. Mas o ministro das Finanças ter-se-á mostrado menos ambicioso na questão orçamental do que seria desejável (para o alemão) tendo em conta o nível elevado de dívida acumulada pelo Estado português.

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Se é plausível que se atinja o défice das contas públicas de 3% – que, recorde-se, não é uma meta mas, sim, um limite máximo – é visto como mais preocupante que o Governo português não faça tenções de cumprir a redução do chamado défice estrutural para 0,5%, como preveem as regras do Tratado Orçamental. O défice estrutural diz respeito não a uma medição efetiva do desequilíbrio das contas públicas, mas à luz da robustez potencial da economia (o PIB potencial) sem recessão.

Todos têm de respeitar regras, incluindo a Alemanha

A importância do respeito pelas regras orçamentais na Europa foi um dos temas em destaque no discurso que Jens Weidmann viria a fazer na sede do Banco de Portugal, em Lisboa, logo após o encontro com Mário Centeno. Weidmann salientou que, na sua intervenção, que é necessário regras para evitar que as “assimetrias” existentes na zona euro resultem em novas crises. Essas regras, note-se, não devem ser apenas para travar os défices orçamentais mas, também, para evitar excedentes da balança comercial demasiado elevados, como acontece com a Alemanha.

Quanto às reformas estruturais, designadamente do mercado laboral, Weidmann salientou que estas “têm de continuar” nos vários países da zona euro. O alemão constatou que alguns indicadores apontam para um menor “entusiasmo pelas reformas” em vários países europeus.

Sem querer “envolver-se na política, sobretudo na política de outro país que não o seu”, Jens Weidmann não quis enviar mais recados para o Governo português além da nota sobre a continuidade das reformas. Mas não deixou de medir o pulso a vários protagonistas políticos. E de deixar um alerta: “Uma das lições da crise é que aumentos salariais sem ganhos de produtividade” não são sustentáveis.