Mais de mil atletas russos estiveram envolvidos no sistema organizado de doping patrocinado pelo governo da Rússia, segundo as conclusões finais do relatório McLaren, resultado de uma investigação extensiva conduzida pelo canadiano Richard McLaren, ao serviço da Agência Mundial Antidopagem. Trata-se, como lhe chamou o autor do estudo, de “uma conspiração institucional”, que envolveu pelo menos 30 modalidades diferentes.

Sal e grãos de café para contaminar amostras

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As autoridades russas usavam sal e grãos de café para contaminar as amostras de urina, adulterando os resultados dos testes. Os atletas também consumiam cocktails de esteroides indetetáveis nos exames, produzidos pelos laboratórios do governo russo. Havia ainda um washout testing, ou seja, um procedimento para impedir que os resultados fossem positivos nos exames oficiais dos Jogos Olímpicos.

Havia, aliás, um documento com indicações expressas sobre o que fazer às amostras, emitido pelo próprio Ministério do Desporto. Durante os Jogos de Londres, em que a Rússia ganhou 24 medalhas de ouro, 26 de prata e 32 de bronze, nenhum atleta foi detetado com doping.

Entre os envolvidos no processo encontram-se quatro medalhados nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sochi, e cinco medalhados nos Jogos de Londres em 2012. Os nomes dos atletas envolvidos não serão divulgados agora. Segundo Richard McLaren, as federações de cada modalidade receberam os nomes, e cabe-lhes a decisão de divulgar a identidade dos atletas ou não.

A investigação teve consequências duras nos Jogos Olímpicos deste ano, de que 118 atletas russos ficaram de fora. Também os atletas paralímpicos acabaram excluídos dos Jogos Paralímpicos, uma decisão que o presidente russo, Vladimir Putin, considerou “imoral, injusta e desumana”.

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Richard McLaren respondeu esta manhã às perguntas dos jornalistas sobre a segunda parte do relatório:

O investigador que liderou o processo, explicou que o esquema de dopagem promovido pelo governo russo aconteceu “a uma escala sem precedentes”. “Houve um encobrimento que evoluiu para uma estratégia institucional e disciplinada para ganhar medalhas”, sublinhou McLaren, citado pela BBC.

A equipa olímpica russa corrompeu os Jogos Olímpicos de Londres a uma escala sem precedentes. O desejo de ganhar medalhas suplantou a sua moral e ética coletiva, e os valores Olímpicos do fair-play“, disse Richard McLaren.

O sistema começou a ser utilizado nos apuramentos para os Jogos Olímpicos de 2012, em Londres. O ministro do Desporto da Rússia, Vitali Mutko, foi uma das presenças mais ativas no esquema, que envolvia ainda os serviços secretos russos para adulterar resultados nos laboratórios antidopagem.

A investigação concluiu ainda que amostras de jogadoras de hóquei no gelo, nos Jogos Olímpicos de Inverno, em Sochi, tinham genes masculinos, e que quatro vencedores de medalhas de ouro em Sochi tiveram as suas amostras adulteradas. Além disso, foram descobertos emails com instruções do Ministério do Desporto a indicar aos laboratórios o que fazer quando descobrissem amostras positivas, e ainda uma lista de todos os atletas com indícios de doping.

Em relação às medalhas dos atletas envolvidos no escândalo, cabe agora à Agência Mundial Antidopagem decidir o que fazer. McLaren disse esta manhã aos jornalistas que entregou toda a informação à agência para que a decisão possa ser tomada de forma independente.

Comité Paralímpico: esquema de doping “atinge o coração da integridade e ética desportiva”

Num comunicado citado pela imprensa internacional, o Comité Paralímpico Internacional mostra-se disponível para trabalhar com o Comité Paralímpico Russo para “corrigir o sistema antidoping da Rússia, que está comprometido”. Para a organização que gere o desporto paralímpico a nível mundial, “os resultados finais do relatório atingem coração da integridade e ética desportiva”.