Trabalhadores e delegados sindicais dos supermercados Pingo Doce acusaram hoje a empresa de “repressão”, “assédio moral” e de desrespeito pelos horários de trabalho, acusações que o grupo Jerónimo Martins “refuta de forma veemente”.

Atrás de uma faixa onde se podia ler “Exigimos ao Pingo Doce aumentos salariais para todos”, cerca de 50 trabalhadores e delegados sindicais concentraram-se ao início da tarde junto à sede da Jerónimo Martins, no Campo Grande, em Lisboa.

Em declarações aos jornalistas no local, Flora Osório, operadora especializada, afirmou que não há atualização salarial desde 2010 e apontou, por exemplo, diversos incumprimentos por parte da empresa em relação aos horários de trabalho.

“O trabalho noturno é praticado como se fosse horário de trabalho normal. As férias não podem ser marcadas para épocas festivas e balneares”, exemplificou, apontando ainda “repressão” para com os funcionários, o que, afirmou, tem provocado em muitos trabalhadores “depressões e esgotamentos”.

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Contactada pela agência Lusa, fonte oficial do grupo Jerónimo Martins refutou “de forma veemente” as acusações de repressão, assédio moral ou perseguição, entre outras, aos trabalhadores do Pingo Doce.

Relativamente à questão da revisão das tabelas salariais, a mesma fonte indicou que “está atualmente em curso uma negociação” do contrato coletivo de trabalho entre a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), a que o Pingo Doce também pertence, e os Sindicatos.

“Caberá, pois, à APED pronunciar-se, se assim o entender”, disse.

Isabel Camarinha, do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), afirmou aos jornalistas que foi entregue à administração, em fevereiro, um caderno reivindicativo dos trabalhadores e um pedido de reunião, ao qual a empresa “não se dignou a responder” até agora.

“Os trabalhadores têm salários baixíssimos, condições de vida degradadas, condições de trabalho que numa empresa desta dimensão são injustificáveis, no que se refere, por exemplo, à segurança e higiene”, indicou, sublinhando que em 2015 houve pequenos ajustes salariais, “discriminatórios”, uma vez que abrangeram “um número reduzido de trabalhadores”.

Junto à entrada da sede da Jerónimo Martins, alguns trabalhadores descreviam a colegas, junto a um microfone, o que se passa na sua loja: “Assédio moral”, “perseguição a delegados sindicais”, “desconsideração” e “discriminação” foram algumas das expressões usadas.

Presente na manifestação, o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos acusou o grupo Jerónimo Martins de “prepotência e arbitrariedade”: “Considera que não precisa de negociar salários, não valoriza as carreiras e discrimina trabalhadores”.

“Continuam também a pensar que podem definir os tempos de trabalho dos funcionários, secundarizando a articulação que tem de haver entre os horários de trabalho e a vida familiar pessoal. Também se constata uma grande pressão e assédio moral sobre os trabalhadores”, acrescentou.