A agência de rating DBRS tem dúvidas sobre o plano de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e diz que é difícil avaliar o impacto final sobre as contas públicas até que se perceba se há ou não investidores para comprar os mil milhões em dívida do banco público. O plano prevê que seja emitido um lote de obrigações (subordinadas, ou seja, com maior risco) no valor total de mil milhões de euros.
Em declarações citadas pela agência Reuters, o responsável máximo pelos ratings soberanos da DBRS, Fergus McCormick elogia a iniciativa de avançar para a recapitalização da CGD — “é uma demonstração importante de que existe um esforço para limpar o sistema bancário“. “Contudo“, diz a DBRS, “será importante avaliar o nível de apetite dos investidores em relação aos mil milhões de euros em dívida subordinada que a CGD tenciona angariar no mercado“.
“Até que consigamos avaliar esse apetite dos investidores, será difícil avaliar o impacto [da operação] para as contas públicas“, diz a DBRS.
Nas próximas semanas, todos os comentários da agência DBRS sobre Portugal serão ouvidos de perto pelos investidores porque a agência se prepara para reavaliar a notação de crédito a 21 de outubro.
A entrada de investidores privados na operação, ainda que através de obrigações subordinadas sem direito de voto emitidas pela própria Caixa, terá ajudado a convencer Bruxelas de que a recapitalização será um investimento feito com critérios de mercado, não constituindo por isso uma ajuda pública. O Jornal de Negócios escreve esta sexta-feira que a emissão de 1.000 milhões de dívida que a Caixa tem de fazer poderá pagar uma taxa de juro entre 4% a 8%. São títulos acarretam o risco de perda do capital, ainda mais pelo facto de serem dívida subordinada e não dívida sénior.
Em nota publicada na noite de quinta-feira, o analista David Schnautz, do Commerzbank, que acompanha a evolução da dívida pública portuguesa nos mercados, escreveu que “será muito interessante ver como o acordo de recapitalização compara com os pressupostos das agências de rating“. O analista recorda, também, que “existem receios de que este poderá não ser o último capítulo no que diz respeito a exercícios de recapitalização bancária em Portugal”. Por isso, o banco alemão recomenda aos investidores uma atitude “cautelosa” em relação ao investimento na dívida portuguesa.