Só lá vão dois anos desde a última vez que os Pixies pisaram solo português e pouca coisa mudou desde então: a voz de Black Francis continua a parecer um comboio em descarrilamento e a banda (agora com uma nova baixista, Paz Lenchantin) continua a saber dar um bom concerto, como pudemos ver esta quinta-feira, no Passeio Marítimo de Algés. A simpatia continua a ser a mesma — quase inexistente — e o reportório, de fazer inveja, continua a ser repleto de hits e mais hits. Mas nunca ninguém disse que para fazer rock (e as muitas outras coisas que os Pixies fazem) era preciso afinação ou um sorriso de orelha a orelha — é preciso atitude, e isso o grupo tem (e teve) de sobra.
Passaram três décadas desde que os Pixies nasceram e o concerto do NOS Alive foi fiel ao número. A banda começou com “Bone Machine”, um bom prenúncio para o que vinha a seguir — cerca de hora e meia de um desfile de clássicos, sem pausas, sem “olás”. A seguir veio “Wave on Mutilation”, entre saltos e conversa fiada entre o público. À frente do palco, ia-se tornando cada vez mais difícil de respirar, à medida que a multidão se ia chegando para ver mais de perto da banda de Boston. Afinal de contas, os Pixies são os Pixies, e há quem tenha vindo até Algés só para os ver.
A “Wave on Mutilation” seguiu-se “Subbacultchure”, com um Black Francis quase demoníaco sob os holofotes vermelhos, enquanto entoava os versos “I was all dressed in black, she was all dressed up in black”. Depois de “Velouria”, veio “Monkey Gone to Heaven”, “Levitate Me”, “Snakes” e tantos, tantos outros temas já conhecidos do público. Mas, dentro do esperado, houve ainda espaço para algumas surpresas, como a música “Um Chagga Lagga”, que fará parte do novo álbum que aí vem. O público parece ter gostado, e nós também.
Uma das novidades foi também a presença da baixista Paz Lenchantin, que esteve mais do que à altura do desafio, emprestando a voz a quase todas as músicas do longo reportório. Black e Paz estiveram sempre em sintonia, e não houve dúvida de que a baixista dos A Perfect Circle foi uma boa aquisição.
Já perto do fim, a banda mostrou de que material é feita com a muito aguardada “Where is My Mind”, que arrancou até os mais preguiçosos do chão, e a famosa “Here Comes Your Man” — duas músicas tão diferentes, mas que sintetizam tão bem o som variado dos Pixies. Dois ou três temas depois, o adeus chegou silencioso (como, de resto, todo o concerto) e com uma vénia comedida. Houve quem pedisse um encore, mas os Pixies não quiseram fazer a vontade, deixando rapidamente o palco para os artistas que se seguiam, os The Chemical Brothers.
[RC]
Robert Plant, um desejo por concretizar
Antes de se despedir do Palco NOS, Robert Plant disse que ainda tinha três minutos para encore. Nesse momento, quase toda a gente deve ter olhado para as estrelas para pedir o mesmo desejo: por favor, que venha daí uma música de Led Zeppelin. Desejo concedido. Durante aqueles três minutos finais, pudemos ouvir uma das maiores vozes do rock, influência para tantos músicos que vieram depois dele, cantar It’s been a long time since I rock n’roll, frase de uma das principais músicas dos Zeppelin.
Houve rock n’roll, sim senhor. Mas, ao mesmo tempo, fica difícil perceber o que é que Robert Plant nos deu. Entrega, sim. Simpatia, muita, e diálogo com o público, que tanto faltou em Pixies (antes de tocar a viciante “Black Dog” perguntou: “Como está o futebol?”, para logo responder, “Eu sei, eu sei”. Não é adorável?). E fica difícil porque o alinhamento fez-se também de músicas que lançou com os seis The Sensational Space Shifters, que o acompanharam esta noite, no disco Lullaby… And The Cealess Roar, e de versões como “Poor Howard, de Lead Belly, tocada com o instrumento africano chamado kologo, ou a popular “I Just Wanna Make Love to You”.
As verdadeiras explosões aconteceram quando esta lenda de 67 anos com o cabelo ondulado entre o branco e o loiro se atirou ao repertório dos Zeppelin. Dois problemas. O primeiro é que se atirou pouco. Se houvesse uma sondagem no local, a julgar pela forma excitada como o público reagia aos primeiros acordes, as músicas dos Zeppelin ganhavam por goleada. Só que, mesmo quando o fez, por vezes eram só partes entre outras músicas, como fez com “Dazed and Confused”, qual medley. Outras vezes adicionava melodias a meio, como em “Whole Lotta Love”, que começou explosiva, terminou em apoteose mas, a meio, esfriou, com a introdução de “Mona”.
Não se esperava um concerto de Led Zeppelin, embora a chegada ao palco tenha sido feita com “The Lemon Song”. Mas, por momentos, fechámos os olhos durante “Babe, I’m Gonna Leave You” e só queríamos pedir ao autor de “Stairway to Heaven” que tocasse mais. E que, já agora, chamasse Jimmy Page, John Paul Jones e o filho de John Bonham, Jason Bonham, para tocar com ele, como aconteceu em 2007. É que se não temos mais a oportunidade de ver uma das bandas mais influentes da história, é por culpa de Plant, que não quer a reunião mas, ao mesmo tempo, vai tocando algumas para fazer a vontade aos fãs. O melhor é continuar a olhar para as estrelas e a pedir esse desejo. Esta quinta-feira à noite um deles realizou-se e, como disse Ronaldo esta quarta-feira, “sonhar é grátis“.
[SOC]
Mas nem só de Pixies e Robert Plant se fez o primeiro dia do 10.º NOS Alive. Houve bom tempo (sol à brava) e a boa música dos Chemical Brothers, John Grant, Wolf Alive e 2ManyDjs (pode ler a crónica dos restantes aqui). Acompanhámos tudo ao minuto, e na sexta-feira — o dia de Radiohead, Tame Impala, Foals, Father John Misty, Courtney Barnett, Hot Chip e muito mais — voltaremos a estar em liveblog. É já daqui a pouco.