O Banco Central Europeu (BCE) “não hesitará” em lançar mais medidas de estímulo monetário na zona euro se for necessário. Mario Draghi, que esta segunda-feira está a responder às perguntas dos eurodeputados no Parlamento Europeu, garante que se a instabilidade nos mercados ou a quebra dos preços do petróleo levarem ao resvalar das expectativas de inflação – cujo controlo é o principal mandato do BCE – isso levará a novas medidas para estimular o crédito na zona euro.
“À luz da recente turbulência financeira, iremos analisar o estado da transmissão dos nossos impulsos monetários pelo sistema financeiro e, em particular, pelos bancos”, afirma Draghi em Bruxelas esta segunda-feira. Incluindo nessa análise da queda dos preços do petróleo, o presidente do BCE acrescenta que “se algum destes dois fatores representar riscos negativos para a estabilidade de preços, não hesitaremos em agir”. O BCE define estabilidade de preços numa taxa de inflação anual de perto de 2%, uma miragem nesta altura já que a inflação na zona euro ronda os 0%.
O BCE garantiu em novembro que os estímulos monetários – isto é, taxas de juro baixas e compras de títulos no mercado – estão a chegar à economia mas na última reunião do Conselho de Governadores houve um acordo para que, até à próxima reunião (março), sejam reavaliados os últimos indicadores económicos. Se, nessa altura, o BCE achar que é necessário reforçar os estímulos, eventualmente com um aumento das compras mensais de dívida, o BCE “não hesitará” em fazê-lo.
Porém, embora admita pressões negativas sobre a inflação da incerteza que se abateu sobre a banca europeia nas últimas semanas, Mario Draghi mostrou-se tranquilo:
A quebra dos preços das ações dos bancos foi amplificada por perceções de que os bancos podem ter de fazer mais para ajustar os seus modelos de negócio ao ambiente de crescimento mais baixo/taxas de juro baixas e ao enquadramento regulatório que foi instalado desde a crise. Contudo, temos de reconhecer que a reformulação regulatória introduzida desde o início da crise criou os alicerces para melhorar, de forma duradoura, a resiliência não só de bancos específicos como do sistema financeiro como um todo.
A confirmar-se, o reforço dos estímulos deverá resultar em mais quedas do valor do euro face às outras divisas e, por outro lado, maior compressão dos juros da dívida dos países da união monetária. Ambos estão a cair nesta sessão: o euro está a perder quase 1% face ao dólar, para 1,1147 dólares, e os juros da dívida de Portugal estão a baixar 20 pontos-base, para 3,54% nos 10 anos.