Os primeiros 100 dias do segundo Governo Syriza na Grécia, que se celebram esta segunda-feira, revelaram as contradições entre as exigências do terceiro resgate financeiro e o programa “anti-austeridade” do partido de esquerda.

O segundo governo do líder do Syriza, Alexis Tsipras, saiu das eleições antecipadas de 20 de setembro, um mês após Tsipras ter anunciado a demissão para tentar recuperar uma maioria parlamentar que perdeu após a deserção da sua ala esquerda durante a discussão e votação, entre julho e agosto, do terceiro plano de resgate de cinco anos.

O acordo de princípio deste memorando foi assinado em 13 de julho para evitar a saída da Grécia da zona euro e Tsipras comprometeu-se na sua aplicação, apesar de reivindicar alguma margem de manobra para “suavizar” os custos sociais.

O plano está avaliado em 86 mil milhões de euros que devem ser entregues em três anos, em troca da aprovação de novas reformas e medidas de austeridade.

No escrutínio de setembro, o partido de Tsipras garantiu uma vantagem confortável (35,5% dos votos e 145 dos 300 deputados), repetindo uma maioria relativa e optando por se aliar de novo à extrema-direita soberanista dos Gregos Independentes (Anel, dez deputados) para formar um governo de coligação.

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Economia e refugiados foram os temas que Tsipras definiu como os principais desafios do seu segundo mandato. Mas o grande desafio está em saber se as medidas inseridas no terceiro resgate (após os anunciados em 2010 e 2012) vão resultar, e se a Grécia garante a retoma económica.

Os primeiros resultados não foram animadores, talvez pela aparente contradição nas opções programáticas. O primeiro-ministro grego disse que a sua principal aposta é acabar com a “lógica neoliberal” de obter o crescimento através da destruição dos direitos sociais, mas dispôs-se a aplicar as reformas do terceiro resgate, reformas essas que já originaram a convocação de duas greves gerais, com adesões irregulares, pelas centrais sindicais dos setores público e privado e pela central do Partido Comunista.

A Comissão Europeia já veio referir que a Grécia aplicou todas as reformas exigidas para obter uma parcela de mil milhões de euros, decidida pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade (MES). E em paralelo, Atenas também terá cedido à pretensão dos credores em voltar a incluir o FMI neste novo plano de resgate.