A mais recente geração do 3008 é, muito provavelmente, o modelo mais importante da marca francesa, ou não fosse o único que, fabricado apenas em França e na China (a marca tem uma accionista chinês), vai ter como destino praticamente a totalidade do globo, da América Latina à Ásia, passando por África e pela Europa. E, no Velho Continente, vai atacar todos os mercados, de Portugal à Rússia.

A quantidade de veículos a produzir, que o fabricante preferiu não revelar de momento, torna-o extremamente interessante em termos económicos. Quer a prova? Basta ver com que imagem corre o veículo que defende as cores da Peugeot nos raides como Dakar, a principal competição a que se dedica: o 3008.

O que é novo?

A resposta correcta é tudo, se comparado com a anterior geração. A plataforma é a nova EMP2, similar à que já equipa modelos da PSA (Citroën, DS e Peugeot) como o 308 e o C4 Picasso, aqui numa versão com maior distância entre eixos.

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A plataforma em que assenta o novo SUV da Peugeot é dada à poupança. Ganha o construtor e ganha o consumidor

Acima de tudo, a EMP2 permite facilmente ser alargada ou esticada, podendo ser utilizada num maior número de veículos e isto de fabricar carros não é muito diferente de fazer pãezinhos: quantos mais forem produzidos, mais baratos ficam. E a Peugeot bem precisa, pois está a sair de um período terrível, em que perdeu 5 mil milhões num só ano (2012), o que só não a levou à falência porque o Estado francês e o chinês – em abono da verdade foi a Dongfeng Motors, o fabricante de automóveis, mas na China é difícil distinguir onde começam as empresas e onde termina o Estado – adquiriram, cada um, cerca de 14% da PSA. Curiosamente Portugal está intimamente ligado à recuperação do Grupo PSA, pois na realidade, se a injecção de capital foi determinante, não o foi menos a visão do português Carlos Tavares, ex nº2 da Renault, cuja capacidade de gestão e conhecimento do mercado se tem provado valiosíssima, desde que tomou posse no início de 2014.

Mas há mais vantagens, para além das financeiras. A nova plataforma é também mais leve e, aqui, peso volta a ser dinheiro, pois um carro mais leve torna-se mais económico e, se gastar menos combustível, emite menos gases poluentes, o que em vários países – o nosso, para início de conversa – lhe permite pagar menos impostos e oferecer um preço final mais acessível. A EMP2 é ainda formada por menos peças e possui processos de soldadura e colagem a quente mais eficientes, o que se traduz numa fabricação mais rápida e robusta.

É mesmo mais giro?

O antigo 3008 não era o modelo mais feliz da Peugeot, pelo menos em termos estéticos. Já o novo é mais atraente de frente, de trás e dos lados, o que deixa pouca margem para desagradar a quem deseja comprar um Peugeot desta bitola.

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O mais recente 3008 agrada mais à vista que a anterior geração deste modelo

Face à concorrência a conversa é outra, pois o marketing dos franceses pretende elevar o posicionamento do modelo, afastando-o do Nissan Qashqai, cujo preço acessível o torna difícil de bater, afastando-o em direcção ao VW Tiguan e aos tradicionais representantes do segmento premium, ou seja, Audi, BMW e Mercedes. O que pode ser um problema.

Como é por dentro

Assim que se entra a bordo, é o i-cockpit que salta à vista. O que é bom. É certo que parece que estamos a bordo de uma nave espacial, mas tudo funciona na perfeição e todos os comandos estão ao perfeito alcance das mãos. Nas versões mais equipadas, e nós conduzimos o mais caro, o GT com motor turbodiesel 2.0 BlueHDi de 180 cv, o ecrã táctil ao centro da consola concentra quase a totalidade dos comandos, sendo que num rasgo de inteligência que se saúda, os franceses deslocaram para duas filas de botões o accionamento dos sistemas de conforto e de segurança, evitando que o condutor tenha de andar a navegar pelo menu do ecrã táctil.

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Agora já conseguimos ver o painel de instrumentos, sem ter que fazer grandes contorcionismos

Tudo é bom? Nem por isso. O volante continua a ser muito pequeno (na linha do que também acontece no 208 e 308, mais do que em muitos Ferrari ou Lamborghini), o que é sempre estranho num SUV familiar sem pretensões desportivas. Mas, e ao contrário dos modelos da marca francesa que mencionámos, este i-cockpit permite que o painel de instrumentos seja visível por cima do volante, sem que se tenha de regular o assento para uma posição que a não a nossa, apenas para ser possível ver a que velocidade nos deslocamos. Os condutores vão agradecer.

Em matéria de espaço, o 3008 cresce 8 cm por fora, mas 6 estão na distância entre eixos, que é como quem diz, no espaço para as pernas de quem se senta atrás. E estão lá todos. Também gostámos da ausência de ruídos parasitas e da construção que nos pareceu rigorosa, com as aplicações de madeira no tablier e portas que elevam a sensação de qualidade a bordo. Mas a Peugeot não perdeu a cabeça e tentou conter os custos, pois os revestimentos dos pilares B e C são plástico duro, ficando o tecido exclusivamente para o A, o mais visível.

Desportivo ou camião?

Os SUV são os automóveis da moda e todos parecem querer um, pois ¼ dos carros novos que os portugueses compram são deste tipo. Mas se por um lado querem que se pareça com um jipe, por outro os condutores não aceitam um veículo que exiba um comportamento pouco eficaz, como se se tratasse de um pequeno camião. Querem que, apesar de alto e volumoso, se comporte em curva como se fosse um automóvel convencional, mais baixo e ligeiro. E a Peugeot fez-lhes a vontade.

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Em estrada, rola bem. Fora de estrada, também. Desde que em estradões com bom piso

Face ao antigo 3008, o novo começa por pesar menos 100 kg e, tal como acontece com as top models, também para os carros ser leve compensa. Para a mesma potência, o 3008 é agora mais célere nas acelerações – e melhor nas travagens, pelos mesmos motivos – e, uma vez em curva, inclina-se menos e suporta com menos queixumes as necessidades de um condutor que queira ou necessite de conduzir um pouco mais depressa.

Se em estrada tudo funciona na perfeição, com o 3008 a revelar uma agilidade comparável com os SUV mais recentes do segmento, fora de estrada o Peugeot também está à-vontade, especialmente nos estradões com bom piso, onde a suspensão e os pneus mistos funcionam bem. Quer ir mais longe em terrenos menos próprios, o melhor é pensar duas vezes, pois não há versão com tracção 4×4 e o Grip Control, um opcional que custa cerca de 900€, apenas dá uma ajuda em algumas situações.

E anda bem?

Claro que sim e mais do que anteriormente, pois também a aerodinâmica foi optimizada. O 3008 chega ao nosso país com uma série de motorizações a gasolina e a gasóleo, sendo que as segundas deverão levar a melhor no capítulo das vendas. Tudo porque estão associadas a menores consumos e a uma condução mais relaxada. Mas isto não é necessariamente verdade para a maior parte dos condutores.

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Diesel ou gasolina? É só fazer as contas

Se não, vejamos. Durante a apresentação conduzimos a versão GT com motor 2.0 BlueHDI de 180 cv, que lhe permite um andamento vivo, mas face aos 44 mil euros que pede em troca, vai ter muitas dificuldades em cativar clientes. A maioria dos condutores deverá preferir as versões equipadas com o motor 1.6 BlueHDI de 120 cv ou, em alternativa, a unidade a gasolina 1.2 PureTech de 130 cv. Tradicionalmente é o diesel que tem preferência, mas se tivermos em conta que o 3008 a gasolina é mais rápido, mais silencioso e consome apenas mais 1,1 litros nos valores anunciados – e cerca de 2 litros nos consumos reais –, temos que só ao fim de 50.000 km se consegue justificar a opção a gasóleo, que exige mais 2.000€ de investimento inicial.

Muito interessante é a versão híbrida que a Peugeot promete para 2019, em que as baterias que alimentam o motor eléctrico lhe garantem 200 km de autonomia, bem melhor do que os cerca de 5 km que os actuais Hybrid4 asseguram.

Brinquedos como extra

Juntamente com o 3008, a marca francesa revelou a sua nova e-Kick, uma trotineta eléctrica desenhada pela Peugeot e construída pela Micro, que se pode recarregar numa dock station que pode existir na bagageira, como extra. Conduzimos a trotineta e não ficámos impressionados pela facilidade com que se desloca, nem pelo preço, que ronda os 1.200€.

Em vez da e-Kick, é possível optar pela EF01, uma bicicleta eléctrica dobrável que também se pode guardar e carregar na mala. Uma e outra podem ser uma alternativa para deslocações não poluentes nos centros das cidades. Contando que sejam curtas.

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Couro e cabelo

A partir de 4 de Novembro vai ser possível adquirir o 3008 em Portugal. Os potenciais clientes devem-se preparar para duas surpresas: uma má e outra boa. A boa e, verdade seja dita, a mais importante, é que o novo SUV é substancialmente mais atraente, mais espaçoso e mais bem construído do que o seu antecessor. A má é o preço, com a marca a anunciar um incremento de 10%, o que equivale a mais 2.500 a 3.000€ nas versões mais acessíveis. Os clientes podem não agradecer, mas os concorrentes, sobretudo o Qashqai da Nissan, o mais vendido e também o mais acessível, vão certamente apreciar.