Donald Trump anunciou esta quinta-feira, durante uma conferência de imprensa nos jardins da Casa Branca, que os Estados Unidos da América vão abandonar o Acordo de Paris, firmado em 2015, durante a Cimeira do Clima. A saída representa um retrocesso em termos de política ambiental, principalmente depois dos esforços levados a cabo pela anterior Presidência.
“Estamos a cumprir com as nossas obrigações e não quero que nada se meta no nosso caminho. Luto todos os dias pelo grande povo da América e, por isso, para cumprir o meu dever solene de proteger a América e os seus cidadãos, os Estados Unidos vão sair do Acordo do Clima de Paris”, anunciou o Presidente norte-americano, no início de um longo discurso.
Enumerando todos os feitos alcançados pela sua administração desde a tomada de posse, a 20 de janeiro, Trump garantiu que manteve todas “as promessas” que fez “ao povo americano durante a campanha”. “Ainda agora começámos”, afirmou.
Acordo de Paris, uma catástrofe económica para os Estados Unidos
Admitindo ser alguém que se preocupa “profundamente com o clima”, Trump disse que não podia apoiar conscientemente um acordo que “prejudica os Estados Unidos da América”. “O acordo é muito injusto para os Estados Unidos — ao mais alto nível”, disse, explicando que este limita o poder de decisão do Governo norte-americano e se intromete nos assuntos internos.
“Os líderes mundiais não devem ter mais poder de decisão sobre o que se passa nos Estados Unidos do que seus cidadãos. A nossa constituição é única no mundo e é minha obrigação — e grande honra — protegê-la. E fá-lo-ei”, afirmou, salientado que o Acordo de Paris impede “os Estados Unidos de conduzir os seus assuntos internos”, sem explicar exatamente em que é que esta intromissão consistia.
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Donald Trump anunciou a saída dos Estados Unidos da América do Acordo de Paris numa conferência de imprensa nos jardins da Casa Branca (BRENDAN SMIALOWSKI/AFP/Getty Images)
Descrevendo o tratado como uma “ferida auto-infligida na economia” norte-americana, Trump pintou um cenário negro: se os Estados Unidos permanecessem no acordo, haveria grandes riscos para o país. O tratado é, de acordo com o Presidente, uma “distribuição massiva da riqueza dos Estados Unidos para os outros países”.
Procurando afastar os receios relativos ao aumento das emissões de CO2, o Presidente garantiu que os Estados Unidos iriam ser o “país mais limpo” do mundo. “Vamos ter o ar mais limpo, as águas mais puras”, disse. Donald Trump desafiou ainda os líderes mundiais a voltarem a Paris e a fazerem um novo acordo que seja justo para os Estados Unidos e para o povo norte-americano. “. Se conseguirmos, é bom. Se não o conseguirmos, não faz mal.”
“Lideramos com ações, não com palavras”
Scott Pruitt, presidente da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, elogiou a decisão “corajosa” de Trump, que reflete “o compromisso” que tem em “colocar a América em primeiro lugar”. “Prometeu que a América estaria em primeiro lugar e fez isso de diversas formas. Hoje pôs a América em primeiro lugar no que diz respeito aos acordos internacionais do clima.”
Afirmando que os Estados Unidos têm “finalmente um líder que responde apenas ao seu povo”, o presidente da Agência de Proteção Ambiental norte-americana salientou que tudo o que o que Trump faz, “faz pelos homens e mulheres esquecidos deste país”. “A classe trabalhadora vai beneficiar com esta decisão. Com esta ação declara que as pessoas são novamente líderes deste pais.”
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Scott Pruitt falou depois de Donald Trump, defendendo a posição “corajosa” tomada pelo Presidente norte-americano (BRENDAN SMIALOWSKI/AFP/Getty Images)
Garantindo que os Estados Unidos não devem desculpas “a outros países”, Scott Pruitt afirmou que o país deve procurar dar o exemplo e ensinar os outros Estados a diminuírem as emissões de CO2. “Lideramos com ações, não com palavras“, disse.
A desvinculação dos Estados Unidos do Acordo de Paris foi uma das promessas eleitorais de Trump, que sempre se mostrou cético em relação ao aquecimento global (chegou mesmo a admitir que se tratava de uma invenção dos chineses). Já depois das eleições, a atual administração deixou claro que iria abandonar todas metas de emissões estabelecidas pelo Governo de Barack Obama, o compromisso de ajudar os países mais pobres a combater o aquecimento global e reduzir o investimento na investigação de novas soluções.
Depois de muita especulação, Donald Trump revelou na quarta-feira, através do Twitter, que iria anunciar publicamente a sua decisão relativamente ao acordo às 20h desta quinta-feira. Durante o dia, foram vários os jornais norte-americanos que, citando fontes oficiais, davam como certa a saída dos Estados Unidos do acordo.
I will be announcing my decision on Paris Accord, Thursday at 3:00 P.M. The White House Rose Garden. MAKE AMERICA GREAT AGAIN!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 1, 2017
O Acordo do Clima foi assinado em dezembro de 2015, na capital francesa, com o objetivo de conter as alterações climáticas, reconhecendo que estas representam uma ameaça urgente e potencialmente irreversível para o planeta. Entre vários pontos, o documento final prevê a redução das emissões de gases com efeito de estufa, mantendo o aumento da temperatura abaixo dos 2º C. O documento foi afirmado entre 195 Estados, à exceção da Nicarágua e a Síria.
Apesar de ter participado na cimeira, a Nicarágua decidiu não assinar o documento por não concordar com o facto de todas as medidas serem voluntárias e não existirem punições para quem não cumpra com o estipulado. Para a Nicarágua, isso simplesmente não era suficiente. Além disso, o país acreditava que os Estados mais ricos deviam ser responsabilizados pelas alterações climáticas, uma vez que são eles os principais responsáveis pela atual situação do planeta.
Ao contrário da Nicarágua, a Síria nem sequer chegou a participar na Cimeira do Clima. As razões são claras: o país não era visto com bons olhos pela comunidade internacional. Além disso, as sanções aplicadas tanto por europeus como por norte-americanos, impossibilitavam a deslocação a França de qualquer membro do Governo de Bashar al-Assad, como explica o The Washington Post.
Cimeira do Clima. Alguns pontos principais para um acordo “histórico”
Independentemente dos motivos que levaram os dois países a não assinar o documento da Cimeira do Clima, como lembra o The Washington Post, a verdade é que estes são apenas responsáveis por uma percentagem muito pequena das emissões de gases com efeito de estufa, principalmente quando comparados com as grandes potências, como os Estados Unidos ou a China, que representam cerca de 38% das emissões globais.
Com a saída dos Estados Unidos , este torna-se no terceiro país a não ter a assinatura no Acordo de Paris.