França, Alemanha e Itália emitiram um comunicado conjunto onde afirmam que o Acordo de Paris não pode ser renegociado. “Consideramos irreversível o movimento gerado em Paris, em dezembro de 2015, e acreditamos firmemente que o Acordo de Paris não pode ser renegociado, uma vez que é um instrumento vital para o nosso planeta, sociedades e economias”, refere o documento.
Defendendo que “a implementação do Acordo de Paris oferece oportunidades económicas substanciais para a prosperidade e crescimento dos nossos países a uma escala global”, os três países reafirmaram o seu compromisso em implementar o tratado, que inclui “metas de financiamento climático”, encorajando os seus parceiros “a acelerarem as suas ações para combateram as alterações climáticas”.
“Vamos intensificar os nossos esforços para apoiar os países em desenvolvimento, em particular os mais pobres e vulneráveis, a alcançarem os seus objetivos de mitigação e adaptação”, conclui o comunicado.
O Presidente norte-americano anunciou esta quinta-feira a saída dos Estados Unidos da América do Acordo de Paris, firmado na Cimeira do Clima, em dezembro de 2015. Durante a longa conferência de imprensa, realizada nos jardins da Casa Branca, Trump disse que não podia apoiar um acordo que prejudica o povo norte-americano e que ia renegociar os temos do mesmo.
Macron: é “um erro para os Estados Unidos e para o nosso planeta”
A posição dos três países foi reiterada a título pessoal pelo Presidente francês, Emannuel Macron, que afirmou que não há nada que possa ser negociado. Durante uma conferência de imprensa, Macron revelou ter falado ao telefone durante breves minutos com o seu homólogo norte-americano.
“Respeito esta decisão, mas penso que é um erro para os Estados Unidos e para o nosso planeta”, afirmou o Presidente francês. “Esta noite, quero dizer aos Estados Unidos que a França acredita em vocês. O mundo acredita em vocês”, disse ainda, frisando que França não vai deixar de “lutar” contra o aquecimento global.
Mais tarde, no Twitter, Emmanuel Macron fez uma publicação adaptada do slogan da campanha presidencial de Trump, Make American great again (“vamos tornar a América grande outra vez”). Em vez disso, Macron escreveu: Make our planet great again (“vamos tornar o nosso planeta grande outra vez”).
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) June 1, 2017
Angela Merkel também telefonou a Trump minutos depois do anúncio, lamentando a decisão tomada pelo Presidente norte-americano. De acordo com o porta-voz da chanceler alemã, Steffen Seibert, Merkel garantiu que continuará a trabalhar para “salvar o nosso planeta”.
Chancellor Merkel disappointed w/ Pres. Trump's decision. Now more than ever we will work for global climate policies that save our planet.
— Steffen Seibert (@RegSprecherStS) June 1, 2017
Theresa May também falou com Donald Trump. Segundo a CNN, a primeira-ministra britânica mostrou desapontada com a decisão. Para May, o acordo “fornece o quadro global correto para proteger a prosperidade e segurança das gerações futuras, mantendo a energia acessível e segura para os nossos cidadãos e empresas”.
O ministro da Energia australiano, Josh Frydenberg, também já reagiu ao comunicado de Trump. Em declarações à ABC, Josh Frydenberg mostrou-se dececionado com a decisão tomada pelo Presidente norte-americano. “Ainda acredito que é um acordo importante. Foi assinado por mais de 190 países em tempo recorde e foi retificado por 146. Portanto, mesmo sem os Estados Unidos, cerca de 70% das emissões mundiais estão abrangidas pelo acordo.”
De acordo com a CNN, 50 presidentes de câmara norte-americanos emitiram uma nota em que apelam a Trump que mantenha o Acordo de Paris.
Obama lamenta a administração que “se juntou às nações que rejeitam o futuro”
Barack Obama foi quem assinou o Acordo do Clima de Paris, em 2015, e não ficou indiferente à decisão de Trump. Obama emitiu um comunicado onde relembra que “foi a audaz ambição americana que encorajou dezenas de outras nações”. O antigo presidente dos Estados Unidos lamentou a administração Trump que se junta agora “às nações que rejeitam o futuro”.
No comunicado, Obama mostrou que foi a inovação das empresas e investimento público em indústrias crescentes como as eólicas e solares que contribuíram para o “maior fluxo de aumento de emprego da história [dos Estados Unidos]”. “O Acordo de Paris abriu portas para as empresas, cientistas e engenheiros desencadearem investimentos e inovações de alta tecnologia e de baixa emissão de carbono a uma escala sem precedentes”, pode ler-se no comunicado.
Obama termina o comunicado confiante nos “estados, cidades e empresas” que, acredita, vão “ajudar a proteger as gerações futuras do planeta”.
ONU disposta a dialogar com Donald Trump
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima afirmou, em comunicado, que o Acordo de Paris não pode ser renegociado “com base no pedido” de apenas um país. Apesar disso, o organismo disse estar disposto a “para dialogar com o Governo dos Estados Unidos relativamente às implicações deste anúncio”.
Marcelo defende que Europa deve unir-se
O Presidente da República defendeu que as alterações climáticas são uma evidência que “se vai impor”, mesmo que haja alguém que “se considere importantíssimo no mundo que negue isso”.
“É uma evidência tão óbvia a necessidade de olhar para as alterações climáticas que bem pode haver quem se considere importantíssimo no mundo que negue isso que não altera a realidade. A realidade é o que é. E vai ser o que é, e não para por causa de uma posição isolada, por muito importante que se considere”, declarou.
De visita à ilha das Flores, nos Açores, afirmou ainda que a Europa deve unir-se e “continuar a ser uma campeã desta causa”.
O aquecimento global “é uma questão que nenhum país pode resolver sozinho”
O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, considerou a saída dos Estados Unidos “uma decisão grave”, sublinhando que o aquecimento global “é uma questão que nenhum país pode resolver sozinho”.
Em declarações à Agência Lusa, o ministro defendeu que a decisão de Trump é negativa para os Estados Unidos. “Não existe espaço no mundo, mesmo numa economia de grande dimensão como a americana, para imaginar que essa mesma economia pode crescer baseada no carvão”, afirmou.
Sobre o impacto da desvinculação dos Estados Unidos do Acordo de Paris, o titular português da pasta do Ambiente afirmou: “Quero acreditar que, do ponto de vista da reversão efetiva da redução das emissões poluentes, não venha a ser tão negativa quanto isso”. Para o ministro, “um país e uma democracia como os Estados Unidos da América é muito mais do que a sua administração”.