O Palco Vodafone é, como já aqui explicamos, uma autêntica “ilha de descoberta” no Rock In Rio. É por ali que passam nomes emergentes da música nacional (três quartos do cartaz) e cinco nomes internacionais que definem, em múltiplas vertentes, aquilo a que nos habituamos a chamar de música alternativa (ou indie).
A organização do festival, em conjunto com a equipa da Vodafone FM (a quem coube a tarefa de curadoria do palco), enfrentou o desafio de convidar artistas que, de alguma forma, se enquadrassem com as vedetas do palco principal, sem destoar mas também sem entrar em repetições. E foi o que se viu.
O primeiro dia da 7ª edição do Rock In Rio Lisboa levou ao topo da colina da Bela Vista (onde fica geograficamente localizado o Palco Vodafone) três bandas que olham para a palavra “rock” de três ângulos diferentes mas complementares, quer entre eles quer com tudo o resto (entenda-se, com os artistas do palco principal).
Ao início da tarde, a abertura ficou a cargo da dupla portuense The Sunflowers, bateria e guitarra (Carol Brandão e Carlos de Jesus) e berraria feita com ganas de quem quer partir qualquer coisa. Foi uma honra um tanto ou quanto inglória, por se tratar de uma atuação vespertina em dia de semana. A assistência foi pouca e permaneceu bastante tempo sentada nos insufláveis, ainda assim floresceram ao ponto de cativar alguns dançarinos. Depois do tema “The Witch” (tema do EP Ghosts, Witches and PB&Js) seguiram-se 45 minutos de garage rock sem compromissos. Já no final, o duo deu mostras de versatilidade ao trocar de instrumentos, levantando o véu para o que são capazes. Foram um bom aperitivo, venha de lá o álbum de estreia que a conversa será, certamente, outra.
Seguiram-se os Keep Razors Sharp, banda consórcio formada pelo vocalista e guitarrista Afonso Rodrigues dos Sean Riley & The Slowriders, por Rai, vocalista e guitarrista dos The Poppers, pelo baterista Carlos BB dos Riding Pânico e pelo baixista Bráulio, ex-Capitão Fantasma. Não estão juntos há muito tempo mas, tudo somado, havia muita experiência naquele palco. Às seis da tarde o público ainda não era muito mas foi-se juntando para descobrir aquela que é, seguramente, uma das banda mais interessantes da atualidade, que ali desfilou o álbum de estúdio, homónimo, com data de 2014. Ficou a sensação que, tivesse sido outro o público a passar por ali, mais gente se tivesse levantado do chão.
Este primeiro dia foi um desafio especial para o palco alternativo, por incluir um detalhe que não podemos desprezar: globalmente, a média de idades do público era bastante elevada (Springsteen e Xutos são muito “antigos”), o que, quer queiramos quer não, afasta muita gente do apelo da descoberta.
Não foi por isso de estranhar que, às oito da noite, os veteranos Black Lips tenham sido as estrelas do dia no Palco Vodafone. Levantaram toda a gente do chão e encheram a plateia. O quarteto norte-americanos de garage rock fez abanar cabeças durante grande parte da atuação mas a partir de “O Katrina” e “Bad Kids” os ânimos elevaram-se ainda mais. Conhecidos pelo apetite “incendiário”, em vez de lume fizeram voar papel higiénico e cuspidelas. O público pareceu gostar, tanto assim foi que respondeu com moche ao som de “Bad Kids”. O quarteto encheu as medidas, porque trouxe o espírito do Rock & Roll ao festival, com sabor a punk. Venham mais vezes.
Esta sexta-feira, o Palco Vodafone vai encher-se de outro estilo de rock, o psicadélico. Em palco estarão os portugueses Pista, Sensible Soccers e os brasileiros Boogarins. Vai ser uma tarde para pular, pensar e sonhar.