Marisa Matias, eurodeputada eleita pelo Bloco de Esquerda, não baixa os braços em relação à Europa e à União Europeia, enquanto projeto social, económico, e cultural. A dirigente bloquista reconhece que o caminho é difícil. Traça um cenário negro. Mas acredita que na salvação. “Se achássemos que era impossível mudar a Europa não estávamos lá.”

“Quando acharmos que é impossível [transformar a União Europeia], arrumamos as nossas malas e vamos embora. Não me parece que seja esse o caso. Mas reconheço que a vida não está fácil do ponto de vista de quem quer um projeto europeu, mais solidário, socialmente mais justo e mais virado para as pessoas”, reconhece Marisa Matias, em entrevista ao Observador.

Até porque falta força política para conduzir uma transformação. “A relação de forças é muito desigual e isso exige muito mais trabalho e muito mais esforço. Ainda há uma ideia muito fixa de que a única política possível é a austeridade e que as únicas reformas possíveis são os cortes nos salários e a destruição do Estado Social. Mas não quer dizer que seja impossível.

Marisa Matias acredita que a saída do Reino Unido foi mais um prego no caixão europeu. Mas não foi o primeiro nem será o último, lamenta. “Temos assistido nos últimos anos a uma desagregação permanente e passo a passo da União Europeia. O Brexit é mais um passo. Não creio que seja o primeiro, nem que será o último. Depende das opções que forem feitas no próximos tempos.”

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“E os primeiros sinais não são bons“, continua Marisa Matias. “Quando a Alemanha a decide reunir com Itália e França”, para um encontro entre os países fundadores da CEE — “uma coisa que já nem sequer existe” –, quando “não se trata os países de forma toda igual”, quando se “reforça o diretório”, essa “não é uma boa resposta”.

Traçado este cenário, a ex-candidata presidencial não exclui um eventual referendo à permanência no Euro, embora lembre que esse não é o caminho do Bloco de Esquerda. “A hipótese de discutir todos os temas está sempre em cima da mesa para o Bloco de Esquerda. A arquitetura institucional do euro é uma arquitetura que reforça os desequilíbrios macroeconómicos” e as desigualdades “entre países” e dentro dos próprios países. “E isso é um facto. Não é uma matéria de opinião, é um facto. Esse debate tem de ser feito em permanência”, defende.

O país deve estar pronto para tudo, incluindo sair do euro. É isso mesmo que admite Marisa Matias, lembrando que a realidade dos últimos anos “tem ultrapassado todas as previsões”, mesmo as mais negativas. Para já, enquanto tiver papel ativo no centro das decisões políticas, o Bloco de Esquerda não deixará de exigir uma mudança.”Nós continuaremos a desafiar o Governo. Não vamos abdicar das nossas reivindicações políticas no que diz respeito à Europa. Agora, que não haja nenhum fantasma. Os acordos são para manter e vão ser mantidos”.