As bactérias estão por toda a parte e, como não podia deixar de ser, não perdem uma boa ceia de Natal. Para saber como evitar que os microrganismos nos estraguem as Festas, o Observador falou com Paula Teixeira, investigadora da Escola Superior de Biotecnologia, no Porto.
É certo que a segurança alimentar deve ser uma preocupação durante todo o ano. Contudo, na época natalícia os erros alimentares parecem agravar-se. A pressa e a confusão de organizar uma ceia de Natal não ajudam.
Cozinhar para um grande número de pessoas, em casa, não é fácil. Não cabe tudo no frigorífico e, num ambiente de alguma confusão e stress, algumas regras de higiene podem ser esquecidas.
A investigadora garante que as intoxicações alimentares aumentam durante a quadra natalícia, provocadas pela ingestão de alimentos com bactérias e outros microrganismos prejudiciais à saúde. Os sintomas mais comuns são as dores abdominais, vómitos, diarreia, febre e cansaço.
O que fazer para expulsar as bactérias
O que comemos no Natal? Ora, o bacalhau e o peru estão no topo da lista. Além disso há sempre uma boa canja de galinha, assado, “roupa velha”, queijos, frutos secos, doces e mais doces. O mais importante é a “qualidade e frescura”. Os alimentos que integram os pratos principais devem ser cozinhados a altas temperaturas que permitam destruir as bactérias. Em relação ao peru, Paula Teixeira explica que a ave deve ser descongelada lentamente no frigorífico e, depois, assada lentamente.
A decoração da mesa de Natal engloba os mais diversos doces. Mas será que os podemos deixar em exposição? Os bolos sem recheio ou creme e os fritos, sim. “Quantidades elevadas de açúcar previnem o crescimento das bactérias“, explica a investigadora. Mas os doces de colher devem ficar pela cozinha, no frigorífico, e só ser revelados na hora da sobremesa. Má notícia para as crianças é que os pais devem proibir o “raspar” das taças onde são confecionados os doces: “Esta gulodice deve ser terminantemente proibida”, porque os ovos (crus) podem estar contaminados.
As sobras devem ser guardadas no frigorífico e consumidas no prazo de dois dias. “Muitos alimentos poderão continuar seguros ao fim de quatro, cinco ou mais dias, mas é melhor não arriscar, uma vez que também já não serão tão saborosos” garante Paula Teixeira. A canja, se for reaquecida, deve ferver durante alguns minutos, para garantir que as bactérias são destruídas.
Em suma, existem quatro regras a seguir para uma ceia de Natal segura:
- Lavar as mãos, os utensílios, as superfícies — com papel de cozinha, se for com um pano trocá-lo com frequência — e os alimentos;
- Cozinhar bem os alimentos, a altas temperaturas;
- Colocar a comida no frigorífico. Arrefecer rapidamente e colocar no frio, no máximo em duas horas;
- Separar os alimentos crus dos cozinhados (no carrinho de compras, no saco de supermercado e no frigorífico).
Organização no frigorífico
Desengane-se quem pensa que os alimentos podem ser colocados aleatoriamente no interior do frigorífico. Este não deve estar demasiado cheio e o ideal é que as prateleiras do meio estejam a 5ºC. Como as prateleiras não estão todas à mesma temperatura, os alimentos devem ser arrumados respeitando a seguinte ordem: carne, peixe e marisco cru na prateleira debaixo; charcutaria, saladas, bolos com creme e doces nas prateleiras do meio; alimentos cozinhados, iogurtes e queijos nas prateleiras mais acima e o leite, ovos, manteiga, água e bebidas na porta.
Comida em viagem e caminhada em família
Existem pessoas que percorrem muitos quilómetros para estar com os seus familiares e muitas fazem questão de levar comida, mas cozinhar na hora é o mais correto. Caso o transporte de alimentos já confecionados seja mesmo necessário “é importante que sejam transportados em condições de temperatura adequadas — os alimentos frios bem frios, e os quentes bem quentes”, avisa a investigadora.
As tentações são muitas mas Paula Teixeira garante que existem estratégias que ajudam a evitar os excessos (e com eles, os microrganismos). Sugere começar a ceia de Natal com uma sopa de legumes (que tira a fome), comer porções mais pequenas, apostar na água e na fruta. Como sabemos que é difícil fugir aos excessos, depois de cometidos é hora de acalmar o estômago. “Nada melhor do que aproveitar a manhã de Natal para uma caminhada em família” aconselha Paula Teixeira.