O governo liderado por Alexis Tsipras volta a desafiar as políticas de austeridade e resiste a um corte adicional no valor das pensões na Grécia. Em entrevista ao Wall Street Journal, o ministro do Trabalho, Georges Katrougalos, defende que a melhor forma de preencher o gap do défice público é adotar medidas para estimular e não penalizar a economia. O responsável admite ainda que seria mais fácil negociar apenas com a Europa, ou seja, sem o FMI.

“Não devemos sobrecarregar a economia com mais medidas recessivas”, afirmou Katrougalos a propósito da reforma do sistema de pensões que é agora o principal foco de tensão entre Atenas e os credores europeus. A Grécia, assegura, está flexível para ajustar detalhes da proposta já apresentada, mas o responsável afasta novos cortes nas reformas em pagamento.

O sistema de pensões é a reforma prioritária para os credores do pais viabilizarem o novo resgate financeiro à Grécia este ano. Em causa está o défice financeiro do sistema e os elevados encargos que representa para o Estado. O executivo grego enfrenta nas próximas semanas negociações duras com as autoridades europeias e o Fundo Monetário Internacional (FMI) para alcançar um acordo neste dossiê sensível.

O ministro do Trabalho volta a invocar ideia de linha vermelha, retomando uma expressão usada pelo executivo liderado pelo Syrisa nas dramáticas negociações que conduziram ao terceiro resgate ao país, no verão passado.

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“Para nós, reduzir as pensões pela 12ª vez, é uma passar uma linha vermelha”, afirmou Katrougalos ao Wall Street Journal. Segundo o governante, as pensões médias na Grécia já sofreram cortes da ordem dos 40% em sucessivas medidas para cumprir as metas do défice público, desde que o país foi resgatado pela primeira vez em 2010. Segundo dados de Atenas, a pensão média caiu neste período de 1480 euros para 863 euros.

A proposta enviada às autoridades da zona euro e ao FMI para alcançar o equilíbrio no sistema de reformas passa pela racionalização dos fundos de pensões, pelo aumento das contribuições para a Segurança Social e pela redução das reformas futuras até 30%, protegendo os atuais pensionistas.

No entanto, estas propostas não devem chegar para convencer os credores da Grécia, em particular o Fundo Monetário Internacional e a Alemanha, que consideram o sistema de pensões grego demasiado generoso face a uma economia ainda muito frágil. Para Katrougalos, a insistência do FMI nos cortes de pensões está desalinhada com os valores europeus de uma rede social forte. O ministro assume que o Fundo, cujo envolvimento nesta discussão resulta da participação no último resgate grego, é o osso mais duro de roer nesta negociação.

“A nossa vida seria mais fácil se pudéssemos discutir apenas com os europeus, isto é claro”. No entanto, reconhece que para alguns credores europeus como a Alemanha, a participação do FMI é vista como fundamental para impor disciplina orçamental à Grécia.