Os melhores
“Em Busca do Tempo Perdido”, Marcel Proust (Relógio d’Água)
Um top 5 dos melhores livros publicados em Portugal que pretenda ser justo teria que colocar nos cinco primeiros lugares cinco volumes do romance de Proust. O mundo divide-se em dois tipos de pessoas: aquelas que acham que é possível definir o mundo subdividindo-o em dois grupos descritos em menos de vinte palavras e as que percebem que não podemos compreender completamente o que quer que seja nem que dediquemos a essa tentativa mais de três mil e setecentas páginas. Proust está neste segundo grupo. E é por isso que é um dos melhores escritores de sempre.
“A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram Num Bar”, Ricardo Araújo Pereira (Tinta-da-China)
Ao escrever o livro que é agora publicado pela Tinta-da-China, Ricardo Araújo Pereira não está a procurar garantir o lugar de maior humorista português. Esse lugar já não está sequer em discussão. Com este livro, RAP está a pedir para entrar na galeria dos melhores escritores contemporâneos portugueses. Eu não sou o porteiro, mas se fosse, deixava-o entrar.
“Levante-se o Réu (Outra Vez)”, Rui Cardoso Martins (Tinta-da-China)
A premissa é simples mas inesperada: todas as manhãs, Rui Cardoso Martins acorda e dirige-se ao Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa para assistir a julgamentos de pequenos crimes. O resultado, no entanto, é um livro de crónicas que revela um escritor virtuosíssimo e que nos faz quase invejar uma rotina tão bizarra.
“Tudo O Que Sobe Deve Convergir”, Flannery O’Connor (Relógio d’Água)
A melhor ideia editorial do ano foi, sem dúvida, a de juntar nove dos melhores contos de Flannery O’Connor com uma tradução e posfácio irrepreensíveis de Rogério Casanova.
“You Want It Darker”, o livrete, Leonard Cohen (Columbia Records)
O livrete You Want It Darker tinha tudo para ganhar o campeonato de livro do ano, mas, num momento de uma soberba arrogante e imprudente parecida com a do ciclista que cai na reta da meta de braços no ar e champanhe na mão, Cohen decidiu colocar ao lado deste extraordinário livrete um álbum onde estes textos se transformavam em músicas, sendo automaticamente desclassificado da corrida ao título, para estupefacção dos adeptos que já festejavam no recinto. Fica, no entanto, a menção honrosa.
O pior
“As Horas Invisíveis”, David Mitchell (Editorial Presença)
É sempre injusto escolher o pior livro do ano, uma vez que isso implicaria sugerir um conhecimento literário do mundo editorial que manifestamente não tenho. Dito isto, o último livro de David Mitchell é péssimo (a biografia do Éder, por exemplo, também não parece grande espingarda).
[as escolhas de João Pedro Vala:]
João Pedro Vala é aluno de doutoramento do Programa em Teoria da Literatura da Universidade de Lisboa.