A recapitalização da Caixa ainda não avançou, mas Passos Coelho não desiste de capitalizar politicamente as falhas do Governo no dossier Caixa Geral de Depósitos. No Conselho Nacional desta terça-feira à noite em Lisboa, o presidente do PSD ironizou que “não deixa de ser curioso que Paulo Macedo, que era atacado por estar a destruir o Serviço Nacional de Saúde, seja agora contratado por este Governo.” Sobre a recapitalização do banco público prevista para 2017, lembrou: “Até hoje fomos o único Governo que recapitalizou a CGD.”
Perante os conselheiros do PSD, Passos Coelho destacou que “desde que assumiu funções, este Governo andou a arranjar problemas na CGD” e enumerou: “primeiro, o ministro das Finanças inventou um buraco, há 8 meses; depois prolongou a administração anterior, enquanto negociava com a nova administração se aceitava ou não. É uma coisa indigna; Depois, criaram um quadro legal específico feito à medida das exigências daquela administração e de forma incompetente, porque se esqueceram da outra lei que obrigava os gestores a cumprirem as obrigações de gestores públicos.”
O líder do PSD lembra que a “recapitalização que era tão urgente” e que estava prometida “até ao final deste ano” acabou por ser adiada para 2017. O líder do PSD diz que, apesar de protelar a injeção de capital, “o Governo lava as mãos disto tudo como se não fosse nada com eles. ”
No discurso de abertura do Conselho Nacional, Passos denunciou ainda que o “grande esforço do Governo é reescrever a história” e “criar na opinião pública uma predisposição contra nós”. E fez mesmo um apelo aos conselheiros:”Não devemos desistir de contrariar este reescrever da história que o Governo que fazer.”
Marco António: “O nosso ministro para tratar da saúde à CGD”
Passos disse tudo isto à porta fechada. O escolhido para falar aos jornalistas foi o agora (novamente) “número dois” Marco António Costa, que demonstrou a “satisfação do PSD” por tomar conhecimento que “através destes relatórios e da decisão do governo de convidar o ex-ministro Paulo Macedo para presidir à Caixa Geral de Depósitos, que dois ministros foram muito atacados pela atual maioria de que enquanto governantes produziram uma destruição do Estado Social nas áreas em que governavam é, afinal, falso.”
Marco António lembrou, no caso da Educação, que “os resultados são apresentados por entidades e relatórios independentes, que nós fortalecemos a escola pública, demos-lhe credibilidade.” Já, no caso da Saúde, o vice-presidente destacou que “não deixa de ser curioso que o Governo tenha escolhido o ex-ministro da Saúde do nosso Governo para tratar da Saúde da CGD.” Tal como Passos tinha dito à porta fechada, Marco António acusa o PS de tentar “reescrever a história” e de “inventar narrativas”.
O dirigente social-democrata lembrou ainda um outro tema que é assunto do Conselho Nacional: a eutanásia. Marco António Costa defende que “a questão da eutanásia é algo que deve merecer da sociedade portuguesa uma atenção. Sem preconceitos, mas com um fundo de debate e um grande sentido de responsabilidade, como base de um tema que é socialmente fraturante e um tema muito sensível“. Após este primeiro debate, garante o social-democrata, o PSD continuará o debate dentro do partido, procedendo com “auscultação e uma opinião o mais sustentada possível sobre esta matéria”, já que “mexe com valores e matérias muito sensíveis” e “não deve ser tratada de forma leviana.”
O vice-presidente do PSD faz ainda uma advertência à geringonça sobre este assunto:
Fazemos votos que não venha a acontecer no Parlamento aquilo que tem acontecido muitas vezes, que é uma decisão sem discussão, sem reflexão, imposta, de uma forma completamente acrítica por parte da maioria que apoia este governo, com base em acordos escritos nos corredores do Parlamento.”
Quanto às autárquicas, Marco António chamou a atenção para “algo de muito grave que se está a passar na sociedade portuguesa”, numa alusão ao facto de “o Governo, de uma forma despudorada” ter decidido “aprovar no Orçamento do Estado para 2017 medidas que coincidem sob o ponto de vista político que coincidem, temporalmente, com o período eleitora das autárquicas”. Marco António disse — sobre o facto de não ainda não haver candidatos do partido para Porto e Lisboa — que “o calendário está estabelecido, muito clarificado nas nossas cabeças” e que “o processo está de acordo com as previsões.”