A vida não está fácil para François Fillon, o candidato do centro direita às eleições presidenciais francesas de abril/maio, que tem sido visto como o único capaz de derrotar a extrema-direita de Marine Le Pen numa eventual segunda volta. É que à medida que aumenta o escândalo do “Penelopegate”, sobre a suspeita de utilização de dinheiros públicos para contratar de forma fictícia a sua mulher, Penelope, aumenta também a pressão do partido republicano para que se retire da corrida presidencial. Pela primeira vez, sondagens começam a mostrar Fillon a afundar e a nem sequer conseguir passar a uma segunda volta para defrontar a candidata da extrema-direita.

Não era o que diziam as sondagens até aqui. Fillon era há muito considerado favorito para vencer umas eleições que se esperam muito disputadas, com a maioria das sondagens a prever que Marine Le Pen ganhasse vantagem na primeira volta mas que tivesse de defrontar o ex-primeiro-ministro François Fillon no segundo round, em maio. Aí sim, com os esforços combinados, os barómetros e estudos de mercados apontavam para que fosse Fillon o vencedor com larga vantagem.

O caso pode estar, no entanto, a mudar de figura desde que, na semana passada, rebentou o escândalo associado aos pagamentos à mulher. Entre 1998 e 2012, Penelope Fillon terá sido contratada mais do que uma vez pelo marido, quando era deputado, enquanto assistente parlamentar, um cargo que nunca terá ocupado e pelo qual recebeu meio milhão de euros (dinheiro do Estado). Fillon nega as alegações e diz-se mesmo vítima de “uma empreitada de calúnias deveras profissional”, mas esta semana já foi formalmente ouvido pela política. As últimas sondagens, segundo conta o Guardian, já sugerem um cenário em que Fillon cairia na primeira volta e à segunda volta passariam Marine Le Pen e o candidato centrista independente Emmanuel Macron.

Instalada a dúvida e a polémica em torno do candidato republicano, o partido Republicano, que apoia a candidatura do ex-primeiro-ministro, começou a questionar-se sobre se Fillon ainda seria uma boa aposta eleitoral, já que a sua campanha foi toda cuidadosamente construída à volta da imagem de um homem honrado que quer reduzir os gastos públicos e cortar nos empregos do Estado. Não é que os republicanos estejam formal e oficialmente à procura de um candidato de última hora, até porque depois de Fillon ter derrotado Sarkozy e Juppé nas primárias internas, não há tempo para nova ronda eleitoral. Mas a verdade é que segundo a imprensa francesa, as suspeitas não caíram bem ao partido, que se recusa ser “a orquestra que vê o Titanic afundar”, como chegou a dizer um deputado, Georges Fenech, à France Info.

Outro deputado republicano, Bruno Le Maire, acrescenta que a quantia envolvida no escândalo dos empregos fictícios “chocou muito o povo francês”. Certo é que os republicanos não têm apenas as presidenciais em vista: em junho há legislativas e o partido teme vir a ser prejudicado por causa do candidato que apoiou nas presidenciais de abril/maio.

Uma sondagem, divulgada pela Europe 1 esta terça-feira, dá conta de que três em cada quatro franceses (76%) não ficaram convencidos com a resposta dada por Fillon depois de se ver envolvido no escândalo, enquanto apenas 29% pensam que o candidato presidencial disse a verdade. Enquanto a investigação decorrer e não houver acusação, Fillon garante que ficará como candidato e lutará até ao fim. E insiste ser vítima de uma conspiração, de um “golpe de Estado”, para o afastar da corrida. Quando o caso rebentou, na semana passada, François Fillon chegou a admitir desistir da corrida se fosse investigado pela polícia.

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