Apesar de Lula ter dito que gostava de falar “especialmente com os deputados sobre o momento histórico que o país está vivendo”, o seu discurso publicado esta sexta-feira na sua página pessoal no Facebook tinha outro alvo: Michel Temer, vice-presidente do Brasil. O petista deixou uma série de recados a Temer sem citar o seu nome ao longo dos quase cinco minutos do vídeo, gravado no quarto de hotel em Brasília onde está hospedado.

Uma coisa é divergir de um governo, que tivermos erros, e cobrar mais diálogo. (…) Outra coisa é embarcar em aventuras, acreditando no canto de sereia dos que sentam-se na cadeira antes da hora. Quem trai um compromisso selado nas urnas não vai sustentar acordos feitos nas sombras”, diz, em forma de conselho aos deputados que votam no Congresso a continuidade do processo de impeachment.

O ex-presidente acredita que Michel Temer não terá legitimidade para governar, caso o mandato de Dilma Rousseff seja impugnado. “Derrubar um governo democraticamente eleito sem que haja crime de responsabilidade não vai consertar nada. Ninguém conseguirá governar um país de 200 milhões de habitantes se não tiver a legitimidade do voto popular”, sentencia.

Lula da Silva diz ainda que “ninguém vai ser respeitado como governante se não respeitar primeiro a Constituição e as regras do jogo democrático”. E faz uma recomendação aos parlamentares.

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Foi preciso muito esforço, muito sacrifício, para que o Brasil conquistasse respeito e credibilidade diante do mundo, para ser reconhecido como um país sério com instituições sólidas. Todo este esforço pode ser jogado fora por um passo errado, um passo impensado, no próximo domingo. Os deputados têm de pensar com muita serenidade sobre isto”.

O ex-presidente garante que terá uma participação mais ativa no governo, caso Dilma consiga travar a sua destituição. “Derrotado o impeachment, já na segunda-feira, independente de cargos, estarei empenhado junto com a presidenta Dilma para que o país tenha um novo modo de governar. Vou usar minha experiência de ex-presidente para ajudar na reconstrução do diálogo e unir esse país”.

O petista relembrou outra vez o tempo em que ocupou a Presidência do país, ao dizer que “a partir de 2003 [ano de início do seu primeiro mandato], o Brasil mudou muito e e mudou para melhor” quando foi derrubado “o muro entre os que tudo podiam e os que ficavam à margem da história”. No entanto, reconhece que o governo de Dilma Rousseff “tem falhas que precisam ser corrigidas”.

Lula da Silva optou por não fazer nenhuma referência à Operação Lava Jato, na qual que é investigado. A operação aumentou o desgaste de Dilma diante da opinião pública. No entanto, defendeu o combate à corrupção. “Ninguém será respeitado se não prosseguir no combate implacável à corrupção. É isso que a sociedade exige”.

Ao fim do vídeo, fez um último apelo. “Peço a todos que confiem na minha palavra e mantenha a defesa da democracia, vamos derrotar o impeachment e encerrar de vez esta crise. Confio em vocês.”