Mario Draghi “ergueu as expectativas para níveis demasiado elevados, deliberadamente, e tentou encurralar os outros governadores num canto”, disse à Reuters este fim de semana uma fonte “com conhecimento direto” do que se passou na reunião do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE) na última quinta-feira. Pelas declarações proferidas nos dias anteriores a esta reunião, cujos resultados dececionaram os investidores, o presidente do BCE ouviu “críticas duras, por parte de vários governadores“.

O reforço dos estímulos monetários anunciados na quinta-feira pelo BCE ficou aquém do que os analistas antecipavam, o que fez o euro subir mais de 3%, as bolsas caírem e os juros da dívida da zona euro voltarem a subir. Mas foi o próprio Draghi que alimentou, nos dias anteriores, as expectativas dos investidores. O prolongamento (mas não o reforço) do programa de compra de ativos e o corte de apenas 10 pontos base na taxa dos depósitos (para -0,3%) foram decisões que não corresponderam àquilo para que Mario Draghi tinha, nos dias anteriores, preparado os mercados.

Segundo uma fonte citada este fim de semana pela Reuters, o BCE só não anunciou medidas mais ambiciosas porque Mario Draghi não teve sucesso na sua estratégia de “encurralar” os outros membros do Conselho de Governadores através do aumento das expectativas dos mercados nos dias anteriores, com o objetivo de pressionar os responsáveis de modo a que estes não se atrevessem a dececionar os investidores.

Mas foi isso que aconteceu. Os outros governadores não só bloquearam mais estímulos como criticaram Draghi pelas declarações feitas nos dias anteriores. Os membros do Conselho de Governadores mais avessos aos estímulos defenderam, mesmo, que os mercados precisavam de um choque de expectativas porque se notam melhorias nas perspetivas económicas e os últimos números da inflação não estão a sair tão maus quanto se chegou a temer.

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Enfrentando uma oposição mais dura do que, eventualmente, previa, Mario Draghi optou por “um conjunto de medidas que fosse capaz de juntar uma maioria mais confortável. Medidas mais exóticas, portanto, não foram sequer propostas”, disse a fonte citada pela Reuters.

Constâncio: Mercados “precipitaram-se”

Vítor Constâncio tem, por sinal, uma leitura diferente do que se passou na semana passada. Para o vice-presidente do BCE, que deu uma entrevista à CNBC na sexta-feira, a instituição monetária apenas queria recalibrar as medidas de estímulos e não lançar uma nova ronda de estímulos monetários.

“A culpa é dos mercados”, afirmou Constâncio, sugerindo que “talvez alguns estivessem à espera de fazer algum dinheiro” caso fosse anunciado algo mais substancial.

As medidas que foram anunciadas foram “exatamente aquilo que foi proposto pelo Conselho Executivo” e são “aquilo que é adequado” neste momento, asseverou Vítor Constâncio.