Para as escolas do ensino básico o ranking é ordenado tendo por base a média das notas dos exames dos alunos do 9º ano de Português e Matemática. E antes de chegarmos às listas ordenadas das escolas com melhores e piores notas, há um dado a destacar: quase metade das escolas apresenta média negativa combinada dos dois exames. Mais exatamente, 46,4%, 515 escolas em 1.105. Quando decompomos estes números, verificamos que o grande problema está centrado na Matemática.
Enquanto a Português só 10,2% das escolas apresentam uma média negativa — correspondente a 113 escolas —, a Matemática o número dispara para 65,2%, o que corresponde a 721 estabelecimentos de ensino a terem uma média de exame abaixo dos 50%, numa escala de 0% a 100%.
Privados no topo do ranking
Olhando agora para a lista ordenada das 1.105 escolas que entram no ranking elaborado pela Nova SBE para o Observador, percebemos que no top 10 só aparecem estabelecimentos de ensino privados. O Colégio Novo da Maia é a escola com resultados mais altos nos exames de Português e Matemática do 9º ano, onde 98 alunos prestaram provas.
Para encontrarmos a primeira escola pública temos de deslizar até à 35ª posição, onde aparece a Escola Secundária D. Manuel I, em Beja. No que diz respeito às escolas públicas, há dados que ajudam a perceber o contexto socioeconómico dos alunos que compõem o agrupamento, como a percentagem de alunos a receberem apoio através de ação social escolar e as habilitações escolares das mães e dos pais — recorde-se que, nos vários estudos que têm sido feitos ao desempenho das crianças, chega-se à conclusão de que o grau de habilitação escolar das mães é dos que mais influencia os resultados escolares dos filhos.
No fundo da tabela, é bem visível o peso do contexto socioeconómico dos alunos que compõem as escolas com pior média nos exames de Português e Matemática do 9º ano. As escolas das regiões autónomas não enviaram esses dados (não são obrigadas a tal), mas as restantes mostram que a maioria dos alunos são carenciados. A Escola Básica do Vale da Amoreira, na Moita, que ocupa o último lugar, tem 78,2% dos seus alunos a receberem ação social escolar. As habilitações das mães não vão, em média, além dos sete anos de frequência escolar — para ter um termo de comparação, na escola pública mais bem classificada as mães andaram mais de 12 anos na escola.
Piores privadas com médias negativas nos exames
Mas nem só de escolas públicas vivem os últimos lugares do ranking. Temos de subir ao 20.º pior lugar para encontrar a primeira escola privada, mas nas 10 piores privadas todas apresentam médias negativas nos exames de Português e Matemática. Destas 10 escolas, quatro são colégios com contratos de associação que este ano ficaram impedidos de abrir novas turmas em início de ciclo, apoiadas pelo Estado.
A avaliar pelos maus resultados nos exames de Português e Matemática — e principalmente Matemática — dos alunos do 9º ano, não terá existido uma grande melhoria nas já altas taxas de retenção dos alunos portugueses. Os últimos dados divulgados no PISA apontam que até aos 15 anos, 34% dos alunos portugueses já ficaram retidos pelo menos uma vez. Uma situação que valeu uma nota de desagrado por parte do ministro da Educação:
“Estamos, infelizmente, numa montra em que não queremos estar, em que não nos podemos dar ao luxo de estar: o dos três países da OCDE que apresentam maior taxa de retenção entre as mais de sete dezenas de países ou economias que este relatório analisa, quase triplicando a taxa média da OCDE, que ronda os 13%”, referiu, defendendo de seguida que é necessário fazer um esforço para combater estes níveis de retenção e reduzir a taxa para metade.
“Esta situação agrava-se quando constatamos que Portugal está entre os países cujas retenções estão mais associadas ao contexto socioeconómico dos estudantes, mesmo entre estudantes com um nível de desempenho semelhante no PISA”, acrescentou Tiago Brandão Rodrigues.