Não sabemos muito, mas é o suficiente para que os cientistas vibrem de novo com a possibilidade de encontrar outros mundos com vida além do nosso. Esta segunda-feira, uma equipa de investigadores da Universidade de Liège (Bélgica) e do polo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em Boston (Estados Unidos) anunciaram a descoberta de três novos planetas com potencial para serem habitáveis dentro da Via Láctea, na posição relativa da constelação de Aquário. “É uma mudança de paradigma, um passo gigante na busca de vida pelo universo”, disse Emmanuël Jehin, envolvido na descoberta.

O comum dos mortais pode não ter entendido a importância da notícia avançada pela revista especializada Nature. Com planetas potencialmente habitáveis já nos cruzámos algumas vezes, mas ainda não encontrámos nenhum humanoide verde ou sequer uma bactéria para amostra. O Laboratório da Habitabilidade Planetária, um serviço da Universidade de Porto Rico que mantém uma base de dados sobre este tipo de descobertas, lista um total de trinta e três exoplanetas com potencial para serem habitados, onze dos quais com tamanho muito semelhante ao da Terra. Então, de onde vem o entusiasmo da comunidade científica com o sistema planetário que orbita a TRAPPIST-1?

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Este sistema planetário foi batizado de “TRAPPIST” em homenagem ao telescópio através do qual os cientistas observaram a estrela pela primeira vez, localizado no Chile. É que esta estrela é demasiado ténue e vermelha para ser vista a olho nu.

A resposta rápida: nunca antes tínhamos encontrado planetas tão semelhantes à Terra. “São os melhores alvos encontrados até agora para a busca por vida fora do Sistema Solar”, explicaram os cientistas. E é assim porque os três planetas têm o tamanho do nosso Mundo Azul e temperaturas praticamente iguais às de Vénus e da Terra. Localizados a 40 anos-luz de nós, há algo de especial nestes planetas. Primeiro, o facto de um deles estar na chamada “zona de habitabilidade” ou Zona de Goldilocks, que é a região espacial à volta de uma estrela onde o nível de radiação permite a existência de água no estado líquido. Os outros dois planetas não estão nessa região, porque estão demasiado próximos da sua estrela: como tal, recebem demasiada radiação (duas a quatro vezes superior à que chega à Terra vinda do Sol) e a temperatura aumenta demasiado à superfície. Mesmo assim, têm algumas características importantes: há uma face desses planetas que nunca se volta para a estrela e onde a temperatura é suportável pelo ser humano.

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A segunda característica especial destes planetas é o facto de orbitarem uma estrela anã. TRAPPIST-1 pertence à mesma categoria que o nosso Sol e que a maior parte das estrelas do Universo, cuja principal fonte de energia é conversão de hidrogénio em hélio através de um processo de fusão de protões chamado “cadeia protão-protão”. Só que TRAPPIST-1 tem duas particularidades que facilitam muito a vida dos cientistas na Terra.

Número um, é uma estrela anã ultra fria, porque a sua temperatura não ultrapassa os 2700 graus Kelvin – o Sol tem mais 3078 graus Kelvin. É a primeira vez que são encontrados planetas em redor de uma estrela com este perfil: até agora, a existência destes sistemas planetários era apenas teórica. Número dois, é mais pequena que o Sol e que todas as outras estrelas onde encontrámos exoplanetas com potencial para serem habitados. Até agora, o brilho das outras estrelas ofuscava de tal modo os planetas que era impossível para os cientistas explorarem-nos à distância. Outra vantagem é que o facto de a estrela ser mais pequena garante que o período de translação dos planetas é também curto: um ano no planeta mais próximo dura apenas dois dias. Como tal, esses três planetas passarão várias vezes entre a Terra e essa estrela (que de tão pequena só pode ser vista ao telescópio), permitindo aos astrónomos estudá-los à distância.

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Chamamos exoplanetas a todos os planetas que não pertencem ao nosso sistema planetário, ou seja, que não orbitam o Sol. Até à data já encontramos 2.087 exoplanetas.

Essa é uma parte fundamental do estudo destes planetas. Só assim é que os cientistas vão poder conhecer a sua atmosfera e saber de uma vez por todas se o sistema planetário de TRAPPIST-1 é mesmo habitável. Como? As técnicas desenvolvidas foram poucas, mas uma é bastante acessível e será usada neste caso: os astrónomos vão usar a luz da própria estrela. Essa luz é analisada antes e depois da passagem do planeta entre a Terra e a estrela durante o seu período de translação: comparando o espetro da luz da estrela com o espetro do exoplaneta, os cientistas podem descobrir quais os elementos que compõem a sua atmosfera.

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Período de translação é o tempo que um corpo celeste demora a dar uma volta completa à volta da sua estrela. Isso determina a duração de um ano nesse corpo. O período de translação da Terra é, em media, de aproximadamente 365, 3 dias a uma velocidade orbital de 29,78 km/s.

Se os cientistas detetarem a presença de metano, ozono ou dióxido de carbono na atmosfera dos planetas, os sinos vão tocar nos laboratórios dos cientistas: pode haver vida nesses mundos, seja ela unicelular (como bactérias e certos fungos), ou multicelular (como os seres humanos e as plantas). Certezas, dizem os astrónomos, vamos ter ainda durante esta década.