António Costa não diz claramente que quer a demissão de Carlos Costa, lembrando até que o Governo não tem poderes para demitir o governador do Banco de Portugal. Mas esta quinta-feira em Bruxelas, o primeiro-ministro reiterou a pressão que tem vindo a fazer e recusou-se a manifestar confiança no governador. Carlos César imitou o número: pressiona, com pinças. Mas o Bloco de Esquerda e o PCP, mais descomprometidos, são mais claros: há “falhas graves” na atuação, ou na “inação”, do supervisor e, se for preciso a “exoneração” do cargo, que seja.

Tudo começou na quarta-feira, quando o primeiro-ministro António Costa subiu o tom e criticou diretamente, em declarações aos jornalistas, a atuação do governador do Banco de Portugal na negociação sobre a situação dos lesados do BES. Esta quinta-feira, em Bruxelas, onde está para participar no Conselho Europeu, voltou a reiterar as críticas, recusando-se contudo a tocar no ponto da demissão lembrando que que o Banco de Portugal tem “estatuto próprio”, respondendo diretamente ao Banco Central Europeu – e não ao Governo.

“Não é uma questão que esteja na ordem do dia, o Banco de Portugal goza de independência e o governador goza de estatuto próprio, portanto não faz sentido colocarem-me essa pergunta”, disse Costa aos jornalistas quando questionado sobre se admitia a possibilidade de demissão do governador.

Mas nem por isso Costa, o primeiro-ministro, deixou de insistir na matéria, aumentando a pressão. “O que está na ordem do dia é que tarda em haver uma solução para aquilo que os lesados do BES têm direito a exigir. O que desejo é que o Banco de Portugal não adie por mais tempo aquilo que é o mínimo no Estado de direito, que é assegurar haja lugar às indemnizações que têm de haver”, disse, pedindo “rapidez”, “eficácia” e a garantia de que os direitos são “acessíveis a todos”.

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Esta quinta-feira, também o líder parlamentar do PS, Carlos César, aumentou o rol de críticas, acusando o regulador de “lentidão excessiva” e sugerindo mudanças: o “regulador deve ser mais regenerado” e mais proativo, mas o PS não quer mexidas “radicais”. Sobre a eventual saída de Carlos Costa, contudo, o PS não arrisca um sim, nem um não.

Essa pressão fica reservada para o Bloco de Esquerda e do PCP. Em declarações ao Fórum TSF esta manhã, a deputada bloquista Mariana Mortágua e o deputado comunista Miguel Tiago foram claros e convergentes na mensagem: houve “falhas graves” na gestão do caso dos lesados do BES, pelo que, “não temos nenhum problema em exigir que quem não foi capaz de cumprir o seu papel saia das suas funções”.

“Há uma sucessão de falhas graves por parte do governador do Banco de Portugal. Hoje há muito poucas instituições capazes de vir a público defender a atuação do Banco de Portugal pelas vezes em que devia ter agido e não agiu, pela forma como tratou o caso dos lesados do BES”, afirmava esta manhã a deputada do BE, acrescentando depois que, caso se vierem a confirmar as falhas, então o governador deve ser afastado do cargo.

“Não podemos premiar quem mostrou não cumprir bem a sua função mas também não temos nenhum problema em exigir que quem não foi capaz de cumprir o seu papel saia das funções que desempenha para que possamos encontrar uma equipa que o faça”, disse.

O mesmo reiterou o deputado Miguel Tiago, que insistiu no acesso ao relatório do Banco de Portugal sobre o caso dos lesados do BES. “O Banco de Portugal em alguns casos atuou mal, noutros casos nao atuou na medida do necessário. O Ministério das Finanças deve acionar os mecanismos que tem ao seu alcance para assegurar que o governador cumpre a sua função. Se for preciso a exoneração do atual governador esse é um dos recursos disponíveis”, disse.

Do lado da direita, a pressão é outra. Falando aos jornalistas também em Bruxelas, onde está no âmbito da campanha interna do PSD, Pedro Passos Coelho sublinhou que se estavam a passar “factos graves” em Portugal mas recusou-se a comentar o assunto fora do território nacional.

“Há factos que têm gravidade que se estão a passar em Portugal nessa matéria, não vou disfarçar”, começou por dizer quando questionado pelos jornalistas sobre as declarações de Costa sobre o governador. “É uma situação que tem gravidade e que precisa de ser devidamente respondida, mas não é aqui”, disse, remetendo para Lisboa mais esclarecimentos sobre a sua posição.