Os casos de infeção com o vírus zika foram aumentando na América do Sul desde maio de 2015. No início de dezembro já havia nove países com casos de infeção registados, referiu a Organização Pan-Americana de Saúde (PAHO). O aumento de anomalias nos recém-nascidos nas mesmas áreas onde a presença do vírus se faz sentir, faz desconfiar de uma ligação entre as duas situações. Mas que vírus é este de que mal se ouviu falar?
Por onde anda o vírus zika?
O vírus zika é aparentado com o vírus da dengue e, tal como este, é transmitido por mosquitos do género Aedes, que vivem normalmente em regiões tropicais. O vírus foi isolado pela primeira vez em 1947, em macacos-rhesus (Macaca mulatta) na floresta Zika do Uganda. Um ano depois foi encontrado em mosquitos Aedes africanus na mesma floresta e, no início dos anos 1950, em humanos.
O vírus zika é endémico de certas partes de África e Ásia e terá chegado à América do Sul em 2014, onde se registaram casos no Chile de fevereiro a junho. De maio a dezembro de 2015 alastrou-se a 18 estados brasileiros e a nove países sul-americanos – além do Chile e Brasil, também Colômbia, El Salvador, Guatemala, México, Paraguai, Suriname e Venezuela.
O vírus zika teve dois grandes surtos conhecidos, mas nenhuma morte associada até ao maio de 2015, referiu a PAHO. Num relatório de dezembro, a PAHO atribuía a morte de dois adultos e uma criança a este vírus.
- Abril a julho de 2007. Ilha Yap, Micronésia. 185 casos suspeitos, 49 confirmados e 59 prováveis. Cerca de 75 % da população foi infetada.
- Outubro de 2013. Polinésia Francesa. 10 mil casos registados, dos quais 70 foram casos graves
- 2014. Apareceu mais ou menos na mesma altura em várias ilhas do Pacífico: Polinésia Francesa, Nova Caledónia, Ilhas Cook e ilha da Páscoa (Chile).
Quais os sintomas e tratamentos para esta doença?
Os primeiros sintomas podem aparecer dois a sete dias depois da picada do mosquito que transporta o vírus e manifestam-se como uma leve febre e erupção cutânea. Podem surgir também conjuntivite, dores musculares e nas articulações. Mas apenas uma em quatro pessoas apresenta sintomas da doença.
As complicações neurológicas e autoimunes são mais raras, mas manifestaram-se no surto da Polinésia Francesa, em 2013, e parecem também estar a acontecer no presente surto no Brasil, como referiu um relatório do Centro Europeu de Controlo das Doenças (ECDC).
Você sabe diferenciar os sintomas de dengue, zika e chikungunya? Confira na tabela abaixo. Fonte: Governo de Goiás. pic.twitter.com/nthhaFTmNb
— Governo de SC (@GovSC) January 8, 2016
Apesar da principal forma de transmissão do vírus serem os mosquitos do género Aedes, o vírus foi encontrado no sémen e o contacto sexual pode revelar-se uma das vias possíveis de transmissão. Outra das possibilidades, embora remota, é pelo sangue, mas sem a intervenção do mosquito (como entre duas pessoas).
Sobre a possibilidade de transmissão de mãe para filho – quer durante a gestação, quer no nascimento – existe pouca informação, informou a PAHO, mas a transmissão na altura do parto é conhecida para outros vírus semelhantes, como o dengue e o chikungunya. Neste momento está em estudo esta via de transmissão e as consequências para o recém-nascido.
O Brasil já conta com 16 laboratórios para diagnosticar Zika. Saiba mais: https://t.co/ABaZR1m5CH pic.twitter.com/GHQ4vSdo84
— Ministério da Saúde ???? (@minsaude) January 7, 2016
A infeção com vírus zika pode ser detetada com uma análise de sangue, mas não existem medicamentos nem vacinas específicos para esta doença. O tratamento consiste assim em aliviar os sintomas manifestados pelos doentes, tendo especial atenção para que não fiquem desidratados.
O perigo para grávidas e bebés
Ainda não foi possível confirmar com certeza a relação entre o aumento de casos de zika e o aumento do número de crianças nascidas com microencefalia (diâmetro do crânio menor do que seria normal), apontou num comentário a revista científica Plos One. Aparentemente terão sido encontrados vestígios do ADN do vírus no sangue e tecido de uma criança com microencefalite e no líquido amniótico de duas grávidas cujos fetos tinham sido diagnosticados com microencefalite.
“Parece que a zika vai juntar-se à lista crescente de doenças tropicais negligenciadas que desproporcionalmente afetam a saúde reprodutiva feminina, como a doença de Chagas”, referiu o comentário da Plos One.
Até 30 de novembro de 2015 tinham sido reportados 1.248 casos de microencefalia – que corresponde a 99,7 casos por cada 100 mil nascimentos – que estavam a ser investigados. Esta prevalência mostra uma grande diferença em relação à de 2000 – 5,5 casos por cada 100 mil nascimentos – e à de 2010 – 5,7 casos por cada 100 mil nascimentos -, segundo o relatório da PAHO.
No entanto, os Centro de Prevenção e Controlo de Doenças norte-americanos (CDC) recordam que há outros motivos para a microencefalia nos bebés, como outras infeções, defeitos genéticos ou exposição a substâncias tóxicas durante a gravidez. Os CDC acrescentam que nem todas as crianças com o problema acusaram positivo no teste à infeção elo vírus zika. “Por estes motivos, vai demorar algum tempo a determinar a causa dos casos de microencefalite reportados no Brasil.”