Os principais jornais mundiais estão a noticiar a morte de Mário Soares, sendo em Espanha o desaparecimento do ex-Presidente da República é mesma um das notícias do dia.
O correspondente em Lisboa do El País escreve que “é impossível compreender os últimos 50 anos de Portugal sem Mário Soares”, recordando o seu papel na luta contra a ditadura do Estado Novo mas também o combate à “deriva comunista da revolução dos cravos”. A notícia da morte de Soares é a manchete do site do El País.
Já o “El Mundo” publica uma notícia e um obituário de fundo com o título “Mário Soares: pai da democracia portuguesa”, em que recorda a vida de Soares. “A vida de Mário Soares e a história da democracia portuguesa andaram sempre de mãos dadas”, é a primeira frase do texto do obituário publicado por Virgina Lopez, corresponde em Lisboa.
O jornal digital “El Español” recorda os “muitos paralelismos” da vida de Mário Soares “com Felipe González”, o líder histórico do PSOE — o partido irmão do PS em Espanha. “Ambos militaram no socialismo, lutaram contra a ditadura na clandestinidade, foram decisivos para a transição para a democracia, lutaram contra o controle da esquerda pelos comunistas, combateram o atraso económico dos seus países, colocaram a Península Ibérica na Europa e foram incómodos com ex-presidentes pelas suas contínuas ingerências”, escreve o jornal liderado por Pedro J. Ramirez (fundador e ex-diretor do “El Mundo”).
Brasil: Um humanista admirado pela sua tenacidade
Todos os principais jornais brasileiros noticiaram igualmente a morte de Mário Soares. O Globo deu a manchete do seu site ao falecimento do ex-Chefe de Estado português com um texto que tem a seguinte entrada:
Talvez a principal maneira de se conhecer não só o legado de uma pessoa, mas também sua personalidade e caráter, seja apreender o que se disse dela, no que foi mais marcante e quais as palavras mais usadas para defini-la. No caso do português Mário Soares, impressiona a quantidade de vezes em que o citam como um dos principais defensores da democracia em Portugal”.
Através do seu correspondente em Madrid, a Folha de São Paulo apelida Mário Soares como uma “figura controversa entre os portugueses”, acrescentando que lhe é “creditado por ter assentado as bases do que seria o Estado democrático português, de que é dito pai”.
Já o Estado de São Paulo diz que Soares “era admirado por sua tenacidade e otimismo exuberante”.
New York Times: “Lutou contra o isolamento económico do seu país”
O New York Times noticia a morte de Mário Soares, enfatizando a sua luta contra “isolamento económico do seu país” e contra os “esforços para arrastar a revolução [do 25 de Abril] para um terreno anti-democrático”, a defesa da “independência das colónias portuguesa em África” e a “integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia”.
O jornal de Nova Iorque, de língua inglesa e lido em todo o mundo, ensina ainda os seus leitores a pronunciar corretamente o apelido do ex-líder do PS: “Pronuncia-se SWAH-esh”.
O Washington Post, o principal rival do NYT, publica uma peça da Associated Press assinada por Barry Haton, chefe da delegação portuguesa, onde se recorda o papel do estadista do fundador do PS. “O papel de estadista de Soares solidificou-se através do seu trabalho com a Internacional Socialista (IS). Como vice-presidente desde 1976, liderou missões diplomáticas que pretenderam ajudar a resolver diversos conflitos no Médio Oriente e na América Latina e Central. Soares estava em visita à Palestina para falar com Yasser Arafat em Gaza quando o então primeiro-ministro israelita Yitzahk Rabin foi assassinado em Tel Avi em 1995. Arafat e Rabin eram amigos de longa data de Soares”.
Financial Times: o “socialista que guiou Portugal rumo à democracia”.
O jornal britânico Financial Times (FT), jornal de referência global especializado em informação económica e internacional, afirma que Mário Soares foi o socialista que guiou Portugal rumo à democracia”. Peter Wise, o correspondente em Lisboa do jornal, recorda uma frase curiosa do ex-líder do PS proferida em 1996 — ano em que abandonou a Presidência da República após dois mandatos.
Se eu tivesse vivido em democracia, em vez de passar 32 anos a sair e a entrar da prisão, a correr da polícia e a conspirar em segredo contra a ditadura, poderia ter alcançado muito mais para Portugal”, cita o FT.
Já agência económica Bloomberg noticia a morte de Mário Soares num texto que tem como título “Mário Soares, que ajudou a fundar a democracia portuguesa, morre aos 92 anos”. A agência publicou, ainda, dois outros artigos em que destaca o facto de Soares ter sido o primeiro líder de Governo eleito democraticamente após o 25 de Abril.
França: “Um reformista”, classifica o Le Monde
O jornal francês Le Monde publica um vídeo sobre a vida política de Mário Soares, com a referência, em título, de que o ex-Presidente da República foi um “reformista que, desde o início, defendeu uma democracia orientada para a Europa”.
O jornal francês Libération escreve que Mário Soares liderou com mão firme a transição de Portugal para um Estado de Direito, depois da queda da ditadura, e qualifica o antigo Presidente da República como defensor de uma Europa unida.
O conservador Le Figaro publica uma pequena notícia da agência AFP em que se lê: “Mário Soares contribuiu de forma decisiva para a construção da democracia e para a integração europeia” de Portugal.
Angola: “Soares teve um papel relevante na independência das ex-colónias”
O Jornal de Angola ainda não tem no seu site nenhuma notícia sobre o desaparecimento de Mário Soares. Trata-se do principal jornal do país, nas mãos do Estado e do MPLA, que é conhecido por críticas constantes a Portugal. A família Soares, pelo apoio que Mário e o seu filho João sempre deram à Unita de Jonas Savimbi, sempre foi um dos seus alvos.
O jornal O País destaca “o papel relevante” de Soares “nas negociações com os movimentos nacionalistas que exigiam a independência das ex-colónias portuguesas em África”.
No Paquistão, o desaparecimento de Mário Soares foi igualmente noticiado pelo jornal Tribune — que publica a peça feita pela agência da AFP.