O inquérito diocesano do processo de canonização de Lúcia de Jesus, um dos pastorinhos de Fátima, com mais de 15.000 páginas de “provas e testemunhos”, foi esta segunda-feira encerrado com uma sessão no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra.
Promovida pela diocese de Coimbra e vice-postulação da Causa de Canonização da Irmã Lúcia, a cerimónia, que decorreu ao final da tarde desta segunda-feira, na igreja do Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, concluiu formalmente a fase diocesana do processo, que vai ser enviado para a Congregação da Causa dos Santos e passa, assim, “a partir de agora, para a competência direta” da Santa Sé e do papa.
A fase diocesana do processo, que demorou cerca de oito anos, reúne, em 15.483 páginas, os escritos de Lúcia e os depoimentos das mais de 60 testemunhas “ouvidas acerca da sua fama de santidade e das suas virtudes heroicas”, disse o bispo de Coimbra, Virgílio Antunes.
Esta fase teve como objetivo “recolher as provas necessárias para mostrar que, ao longo da sua vida”, Lúcia de Jesus “praticou as virtudes heroicas que se esperam de um santo canonizado, de alguém que pode ser modelo para os outros irmãos na fé”.
Para a diocese de Coimbra, “este é um momento verdadeiramente histórico“, designadamente porque “não há notícia recente” de uma canonização, sublinhou o Virgílio Antunes, recordando, no entanto, as ligações a Coimbra de santos como António, Teotónio e [rainha] Isabel.
Agradecendo a todos quantos se envolveram no processo para a canonização de Lúcia de Jesus, desde o papa Bento XVII ao Santuário de Fátima ou ao Carmelo de Coimbra (onde a carmelita viveu, em clausura, a maior parte da sua vida e onde morreu em 2005, aos 98 anos), o prelado concluiu que “o inquérito que esta segunda-feira se encerra é fruto de muito trabalho, generosidade e muito amor à Igreja”.
O processo de canonização de Lúcia, cuja abertura ocorreu em 30 de abril de 2008, por decisão do então bispo de Coimbra, Albino Cleto, “demorou alguns anos por causa da quantidade de documentos deixados e a necessidade de os trabalhar bem”, explicou, em janeiro, em declarações ao Santuário de Fátima, Ângela Coelho, vice-postuladora da causa de canonização da Irmã Lúcia.
“Cada página que a Irmã Lúcia escreveu teve de ser minuciosamente analisada e estamos a falar de um universo de 10.000 cartas que conseguimos recolher e de um diário com 2.000 páginas, para além de outros textos mais pessoais”, destacou Ângela Coelho, que é também postuladora da causa de canonização dos pastorinhos beatos Jacinta e Francisco Marto (“os irmãos que, juntamente com Lúcia, segundo o testemunho reconhecido pela Igreja Católica, presenciaram as aparições da Virgem Maria na Cova da Iria, entre maio e outubro de 1917”).
O processo para a beatificação de Lúcia tem de considerar que se está na presença de “uma mulher que viveu quase 98 anos, que se correspondeu com papas, desde Pio XII até João Paulo II”, com cardeais e bispos, entre “muitas outras pessoas”, salientou Ângela Coelho.
Após a sessão de clausura do processo — no dia em que se completam 12 anos sobre a morte da vidente de Fátima –, que terminou com o fecho lacrado do último do conjunto de volumes a enviar para o Vaticano, foi celebrada uma “missa de ação de graças”.
No âmbito ainda das celebrações da conclusão da parte diocesana para a canonização de Lúcia de Jesus, está agendado para a noite desta segunda-feira um concerto pelos coros Sinfónico Lisboa Cantata e Infantil do Conservatório Regional de Coimbra e pela Orquestra Clássica do Centro, na Sé Nova de Coimbra.