A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a possível associação entre o vírus zika e a microcefalia e outros problemas neurológicos uma emergência de saúde pública de interesse internacional (PHEIC), disse a diretora-geral, Margaret Chan, à saída da reunião desta segunda-feira.

“Os especialistas concordam que existe uma forte suspeita na relação causal entre o vírus zika adquirida durante a gravidez e a microcefalia, apesar de ainda não estar ainda comprovada científicamente”, disse Margaret Chan. “Todos concordaram na necessidade de coordenar esforços internacionais para investigar e compreender esta relação melhor.”

O Brasil reportou o primeiro caso de zika em maio de 2015 e desde aí que o número de casos e o número de países afetados não para de crescer. Paralelamente, também tem havido um número excecionalmente grande de casos de microcefalia e de outros problemas neurológicos. Prevendo que o número de pessoas infetadas possa rondar os três ou quatro milhões o Comité de Emergência da OMS (International Health Regulations Emergency Committee) reuniu esta segunda-feira.

Na conferência de imprensa depois da reunião, Margaret Chan disse que ainda não há confirmação científica de que o vírus zika cause microcefalia, mas o crescente número de casos de microcefalia e de outros problemas neurológicos são motivo de preocupação por si só. Estes problemas, que podem ou não estar associados ao zika, justificaram a declaração de PHEIC.

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“O vírus zika só por si não é uma emergência de saúde pública de interesse internacional porque sabemos que não apresenta uma condição clínica grave”, disse na conferência de imprensa David Heyman, professor de Epidemiologia de Doenças Infecciosas, na London School of Hygiene and Tropical Medicine. Tal como no caso do dengue ou do chikungunya, os sintomas do zika não são graves, só se dissemina onde existir o mosquito e apenas enquanto as pessoas não se tornarem imunes. Este surto de zika não se pode comparar ao que foi o surto de ébola.

David Heyman reforçou que é necessário definir orientações em relação ao estudo da associação entre zika e microcefalia e que a investigação deve ser reforçada, mas que não sabe quanto tempo é que ainda pode demorar. Já Margaret Chan lembrou que é são precisos métodos de diagnóstico melhores, mais rápidos e mais fiáveis.

Ainda que a associação entre zika e microcefalia ou outros problemas neurológicos ainda não tenha sido estabelecida, David Heyman defendeu que a declaração desta tarde vai ajudar a tomar medidas que se mostrarão importante caso a relação venha a ser identificada. Margaret Chan concordou que as medidas preventivas se justificam neste caso.

Por agora, as principais medidas de prevenção da infeção por zika passa por controlar as populações do mosquito e evitar as picadas, disse a diretora-geral da OMS. Em relação às viagens, Margaret Chan não vê razão para criar restrições na circulação de pessoas e mercadorias. Em geral as recomendações mantém-se iguais às que já tinham sido apresentadas.

Bruce Aylward, diretor executivo de grupo de Surtos e Emergências de Saúde da OMS, disse que foram libertadas verbas para fazer frente ao surto. Bruce Aylward reforça que mulheres em idade fértil e grávidas devem receber mais informação e aconselhamento.

O que é o Comité de Emergência?

O Comité de Emergência é composto por especialistas de vários países e serve para aconselhar o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre emergência de saúde pública de interesse internacional (PHEIC), refere um documento com perguntas frequentes sobre a reunião. O comité pronuncia-se sobre se a situação em discussão, neste caso o surto de zika, é um PHEIC, quando deve ser deixar de ser considerado como um e o que é que os países afetadas (e não-afetados) devem fazer em relação a isso. Mas a decisão final caberá sempre ao diretor-geral da OMS, neste caso Margaret Chan.

O que é uma emergência de saúde pública de interesse internacional?

O PHEIC é um “evento extraordinário que pode constituir um risco de saúde pública para outros Estados através da disseminação internacional da doença e que pode requerer uma resposta internacional coordenada”, conforme definido pela OMS. Para que um evento seja considerado um PHEIC tem de acontecer de uma forma inesperada, afetar a saúde pública de outros países além daquele onde aconteceu o evento e requerer uma ação internacional imediata.

Quantos países já apresentaram casos de zika?

São já 26 os países com transmissão autóctone do vírus – ou seja, quando a doença é passada a outras pessoas dentro do mesmo território -, segundo um comunicado do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla em inglês). Estes 26 países incluem não só os países afetados no continente americano, mas também Tailândia e Cabo Verde (que tem uma estirpe diferente do vírus). Existem, no entanto, mais cinco países que reportaram casos nos últimos nove meses: ilhas Fiji, ilhas Salomão, Maldivas, Nova Caledónia e Samoa.

Na Europa, 10 países já registaram casos importados – pessoas que regressaram dos países afetados com a infeção -, incluindo Portugal, Alemanha, Dinamarca, Espanha, Finlândia, Holanda, Itália, Reino Unido, Suécia e Suíça.

Atualizado às 20h00