John Major defende que quem votou pela permanência na União Europeia não deve ser sujeito à “tirania da maioria” e ver o país abandonar o bloco. Isso “não é aceitável“, terá dito o ex-primeiro-ministro, num jantar privado em Westminster, Londres. Deve ser o parlamento a tomar a decisão de sair ou não, defendeu John Major, concordando com uma decisão judicial recente nesse sentido. Outro ex-primeiro-ministro, Tony Blair, também admitiu nos últimos dias que o Brexit pode ser evitado.

“Já ouvi o argumento de que os 48% que quiseram ficar não têm, agora, qualquer voto na matéria. Considero que esse argumento não é aceitável — a tirania da maioria nunca se aplicou numa democracia e certamente não se deve aplicar nesta democracia, em particular”, afirmou John Major num jantar de comemoração dos 100 anos após Lloyd George se ter tornado primeiro-ministro.

Segundo a reportagem do The Times, John Major defendeu que a decisão cabe ao parlamento e, questionado sobre se um segundo referendo pode ser uma opção, o ex-primeiro-ministro não descartou essa hipótese. Uma vez conhecidas as implicações concretas da saída, ou seja, após a negociação com a União Europeia, é “perfeitamente defensável” que se pense num segundo referendo.

“Julgo que temos de ver como as coisas correm antes de decidir o que tem de ser feito”, afirmou John Major, criticando quem — como a primeira-ministra Theresa May — olha para o resultado do referendo de 23 de junho como algo que deu um mandato claro e irrevogável para a saída.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Tony Blair acredita que o Brexit pode ser evitado

As declarações de John Major surgiram horas depois de ter sido publicada outra entrevista, de Tony Blair à New Statesman, em que também esse ex-chefe do governo britânico mostra que mantém a fé quanto a uma permanência na UE.

O processo de saída “pode ser interrompido se o povo britânico decidir, tendo avaliado exatamente o que significa, que a análise custo-benefício não faz sentido”, admitiu Blair. “Não estou a dizer que não irá fazer sentido, só estou a perguntar: sem vermos, como é que podemos saber?”, esclareceu Tony Blair.

O ex-primeiro-ministro, que na mesma entrevista rejeitou um regresso à política, diz que toda a discussão antes e depois do referendo tem sido, basicamente, ideológica. “Isto é como aceitar uma permuta de casa sem ter visto a outra casa”, comparou Blair, considerando a campanha “brutal” e “pouco esclarecedora”.