A/C dos ministros responsáveis pela aquisição de faqueiros para o serviço de banquete do protocolo de Estado nos últimos meses.

Exclentíssimo senhor ministro,

Assegura-nos esta notícia da SIC que em apenas meio ano o Estado terá gasto quase 200 mil euros em faqueiros. Já o Diário Económico sobe a parada: segundo o título deste artigo o valor em questão terá ultrapassado os 300 mil euros. Na mesma linha, garante o Diário de Notícias que um único desses faqueiros terá custado perto de 100 mil euros. Concordará, é muita fruta. Perdão, faca. É muita faca.

Não terá lido as caixas de comentários de cada uma das notícias acima citadas. Compreende-se, tem mais que fazer. Além disso, ler caixas de comentários nunca fez bem a ninguém, pelo contrário. Mas podemos desvendar-lhe um pouco do conteúdo: não foram apenas os montantes e a origem dos faqueiros — eram portugueses, não eram portugueses? — a suscitar indignação. Foi também a frequência com que têm vindo a ser adquiridos. Partindo do princípio que os convidados do Ministério dos Negócios Estrangeiros não têm por hábito surripiar a cutelaria alheia, é natural que haja quem questione: será mesmo necessário comprar pratos, copos e talheres várias vezes ao ano para os apresentar sempre imaculados?

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No centro da polémica está um faqueiro como este, tipo D.João V. (foto: cml.pt)

A avaliar pelo que dizem os responsáveis do Eleven, um dos restaurantes com estrela Michelin contactados pelo Observador, não será inevitável entrar em despesas constantes nesta matéria. “A compra de talheres não fazemos desde a abertura do restaurante [em 2004] e loiça compramos mais ou menos de dois em dois anos, conforme as quebras.”

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Ora, quem já almoçou/jantou num restaurante com estrela Michelin — e o senhor ministro, porque é ministro, já o deve ter feito — sabe que a impecabilidade dos serviços de louça e cutelaria é uma necessidade básica. Quer saber como cumprem esse requisito, então, no Eleven? Com método: “Os copos são lavados à máquina e depois são polidos com pano de algodão”, explicam. Já os pratos são lavados noutra máquina, dedicada à loiça fina, “separados da restante”, antes de “serem polidos com álcool”. E os talheres de prata? “Também são lavados na máquina, separados da restante loiça e depois são polidos apenas em água quente.” Boas dicas, hein?

No Belcanto, onde as estrelas Michelin são a dobrar, as recomendações seguem a mesma linha. “Os produtos utilizados na limpeza e desinfecção das louças, copos e talheres são específicos para cada tipo de material”, referem.  Também aqui “as louças, copos e talheres são polidos manualmente, um a um”. Até a pré-lavagem é feita com tudo em separado, porque, como explica Mónica Bessone, assessora de comunicação do restaurante, um prato que esteja com gordura pode contaminar um copo ao entrar em contacto com este e retirar-lhe o brilho.

Por isso, senhor ministro, antes de voltar a encomendar loiças e faqueiros atente no que foi escrito. Lave cada tipo de loiça em separado — invista em boas máquinas, sai mais barato — e, importantíssimo, não se esqueça de polir. Um faqueiro polido é um faqueiro rejuvenescido.

Cordiais cumprimentos,