Sabe que quando vai tomar banho espera, em média, um minuto e meio para que a água quente chegue ao chuveiro? E que, durante esse tempo, está a desperdiçar nove litros de água e energia (o que equivale a ter uma televisão ligada durante quatro horas)? Foi para combater o desperdício energético, que Rui Teixeira, 32 anos, criou o Hoterway, um chuveiro com uma bateria térmica que lhe permite ter água quente assim que entra no banho, sem gastar energia.

Disponível para pré-venda desde a semana passada, altura em que foram lançadas duas campanhas internacionais de financiamento coletivo (crowdfunding) nas plataformas Kickstarter e Indiegogo, o Hoterway pode ser comprado por um preço “muito mais barato” do que o de lançamento, que será de 699 euros. O objetivo, diz Rui Teixeira, é o de promover o produto e atingir a meta de 20 mil euros de investimento até 18 de dezembro. Até agora, foram vendidas dez unidades e oito têm como destino os Estados Unidos e o Reino Unido. A previsão é a de que sejam entregues em abril ou maio do próximo ano.

Hoterway

Exemplo de uma casa de banho com chuveiro Hoterway

Como é que o Hoterway funciona? Autonomamente. O equipamento não precisa de estar ligado à eletricidade nem consome energia, porque funciona com uma bateria térmica local. No entanto, só pode ser aplicado num chuveiro, onde haja uma utilização contínua, regra geral de 6 a 8 minutos, e onde se desperdice mais água. Afinal, pouca gente gosta de tomar banho de água fria.

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Durante um minuto e meio, o Hoterway aquece a água fria que está a chegar com a energia que reteve no último duche. Se, por exemplo, a temperatura fixa na caldeira ou no esquentador for de 48 graus, o dispositivo demora cerca de 5 minutos para recarregar. O banho completo deve, assim, durar seis minutos e meio para que, passadas 24 horas, a bateria térmica consiga aquecer a água durante um minuto e meio. Além do aquecimento da água, o chuveiro do Hoterway foi desenvolvido para reduzir o caudal.

“Tipicamente, um chuveiro tem um caudal de 9 litros por minuto, o nosso trabalha com 6 litros por minuto. Poupa-se água e energia porque estamos a aquecer menos água e a gastar menos gás e eletricidade”, explica o engenheiro.

O Hoterway começou a ser pensado há dois anos dentro da Heaboo, uma startup especializada no desenvolvimento de soluções para melhoria da eficiência hídrica e energética, liderada por Rui Teixeira. Foi na Universidade de Aveiro, onde Rui fez investigação durante quatro anos, que percebeu “o enorme desperdício energético que está associado às soluções convencionais que são usadas nos circuitos de distribuição de água e de aproveitamento de energia instalados nos grandes edifícios”, conta ao Observador o também CEO da Heaboo.

A ideia ganhou forma quando, depois de ter participado num concurso de ideias, promovido pela universidade, Rui captou a atenção de um business angel para o Hoterway. Com o primeiro investimento, chegaram os primeiros protótipos. Dois anos de investigação, testes e ensaios depois, o produto está pronto a entrar no mercado, totalmente made in Portugal.

Poupar 1.890 litros de água por mês?

E a poupança será significativa? Cada caso é um caso, diz Rui Teixeira. “O retorno de investimento deste produto depende muito do perfil de utilização e daquilo que são as condições do próprio edifício, a primeira das quais quanto tempo demora a chegar a água quente ou qual a quantidade de água que se desperdiça cada vez que se vai tomar um banho”, explica. Há casos em que o tempo de retorno de investimento pode ser de dois anos, outros de oito como o exemplo que o Observador apresenta.

Imagine que toma dois banhos diários, com uma duração média de 6 minutos. O seu chuveiro tem um caudal de 9 litros por minuto, o tempo médio de espera pela água quente é de 90 segundos, o sistema de aquecimento da água funciona a gás e o preço da água por metro cúbico é de 1,6 euros.

Segundo as contas do simulador do site do Hoterway, a utilização do dispositivo pode permitir uma poupança mensal de 1.890 litros de água e de 40 kWh de energia. Além disso, gasta menos 90 minutos em banhos e alcança o retorno do investimento em oito anos.

O dispositivo foi desenvolvido para que a montagem e instalação do dispositivo possa ser feita pelo próprio utilizador. O processo assemelha-se à instalação de uma torneira em casa. “Muito mais simples do que montar um móvel do IKEA”, garante Rui Teixeira.

Até ao momento, o projeto tem cerca de 150 mil euros investidos, entre investidores nacionais e internacionais, como a Kic Innoenergy, empresa especializada na aceleração de negócios e capital de risco (com participação do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia). A Heaboo tem ainda um projeto de promoção do produto em mercados internacionais, aprovado no âmbito do Portugal 2020, com um total de investimento que ronda os 600 mil euros para executar nos próximos dois anos. É um projeto financiado a fundo perdido, com um incentivo de cerca de 280 mil euros.

“Neste momento estamos à procura da validação de mercado mas temos várias perspetivas, quer em termos de entrada de investidores, quer através do recurso à banca. Como acabamos por ter esta validação do Portugal 2020 acaba por ser muito fácil ter acesso à banca e conseguir, assim, fazer face a essas despesas e executar estes projetos”, nota Rui Teixeira.

Para o próximo ano, o engenheiro adianta que está também previsto continuar a internacionalização, dando a conhecer o produto em feiras internacionais.

A estratégia passa ainda por contactar instaladores, arquitetos e mostrar-lhes a aplicação da tecnologia numa casa em construção, por exemplo, em que o Hoterway pode ser embutido na parede, ficando apenas visível o chuveiro como o convencional. “Precisamos de ter unidades instaladas, numa primeira fase, para termos este feedback e ter quem possa comprovar que o produto é interessante e que está de facto a poupar”, remata Rui Teixeira.

*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.

Editado por Ana Pimentel