A Fidelidade, a maior seguradora portuguesa, vai estudar o investimento na emissão de dívida perpétua a lançar pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) nas próximas semanas. A seguradora é um “investidor e um parceiro de longo prazo da CGD e, por isso fará todo o sentido estudar esta oportunidade de investimento, bem como outras oportunidades de cooperação” com a Caixa que tem 15% do capital da Fidelidade.

A informação foi avançada ao Observador pela área de investimentos da Fidelidade que, no entanto, ressalva que uma decisão de subscrição terá sempre presente os requisitos prudenciais para investimentos em dívida perpétua e condicionada, como é a emissão de 500 milhões de euros que a Caixa vai fazer no quadro da recapitalização. Estes instrumentos de dívida quase capital têm um nível de risco mais elevado do que as obrigações normais porque podem vir a ser convertidos em capital do emitente, com perda para o investidor.

A Fidelidade tem o perfil dos destinatários desta emissão, é um investidor institucional, e tem aplicado recursos importantes no passado recente na Caixa Geral de Depósitos que vendeu o controlo acionista da seguradora aos chineses da Fosun em 2013.

No entanto, no último ano, a empresa reduziu de forma substancial o investimento em títulos de dívida (obrigações) emitidos pelos seus dois acionistas, a Fosun e a Caixa Geral de Depósitos.

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As contas de 2016, divulgadas esta semana, mostram que a seguradora reduziu para cerca de metade as aplicações numa subsidiária da Fosun, que tem cerca de 85% do seu capital. A Fidelidade chegou a ter quase mil milhões de euros em obrigações desta sociedade, no final de 2014, uma operação que gerou alguma polémica porque o montante aplicado correspondia quase ao preço que o grupo chinês pagou pelo controlo da seguradora portuguesa em 2013. Desde então, a Fidelidade tem vindo a reduzir a sua exposição às obrigações da sua principal acionista, que estão classificados em ativos disponíveis para venda, passando de cerca de 670 milhões de euros em 2015 para pouco mais de 30o milhões de euros no final do ano passado, o que representa 2% dos ativos totais da carteira de investimento.

Ainda mais substancial, em termos relativos, foi a diminuição das aplicações em títulos da Caixa Geral de Depósitos, que é a segunda acionista da seguradora. Os ativos da CGD classificados como disponíveis para venda caíram de 487 milhões de euros em 2015, para pouco mais de 20 milhões de euros no ano passado. Este é o valor mais baixo desde pelo menos 2013, embora a Fidelidade tenha outras exposições à Caixa, nomeadamente ao nível de depósitos. No total, as obrigações da Caixa na carteira da Fidelidade valiam no final do ano passado cerca de 74 milhões de euros.

Este travão a fundo, em relação aos valores aplicados em anos anteriores, terá como explicação o vencimento das obrigações que estavam em carteira, e a ausência de novas emissões por parte da Caixa que vai voltar ao mercado este ano, por força das condições de recapitalização negociadas com a Comissão Europeia.

Lucros de 211 milhões em 2016, mas sem dividendos

A Fidelidade apresentou um lucro consolidado de 211,1 milhões de euros em 2016, um valor que representa uma queda de 26,3% face a 2015. Esta queda é explicada pela seguradora com o facto de em 2015 ter beneficiado de proveitos extraordinários na área dos investimentos que não se repetiram este ano.

Ainda assim, destaca o relatório e contas de 2016, o resultado apurado no ano passado representou uma subida de 18,4% face a 2014. Apesar do lucro, o grupo não vai pagar dividendos aos acionistas, os chineses da Fosun e a Caixa Geral de Depósitos. A proposta da administração a apresentar à assembleia geral para a aplicação dos resultados individuais de Fidelidade, que lucrou 110,4 milhões de euros, prevê que a totalidade dos resultados seja afeta às reservas da empresa.

A retenção dos resultados permite reforçar os capitais da companhia até estarem clarificadas questões relativas ao Pacote Solvência 2 aplicado ao setor segurador. Esta tem sido aliás, uma prática seguida em outras seguradoras europeias. O ano de 2016 foi marcado pelo reforço dos capitais próprios e do rácio de solvência que no perímetro consolidado se terá fixado em quase 120%.

A nível operacional, a seguradora destaca melhorias nos rácios de despesas e de sinistralidade, apesar do aumento da frequência de sinistros no ramo automóvel verificado em 2016, fruto de um maior tráfego, que não contribuiu positivamente.

A carteira de investimento da Fidelidade atingiu no ano passado os 14,1 mil milhões de euros, o que traduz uma subida de 2,4% em relação a 2015, com Portugal a representar 8,1 mil milhões de euros de ativos. A Fidelidade controla ainda Portugal o grupo Luz Saúde, mas não esteve envolvida financeiramente no investimento realizado pelo seu maior acionista no BCP, onde a Fosun passou a deter 23,5%.

O retorno do investimento ascende a 442 milhões de euros, o que corresponde a um investment yield (remuneração) de 3,2%.

A seguradora, que controla em Portugal o grupo Luz Saúde, destaca ainda o crescimento de 12,7% das operações internacionais de seguros, com França, Luxemburgo, Angola e Espanha a representar mais de 80% do negócio internacional.

Novo posicionamento para o digital

Para Portugal, onde a Fidelidade lidera nos ramos Vida e Não Vida, com uma quota de mercado global de 32,2%, vai ser lançada uma nova campanha para reforçar o posicionamento da marca nos canais digitais de contacto com os clientes. O objetivo é a adaptação da marca e do modelo de negócio aos novos formatos digitais, mas sem deixar cair os canais tradicionais de contacto presencial.

No quadro desta estratégia vão ser lançadas várias aplicações (APP) que estão em fase de piloto que permitem aos clientes ter acesso imediato e direto a informação sobre o progresso do seu processo, em caso de sinistro e assistência em viagem. A par deste novo posicionamento direcionado para as mudanças tecnológicas, a seguradora vai ainda lançar uma campanha institucional que foi apresentada esta quinta-feira, e que irá ser difundida nos media tradicionais, mas também nos meios digitais.