Nigel Farage falou durante cerca de quatro minutos e meio. Discorreu sobre a eleição de Trump e sobre o projeto europeu “anti-americano”, criticou as atribuições da comissária europeia (e vice-presidente da comissão Juncker) Federica Mogherini, puxou pelos galões do resultado do seu partido nas últimas eleições europeias e ainda entrou num despique com o vice-presidente do Parlamento Europeu David Sassoli. Durante todo esse tempo, sentado na fila de trás do hemiciclo, outro eurodeputado enquadrado pela emissão televisiva da sessão segurava uma folha A4 com uma frase: “Ele está a mentir-lhe”. Para que ficasse mais claro, uma seta desenhada ao canto da folha apontava diretamente para Farage.
O episódio aconteceu esta quarta-feira. Durante a sua intervenção, Farage não fez qualquer menção ao recado que o eurodeputado atrás de si fazia chegar a quem acompanhava a sessão.
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E, apesar de se ver obrigado a chamar a atenção do britânico para os termos em que se referia à comissária europeia, Sassoli pediu a intervenção do contínuo parlamentar para que levasse o eurodeputado a baixar a folha. Carlos Cordeiro, o contínuo parlamentar português em questão, aproximou-se do eurodeputado para levar a mensagem do vice-presidente do Parlamento Europeu.
Durante alguns minutos, o eurodeputado argumentou com Carlos Cordeiro, que tentava explicar-lhe o excesso de linguagem naquele recado, mas até ao final da intervenção de Farage — que continuou sem fazer qualquer menção à mensagem — a folha manteve-se bem visível.
Os eurodeputados ao Parlamento Europeu estão reunidos em sessão plenária esta quarta e quinta-feiras. Em debate estão as medidas anti-imigração de Donald Trump, o estado da União da Energia, o mecanismo da salvaguarda para as bananas europeias e o reconhecimento transfronteiriço dos certificados de adoção, entre outros.
O episódio não acontece por acaso. A fação política representada e Bruxelas por Nigel Farage — um eurocético, presidente do grupo Europa da Liberdade e da Democracia Direta, de que faz parte o UKIP e o Movimento 5 Estrelas — é vista com desdém no Parlamento Europeu. Ainda na semana passada, durante a apresentação da presidência rotativa de Malta no Conselho da União Europeia, o eurodeputado liberal Guy Verhofstadt perguntava a outros deputados eurocéticos porque continuavam a aparecer nas sessões.
