Imagine uma guerra entre a Bentley, um dos fabricantes mais conceituados do mundo e hoje membro do colosso Volkswagen, grupo que em 2016 mais veículos vendeu no mundo, e uma minúscula empresa de Manchester, que produz umas peças de vestuário. Nitidamente, um caso em que poucos apostariam em David. Mas a justiça, pelo menos a britânica, não vai em estórias.

A origem da polémica é antiga e prende-se com as semelhanças, excessivas na opinião de muitos, entre a Bentley Motors e a Bentley Clothing. A pequena empresa de roupas foi fundada em 1962 por Gerald Bentley e limitava-se a produzir calças, calções e polos para golfistas, num estilo tipicamente inglês, aos quadrados e tudo. Bob e Christopher Lees adquiriram a empresa em 1990, quando empregava apenas 10 pessoas e, 19 anos depois, conseguiam registar a sua marca junto das autoridades britânicas. É precisamente isto que a Bentley Motors pretende anular.

A Bentley dos carros alegou que a Bentley das calças estava a tentar o sucesso comercial às suas costas. A família Lee contrapôs, recordando que a Bentley sobre rodas não tem grande tradição no ramo dos tecidos e que, em tempos, autorizou o antigo dono a utilizar o reputado emblema da marca. E o instituto que rege a propriedade intelectual no Reino Unido deu a razão às calças em detrimento dos carros.

Para quem está fora do negócio, esta parece ser uma questão menor. Mas se tivermos em consideração que, por exemplo, a Aston Martin admite que 50% dos seus lucros poderão em breve ser originados pelos acessórios, e que a Ferrari, comparativamente, tem quase mais lucros a vender roupas, sapatos e relógios – além de licenciar os direitos da marca para parques temáticos –, do que a produzir superdesportivos, é fácil perceber o interesse que a marca britânica, propriedade dos alemães, tem em impedir que alguém produza o que quer que seja com a marca Bentley. Sobretudo porque este construtor ainda está a dar os primeiros passos neste domínio e esta decisão do tribunal não ajudou propriamente os seus interesses futuros.

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