Entre outubro de 2013 e abril de 2014, a Polinésia Francesa enfrentou ou maior surto de zika até à altura. Dos 32 mil doentes que procuram assistência médica por suspeita de infeção com o vírus, 42 foram diagnosticados com a síndrome Guillain-Barré (SGB) – uma doença que afeta o sistema nervoso – entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014. Todos os doentes com SGB foram infetados com zika, como verificou a equipa de Van-Mai Cao-Lormeau, primeiro autor e investigador na Unidade de Doenças Infecciosas Emergentes no Taiti (Polinésia Francesa).
A maior parte dos doentes (88%) apresentaram sintomas da síndrome Guillain-Barré cerca de seis dias depois dos primeiros sintomas de zika, como febre, vermelhidão na pele, conjuntivite ou dores musculares e nas articulações. Embora em nenhum dos doentes com SGB tenha sido encontrado o vírus zika, 98% apresentava anticorpos contra o vírus e todos eles tinham anticorpos neutralizadores do vírus, comprovando assim uma infeção prévia.
Com o estudo agora publicado na revista científica The Lancet, os investigadores pretendiam perceber se os doentes que tinham tido dengue anteriormente – um vírus transmitido pelo mesmo mosquito e frequente naquela região – estavam mais suscetíveis à síndrome Guillain-Barré. A quase totalidade dos doentes com SGB apresentaram sinais de uma infeção anterior com dengue, o mesmo se passando com a grande maioria os doentes dos grupos controlo – um grupo de doentes que tinha procurado o hospital na mesma altura e um grupo de doentes que apresentou sintomas da infeção com zika, mas não desenvolveu a SGB. Assim, a dengue não parece ser uma fator que potencie o aparecimento da doença neurológica.
Não foram encontrados sinais de outras infeções, como com a bactéria Campylobacter jejuni, VIH (vírus da imunodeficiência humana), citomegalovírus, vírus Epstein-Barr ou vírus herpes simplex, descartando assim a possibilidade de haver outra infeção associada ao SGB nestes doentes.
Os sintomas da síndrome Guillain-Barré incluem fraqueza muscular e dores. Nos casos dos doentes que tinham uma infeção com zika, os investigadores viram os sintomas, em geral, desaparecer mais rapidamente. Contudo, os investigadores não encontraram os marcadores típicos da doença, sugerindo que o mecanismo do vírus zika para desencadear esta síndrome pode ser ainda desconhecido.
Assim, Arnaud Fontanet, co-autor e investigador do Instituto Pasteur em França, refere que, a provar-se esta associação, na América do Sul podem ser esperados vários casos de síndrome Guillain-Barré. Na Polinésia Francesa, e com os dados disponíveis, os investigadores calcularam um taxa de 24 pessoas com SGB por cada 100 mil doentes com zika.
A possível associação entre o vírus zika e a microcefalia e outros problemas neurológicos, como síndrome Guillain-Barré, levou a Organização Mundial de Saúde a declarar o surto de zika na América do Sul uma emergência de saúde pública de interesse internacional.