Bolsas europeias há oito dias em queda, refúgio no ouro e na dívida pública e o chamado “índice do medo” — o VIX — a subir para os valores mais elevados desde junho, altura em que o Reino Unido votou inesperadamente pela saída da União Europeia. Uma sondagem divulgada terça-feira que dá a vitória a Donald Trump, ainda que dentro da margem de erro, está a dar calafrios aos mercados internacionais.

Nem as peculiaridades do sistema eleitoral norte-americano, em que o voto é feito por colégio eleitoral, nem o facto de se tratar de uma sondagem que auscultou menos de duas mil pessoas — apesar destes dois fatores, a sondagem da ABC/Washington Post que colocou Donald Trump à frente de Hillary Clinton por um ponto (46% vs 45%) foi um balde de água fria nos mercados financeiros globais nos últimos dois dias.

O indicador mais fiel do nível de receio nos mercados é o chamado “índice do medo”, que mede as expectativas de volatilidade nas bolsas. O VIX disparou para os níveis mais elevados desde o referendo do Brexit, mostrando que, nos mercados, vive-se uma sensação de déjà vu.

VIX Index (Chicago Board Options 2016-11-02 09-47-19

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Os analistas do banco holandês Rabobank dizem que “os investidores estão a lembrar-se das duas lições aprendidas com o referendo britânico”. Por um lado, ficou claro que “as sondagens de opinião são um fraco indicador sobre os resultados reais das votações”. Recorde-se que na própria tarde em que os britânicos estavam a votar no referendo, o Evening Standard apontava para uma vitória clara do Ficar, isto para não falar das primeiras sondagens que saíram após o fecho das urnas, que apontavam no mesmo sentido.

Por outro lado, o Rabobank lembra que, no referendo do Brexit, a comunidade financeira aprendeu, também, a lição de que “não se deve subestimar a força do sentimento populista nas sociedades”.

Na altura dos debates que opuseram Donald Trump a Hillary Clinton, que coincidiram com a divulgação do escândalo das declarações sexistas de Donald Trump, algumas sondagens apontavam para uma vitória clara de Clinton, que é vista pela maioria dos bancos de investimento como uma candidata de maior continuidade e previsibilidade nas políticas. Contudo, o ímpeto da campanha de Clinton parece ter-se desvanecido depois de ter sido reaberta a investigação do Federal Bureau of Investigation (FBI) à utilização de uma conta de e-mail pessoal por parte da candidata democrata, enquanto tinha responsabilidades governativas.

O índice Stoxx 600, que mede o desempenho das maiores ações europeias, acumula uma descida de 3,13% nas últimas oito sessões, ao passo que o ouro está a subir há cinco sessões consecutivas, e já esteve esta manhã muito perto de voltar a valer mais de 1.300 dólares por onça (o que seria um máximo desde o início do mês de outubro).

Para o Rabobank, até que sejam conhecidos os resultados das eleições, os mercados vão continuar a refugiar-se em ativos vistos como mais seguros e a afastar-se de ativos considerados mais arriscados, como as ações, de um modo geral, e a dívida dos países da periferia europeia, incluindo Portugal. As taxas de juro de Portugal estão nos 3,28% no prazo a 10 anos, mantendo o prémio de risco em relação à Alemanha num nível acima de 300 pontos base (três pontos percentuais).