890kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Os melhores restaurantes vegetarianos para quem gosta de carne

Este artigo tem mais de 5 anos

O título pode soar satírico mas é tão rigoroso como a dieta de Hollywood: é cada vez mais fácil encontrar restaurantes vegetarianos com propostas capazes de agradar ao mais convicto dos carnívoros.

No Psi, junto ao Hospital dos Capuchos, em Lisboa, a comida não só é boa. Também é bonita.
i

No Psi, junto ao Hospital dos Capuchos, em Lisboa, a comida não só é boa. Também é bonita.

www.restaurante-psi.com

No Psi, junto ao Hospital dos Capuchos, em Lisboa, a comida não só é boa. Também é bonita.

www.restaurante-psi.com

Permitam-me começar este artigo com uma nota pessoal. Passei boa parte da infância — as saudosas férias grandes — a ver o meu avô matar diversos animais. Coelhos, por exemplo, com golpes certeiros no cachaço. O ato nunca me perturbou: no dia da matança ia com ele buscá-los, brincava com os bichos no pátio da casa, dando-lhes cenouras e festas, e entregava-os de bom grado à medida que ele lhes aplicava o calduço letal. Naquela casa os animais criavam-se para serem comidos: era tão natural celebrar-se o nascimento de uma ninhada de bezerros como a morte ruidosa de um porco. Também vi algumas galinhas a correr sem cabeça — e quando contava isto aos meus amigos de Lisboa eles achavam que estava a mentir. Não estava.

Devo ter comido a minha primeira cabidela por volta dos três anos. Durante a escola primária, sempre que levava língua de vitela estufada ou arroz de miúdos no thermos devorava-os com tal avidez que passava a primeira meia hora do intervalo de almoço a brincar sozinho. Fui cliente assíduo, enquanto existiu, de um minúsculo restaurante em Carnide chamado Naco na Pedra, onde se escolhia a carne da montra, como no talho, ao corte e ao peso. Por defeito, os bifes rondavam os 200 gramas, mas eu pedia de 350. Nunca do lombo: preferi sempre o sabor à tenrura.

Cabidela vegetariana? Também existe, com beterraba. José Avillez já a serviu, em tempos, no Belcanto. (foto: © Boa Onda Produções)

Assim, e como devem calcular, durante largos anos evitei entrar em restaurantes vegetarianos. Pior: olhava para eles com muito desdém. Em 2009 fui pela primeira vez ao Jardim dos Sentidos (Rua da Mãe d’Água, 3. 21 342 3670), onde agora almoço com alguma frequência. E não é que o tenha feito de ânimo leve, mas era o aniversário de uma colega e decidi alinhar na aventura. Resultado: passei a refeição inteira a comer bolas de arroz fritas. O acompanhamento? Arroz. Tudo o resto me parecia ou soava, pela descrição, intragável. Nessa altura, achava que seitan saberia sempre a esponja de banho, que tofu era um pudim fora do seu habitat e que as cozinhas dos vegetarianos tinham um prazer mórbido em destruir os legumes cozendo-os para lá do razoável.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

https://www.instagram.com/p/BNP4u0OjKgt/?taken-by=jardimdossentidos

Hoje sou capaz de reconhecer sem qualquer pudor que não passava de um idiota preconceituoso. A cozinha do Jardim dos Sentidos é boa e variada — e é provável que já o fosse nessa altura. Todos os dias há propostas diferentes ao almoço, que podem ser consultadas na respetiva página de Facebook. O preço do buffet ao almoço é generoso: 8,90€, com direito a chá. À carta também não faltam opções interessantes, entre saladas coloridas e completas, chili mexicano, caril tailandês ou cuscuz marroquino. E sim, este jardim inclui um pequeno jardim, nas traseiras, que tem uma zona coberta.

A primeira vez que fui ao Psi (Alameda Santo António dos Capuchos. 21 359 0573) também entrei desconfiado. Mas saí rendido. O espaço, pende para o bucólico — é uma espécie de tenda arredondada com um bonito jardim à volta, ao que consta inaugurado pelo Dalai Lama — e, quando assim é, nem sempre a comida acompanha as vistas. Aqui, pelo contrário, talvez supere: o falafel em wrap, opção frequente ao almoço, é mais e melhor almôndega que certas almôndegas, rico em sabor e texturas, com ótimos acompanhamentos. Os pratos de tofu também merecem atenção: seja braseado à moda coreana, bem picante, salteado com manga, bróculos e molho de amendoim ou em caril. O menu semanal custa entre 10,90€ e 11,90€, com direito a sopa e bebida — não se serve álcool, que isso vai contra os princípios da casa, mas a limonada com gengibre, erva-príncipe, raiz de açafrão e mel é melhor que certos vinhos reputados.

https://www.instagram.com/p/BO22TLXgdFX/?taken-at=215126365

Em meados do ano passado, provei alguns pratos vegan do Ao 26 (Rua Vitor Cordon, 26. 96 798 9184) e esfumaram-se ainda mais os velhos preconceitos. O Bruno Ferraz, que na altura chefiava a cozinha — entretanto saiu — mostrou-me que uma bifana de seitan, desde que devidamente marinada tempo suficiente, neste caso com tomilho e alecrim, pode, de facto, transformar-se num produto alegremente comestível. O hambúrguer de beterraba quase passa, à primeira vista, por um de carne bem vermelha. Sendo que este é o melhor elogio que um tipo como eu lhe pode fazer. Ainda por cima, o restaurante é bonito e confortável, sem meter jardins, panos orientais ou mobiliário roubado à beira de estrada ao barulho. O mesmo posso dizer do novo Graça 77 (Largo da Graça, 77. 91 082 8612), também ele muito bem decorado e um ótimo vegetariano de transição — as receitas imitam clássicos omnívoros, sem pejo em usar natas, queijos e afins (não é vegan, atenção) para enriquecer o sabor. Pondo as coisas numa regra de proporções: o que ali se serve está para o carnívoro como o hot roll para o iniciante ao sushi.

Pela decoração ninguém diria. Mas sim, é um restaurante vegan: o Ao 26.
(foto: © Tiago Pais / Observador)

A minha relação com os restaurantes vegetarianos foi melhorando à medida que os próprios restaurantes vegetarianos foram, também eles, melhorando. E isso deveu-se em boa parte a alguns cozinheiros vindos de fora, que trouxeram novas formas de usar velhos ingredientes. No The Food Temple (Beco do Jasmim, 18. 21 887 4397), na Mouraria, a canadiana Alice Ming todos os dias inventa novos petiscos vegan que serve em pequenas doses, ideais para rodar e partilhar: saladas chinesas, arrozes, caris, noodles, estufados diversos…a criatividade é assinalável. E a popularidade também: arranjar mesa pode ser um cabo dos trabalhos, deve reservar-se com alguma antecedência. No Princesa do Castelo (Rua do Salvador 64 A, 21 887 1263), uns (bons) metros encosta acima, o chefe e proprietário indiano Nandan Bhoopalam — que também é instrutor de ioga — segue os princípios da dieta sátivca, com preocupações nutritivas e enérgicas. Felizmente isso é compatível com o sabor, como pude comprovar num almoço recente: o uso de especiarias é uma constante, pese os pratos do dia nunca se repetirem.

Exemplo de um prato do dia no Princesa do Castelo: tofu salteado em gengibre com arroz integral, vegetais e pure de abobora e nozes. (foto: © Tiago Pais / Observador)

Já na colorida House of Wonders (Largo da Misericórdia, 53. 91 170 2428), em Cascais, que também é café, galeria de arte e rooftop, um dos chefes é sírio e isso nota-se na seleção de mezze (que no Médio Oriente designa pratos em pequenas doses, para partilhar) frios, em buffet, e quentes, que também vão mudando regularmente. Conselho: convém deixar espaço para as sobremesas, que podem ser cruas, vegan ou sem glúten e combinadas a la pijaminha tradicional.

Depois, há aqueles sítios seguros de almoço, baratos — menos de 10€ a refeição –, onde posso poupar o corpo às agruras da comida de tasca. Falo, por exemplo, da cafetaria do supermercado biológico Miosótis (Rua Latino Coelho, 89. 21 136 9849), onde há sempre um prato quente e uma salada completa, variada e muito bem temperada, além de sumos naturais de fruta e (boas) sobremesas sem açúcar. Falo também do pequeníssimo e acolhedor Alfarroba (Rua Tomás Ribeiro, 28. 93 288 1545), onde os pratos do dia estão à vista, há simpatia a rodos, bolachas saudáveis para acabar a refeição e barras energéticas com sabor a queijo de figo para levar para casa. Ou do Oásis (Rua Marquês Sá da Bandeira, 76. 21 809 5457) onde é possível combinar duas ou três das sugestões diárias no mesmo prato. À quarta-feira — fica a dica — é sempre dia de feijoada vegetariana. Bate a tradicional? Não bate. É uma alternativa interessante? É pois.

E assim, como quem não quer a coisa, cheguei às dez sugestões. Nada mau para quem sonha com o dia em que as papas de sarrabulho chegarão, finalmente, a Lisboa. Enquanto isso não acontece, vou só ali comer um leitãozinho para repor as forças. Mas com salada.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.