Primeiro cancelou-a via Twitter, depois voltou atrás com a palavra e garantiu que ia manter o compromisso: a reunião do Presidente-eleito dos EUA com o The New York Times aconteceu esta terça-feira entre as 13h e as 14h (hora local). Donald Trump reuniu-se com jornalistas e editores que, ao minuto, relataram via Twitter as perguntas e respostas que resultaram do encontro. E entre os tópicos mais quentes esteve a polémica em torno da “Alt-Right”, um grupo de direita radical que Trump diz rejeitar.

De gravata vermelha ao pescoço, o Presidente-eleito dos EUA subiu ao 16.º andar num elevador de carga — ao que parece, quis evitar a multidão que o esperava junto ao lobby. A entrevista, essa, foi feita na “Sala Churchill”, cujas paredes estão decoradas com retratos de personalidades do último século, Einstein incluído. O relógio marcava um minuto antes das 13h quando Trump se sentou bem perto do publisher do jornal, Arthur Sulzberger Jr., para ouvir as perguntas de editores, correspondentes na Casa Branca e jornalistas que cobriram a campanha presidencial. Ao contrário do que parece ter acontecido na Trump Tower com jornalistas de televisão, o encontro foi pacífico.

“Eu tenho muito respeito pelo The New York Times. Enorme respeito. [Mas] Acho que me trataram muito mal”, começou por dizer Donald Trump. “Foram 18 meses de brutalidade no verdadeiro sentido”, continuou, referindo-se à campanha eleitoral. A conversa prosseguiu entre salmão, filé mignon e cupcakes, o menu do dia, e chegou a diversos pólos: passando pela “Alt-Right” e pela adversária em plena campanha, acabando no encontro com Obama e na guerra civil na Síria.

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NEW YORK, NY - NOVEMBER 22: President-elect Donald Trump walks through the lobby of the New York Times following a meeting with editors at the paper on November 22, 2016 in New York City. Trump, who has held meetings with media executives over the last few days, has often had a tense relationship with many mainstream media outlets. (Photo by Spencer Platt/Getty Images)

Segundo um tweet do NYT, Trump terá evitado a multidão no lobby do edifício. Spencer Platt/Getty Images

Sobre a “Alt-Right”

“Não é um grupo a que eu queira dar força”, diz Trump, referindo-se ao movimento “Alt-Right”, a também chamada “direita alternativa”, um movimento radical que junta opositores à imigração e alguns adeptos da supremacia branca nos EUA. “Se eles ganharam força [com a eleição], eu quero analisar isso e perceber porquê. Não quero dar força ao grupo, rejeito-o.”

Sobre Steve Bannon, que será agora conselheiro sénior de Trump na Casa Branca e que até há pouco tempo liderava o site noticioso Breitbart News — que o próprio considerou ser “uma plataforma para a Alt-Right” –, o Presidente-eleito afirmou que se achasse que ele era racista ou membro da “Alt-Right” não o contrataria. “O Breitbart é apenas uma publicação”, continuou. “Eles cobrem histórias tal como vocês cobrem histórias. Eles são com certeza um jornal muito mais conservador, para utilizar termos brandos, do que o New York Times. Mas o Breitbart é um órgão noticioso bastante bem-sucedido.”

Sobre Hillary Clinton

“Eu não quero magoar os Clinton, não quero mesmo. Ela passou por muito e sofreu muito, de muitas maneiras diferentes”, diz Trump sobre a promessa feita durante a campanha de investigar a candidata democrata na corrida à Casa Branca a propósito da polémica dos emails. “Não é algo sobre o qual tenha sentimentos fortes.”

Sobre as alterações climáticas

Questionado sobre os acordos climáticos — incluindo o de Paris, do qual Trump já disse querer desistir –, o Presidente-eleito assegura que está a analisar o processo. “Tenho uma mente aberta em relação a isso.”

E pode a atividade humana estar ligada às alterações climáticas? “Acho que há alguma relação. Algo, alguma”, respondeu Trump, que durante a campanha presidencial assegurou que o aquecimento global não passaria de um “embuste”.

Sobre os seus negócios

“A lei está completamente do meu lado, o Presidente não pode ter um conflito de interesses”, argumentou. Sobre a hipótese de vender a sua empresa, o milionário disse que isso seria algo “muito difícil de fazer” por causa do seu património imobiliário. Comparado com o cargo que agora tem entre mãos, garante que a empresa não é importante.

“Em teoria, podia continuar a administrar os meus negócios e a governar o país sem problemas. Nunca houve um caso como este.” Em teoria, continua, podia continuar a assinar cheques, tal como diz, mas prefere passar a responsabilidade aos seus filhos.

Sobre o encontro com Barack Obama

Trump assegurou ter tido um “ótimo encontro” com o ainda Presidente Barack Obama, que não conhecia pessoalmente. “Gostei mesmo dele. Ele disse coisas muito simpáticas depois da reunião e eu disse coisas muito simpáticas sobre ele.”

“Acho que ele está a tentar fazer a coisa certa para o país em termos de transição”, continuou, admitindo que Obama falou-lhe dos principais problemas que o país enfrenta — um em particular. Não quis dizer qual.

Sobre o conflito na Síria

“Temos de resolver esse problema”, respondeu Trump, que tem provocado polémica com as suas opiniões relativas ao Presidente sírio e ao papel da Rússia.

Sobre o conflito entre Israel e a Palestina

“Adorava ser a pessoa que alcançou a paz entre Israel e os palestinianos, isso seria um grande feito. Jared Kushner [o marido da filha mais velha de Trump, Ivanka Trump] poderia ajudar a alcançar a paz.”