Assim que a porta se abre surge uma outra parede feita de caixas. Uma pilha de embalagens de cartão que uma equipa apressada fecha com fita adesiva e identifica com moradas um pouco por toda a Europa. É um corrupio de encomendas com moradas nacionais e estrangeiras. Umas vão chegar, outras vão partir, porque os vestidos que estão dentro das embalagens têm “vê” de volta — são vestidos para alugar, segredo do negócio da portuguesa Chic by Choice, uma startup de sucesso que nos últimos meses conseguiu atrair um investimento de 1,5 milhões de euros e nomes como Paulo Mateus Pinto (presidente da La Redoute Iberia) e Nuno Miller (ex-responsável pela área tecnológica da Farfetch e atual responsável pelos canais digitais da Sonae).

A porta que se abre dá para o novo showroom da empresa na Rua Castilho, em Lisboa, pretexto para uma visita do Observador e onde por estes dias não há mãos a medir perante as encomendas de Natal e do réveillon. “Temos mais de mil vestidos em stock, sempre a rodar entre o nosso armazém e vários pontos da Europa”, explica Lara Vidreiro, cofundadora da marca juntamente com Filipa Neto.

Chic by Choice Lara Vidreiro e Filipa Neto (2)

Lara Vidreiro e Filipa Neto, as duas fundadoras de uma marca que hoje emprega 18 pessoas.

Atraídas pelo concurso de empreendedorismo Acredita Portugal, as duas amigas tiveram a ideia para o negócio a partir de uma necessidade própria: “Percebemos que estávamos a investir demasiado em peças que só usávamos uma vez e que com o mesmo dinheiro podíamos usar vários vestidos”, conta Lara, de 25 anos, pondo por outras palavras o gesto que várias mulheres conhecerão de empurrar para os confins do armário os vestidos que se usam (ou usaram) quando o rei faz anos. “Através do aluguer, e por uma fração do preço final [15%], conseguimos dar esta experiência a mulheres que são economicamente conscientes. Não quer dizer que não tenham dinheiro, mas podem ter outras prioridades, sejam os filhos ou as férias.”

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Do catálogo da Chic by Choice fazem parte marcas como Alberta Ferretti, Diane von Furstenberg, Elisabetta Franchi, Hervé Léger, Roberto Cavalli, Missoni, Matthew Williamson e Valentino, para citar as mais sonantes. Com mais ou menos zeros, para vestir criações destes designers em ocasiões especiais há uma regra de matemática simples: o valor do aluguer é calculado a partir do preço original de venda do vestido — para um aluguer de quatro dias, paga 15% do valor da etiqueta, para oito dias, paga 20%. “Na prática tem 85% de desconto no modelo de aluguer mais tradicional”, diz Lara. Isso significa que há vestidos a partir dos 50 euros, sendo que na encomenda está incluída a recolha por um estafeta, a limpeza a seco e qualquer reparo que seja necessário.

vestido Chic by Choice

Os vestidos são entregues num porta-vestidos e com um cabide de veludo. Havendo disponibilidade, segue um segundo vestido com o tamanho acima.

Como funciona?

Nas palavras de Lara Vidreiro, “o site funciona como o booking de um quarto de hotel”. A partir de qualquer ponto da Europa comunitária só tem de:

  • escolher o tamanho que veste;
  • indicar a data de entrega (como o envio demora 24 horas, a empresa aconselha que seja dois dias antes do evento);
  • escolher o período de aluguer (quatro ou oito dias);
  • escolher o vestido.

Pelo meio pode recorrer ao acompanhamento — gratuito — de uma stylist, tirar dúvidas num chat online ou filtrar a pesquisa por temas como o estilo, o tipo de manga e comprimento ou o decote. Só tem de ter em conta que os vestidos andam por todo o continente europeu e nem sempre estão disponíveis.

“Somos menos sazonais do que era expectável”, diz Lara Vidreiro. “A época de casamentos é cada vez mais espaçada e para além disso há os bailes de finalistas, as festas da empresa, as galas e a passagem de ano.”

Depois de apostar na Alemanha e no Reino Unido — responsável já por 70% do negócio ao fim de um ano online — a startup pretende também reforçar a sua presença em Portugal, um vestido de cada vez. No nosso país o conceito de aluguer pode “ainda não estar enraizado”, como diz Lara, mas as implacáveis redes sociais também vieram complicar a ginástica de repetir vestidos em festas e casamentos com convidados diferentes sem ninguém reparar.